Cúpula Ibero-Americana. Ausência de Chávez, Kirchner e Raúl Castro representa um fiasco diplomático para os espanhóis

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13 Novembro 2012

Os presidentes Cristina Kirchner, da Argentina, Hugo Chávez, da Venezuela, e Raúl Castro, de Cuba, decidiram não participar da Cúpula Ibero-Americana, na sexta-feira e no sábado, em Cádiz, o que representa um fiasco diplomático para a Espanha.

A reportagem é de Assis Moreira e publicada pelo jornal Valor, 13-11-2012.

Também o atual presidente do Paraguai, Federico Franco, decidiu "voluntariamente" não comparecer, para evitar mais beligerância na cúpula, já que alguns países continuam qualificando de "golpe institucional" a queda do ex-presidente Fernando Lugo.

Para o historiador espanhol Pedro Pérez Herrero, do Real Instituto Elcano, em Madri, "é possível que a reunião dos mandatários se converta numa caixa de ressonância que precisamente amplifique as dissensões e os enfrentamentos".

Em entrevista ao Valor, o secretário-geral permanente da cúpula, Enrique Iglesias, cumpriu seu papel minimizando as ausências. Ele estima que a participação de vice-ministros e ministros confirma o engajamento de todos os 24 países na busca de maior cooperação.

A presidente argentina alega problemas de saúde, mas em círculos diplomáticos em Madri sua ausência é vista como reflexo do conflito que persiste com a Espanha depois que seu governo expropriou a petroleira YPF. A Argentina rompeu depois o acordo fiscal entre os dois países, para desespero das companhias que investem no mercado argentino.

Iglesias disse ter ouvido que Cristina Kirchner telefonaria diretamente ao rei Juan Carlos para desmentir que sua ausência fosse "um ato de protesto".

Apesar da enorme mobilização diplomática do rei, da rainha, dos príncipes e do governo espanhol, o venezuelano Hugo Chávez também estará na lista dos ausentes em Cádiz, como igualmente seu amigo Raúl, o presidente cubano.

Chavez amarga até hoje a afronta feita em 2007 pelo rei Juan Carlos, que, na cúpula do Chile, virou-se para ele visivelmente irritado e disparou o famoso "por qué no te callas?" ("por que não se cala?").

O historiador Herrero escreve que a frase de 2007, antes da atual crise europeia, não seria mais aceita em Cádiz de 2012. A recessão econômica na Espanha, o retorno das políticas do Partido Popular, o crescimento econômico das economias da América Latina e a deterioração da imagem do rei da Espanha e de alguns integrantes de sua família fazem com que países da América Latina não aceitem mais a ambição espanhola de protagonismo nas conferências ibero-americanas.

O Brasil se converteu na sexta potência econômica mundial, o PIB per capita do Chile está próximo do da União Europeia, o Peru e outros países têm níveis de crescimento também elevados. Já a Espanha teve que passar o chapéu em busca de ajuda dos parceiros europeus, e Portugal não cessa de empobrecer.

Portugal cortou 25% de sua já magra contribuição para o secretariado da cúpula. A Espanha cortou pela metade o gasto com a cúpula de Madri, em comparação com o evento anterior, realizado em território espanhol.

O próprio discurso de partilha de valores e cooperação está cada vez mais esvaziado. Em 2012, o Partido Popular, agora no poder na Espanha, cortou prestações sociais, incluindo a retirada da cobertura médica para os imigrantes sem regularização, que são, na maioria, da América Latina.

Por outro lado, Iglesias nota que os fluxos migratórios mudaram, agora da Espanha e Portugal para a América Latina, "em dimensões consideráveis". Os espanhóis também constatam que seus investimentos na região foram fundamentais para passar pelo momento crítico atual. O Banco Santander obteve 26% de seu lucro total no Brasil, contra 8% na Espanha.