10 Janeiro 2013
Gian Guido Vecchi, jornalista, analisa a declaração do líder da Sociedade São Pio X, Bernard Fellay, que gerou polêmica ao citar os judeus como "inimigos da igreja". O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 08-01-2013.
Eis o artigo.
“Nós temos muitos inimigos, muitos inimigos. Mas, veja, é muito interessante. Quem, em todo este tempo, foi o mais hostil a que a Igreja reconhecesse a Fraternidade? Os inimigos da Igreja: os judeus, os maçons, os modernistas”. Reenviada e transcrita na Rede, a voz do monsenhor Bernard Fellay, superior dos lefebvrianos, deu a volta ao mundo. Foi seca a condenação do Centro Simon Wiesenthal: “A descrição dos judeus como 'inimigos da Igreja' prova mais uma vez o antissemitismo profundamente enraizado no coração da teologia da Fraternidade”. Nesse meio tempo, no Vaticano, com “consternação”, torna-se público que “naturalmente” uma posição semelhante contra os judeus é “insustentável”, e o padre Frederico Lombardi lista os textos do Concílio, as lições dos Papas, e as palavras e as visitas de Bento XVI às sinagogas de Colônia, Nova Iorque, Roma e Jerusalém.
Por certo as de Fellay são palavras que pesam, enquanto as negociações entre a Santa Sé os seguidores do bispo cismático Lefebvre estão paralisadas. A história arrasta-se desde 2009: o Papa que, como “gesto discreto de misericórdia”, remove a excomunhão dos quatro bispos da Fraternidade, permanente polêmica mundial (ninguém o advertiu que um deles, Richard Williams, é um antissemita que nega o Holocausto: somente há pouco foi expulso da Fraternidade, mas por desobediência), e após três anos de tratativas para recompor o cisma, a Santa Sé oferece-lhes tornarem-se uma “prelazia pessoal” como a Opus Dei. Resultado? Fellay, no verão, explicou: “Com Roma estamos em um beco sem saída, e não podemos assinar”. E a comissão vaticana Ecclesia Dei que, no final de outubro, disse que “são necessárias paciência e confiança”, porque “depois de trinta anos de separação é compreensível que haja uma necessidade de tempo”.
O problema dos lefrebvrianos é sempre o mesmo: o reconhecimento do Concílio e de seus documentos, a começar por Nostra Aetate, que assinalou o ponto de virada da Igreja para com os judeus, não mais “deicidas”. O chefe dos lefrebvrianos, em 28 de dezembro, no Canadá, indicou “judeus, maçons e modernistas” como “os inimigos da igreja”, que remam contra ela: “Pessoas que estão fora da Igreja, e, claramente ao longo dos séculos, têm sido inimigas da Igreja, disse em Roma: se desejais aceitar essa gente, é necessário obrigá-las a aceitar o Concílio”. Fellay é sarcástico: “Não é interessante? Penso que seja fantástico! Porque isso mostra que o Vaticano deve fazê-lo. Deve fazê-lo”.
Os lefebvrianos dos Estados Unidos da América tentaram responder às polêmicas, dizendo que a palavra “inimigo” foi usada por Fellay “no sentido religioso” e “não se referia ao povo judeu, mas aos líderes das organizações judaicas”.
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Lefebvrianos antijudeus, desconcerta o Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU