Para Abramovay, bens produzidos necessitam ter relevância social

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22 Agosto 2012

Há 20 anos, a teoria econômica preconizava que, se cada agente usasse suas competências para satisfazer os consumidores e se houvesse liberdade, sem intervenções do Estado, tudo funcionaria bem. "Esse raciocínio, aceitável num mundo de 3 bilhões de habitantes, não funciona num planeta que logo terá 10 bilhões de pessoas ", diz Ricardo Abramovay, professor titular do Departamento de Economia da FEA e do Instituto de Relações Internacionais da USP.

A reportagem é de Gisele Paulino e publicada no jornal Valor, 21-08-2012.

Abramovay é filósofo, mas muitos o tomam por economista. Ele dedicou-se a entender as razões pelas quais a sociedade atual está produzindo, e as conclusões estão em seu novo livro: "Muito Além da Economia Verde", lançado pela Editora Planeta Sustentável.

Nele, o professor propõe uma economia capaz de criar bens que tenham relevância para a sociedade e para a comunidade. "Isso não significa renunciar à vocação natural que é obter lucro. Mas as empresas terão, de agora em diante, que obter lucro oferecendo produtos com utilidades reais, capazes de propiciar bem-estar para a população", diz ele.

Sob essa lógica, não basta que um produto gere empregos, receitas, impostos, inove e atenda demandas genéricas da sociedade. "É necessário que seja produzido com ecoeficiência. Os impactos que terão na vida das pessoas e nos ecossistemas, sua capacidade de reduzir a pobreza e aumentar o bem-estar das pessoas deverão ser levados em conta", diz. "O crescimento econômico deve acontecer com bens e serviços voltados para preencher demandas sociais, respeitando limites dos ecossistemas."

Segundo Abramovay, depois de duas décadas de queda nos índices, a pobreza voltou a aumentar. Por isso, é necessário que questões éticas sejam colocadas no centro desse debate. Em seu livro, ele cita os números revelados em "Geografia da Fome", obra de Josué de Castro, editada em 1946. Na época, entre dois terços e três quartos da população latino-americana não ingeriam o suficiente para suprir suas necessidades básicas. Esses índices melhoraram. Em 2010, segundo o Global Hunger Index, o número de famintos fica em torno de 5%, da população, mesmo nas regiões do Semiárido e a Zona da Mata do Nordeste brasileiro. Em 1970, a fome atingia 37% da população mundial. Hoje o mundo tem 1 bilhão de famintos.

"A associação entre fome e subdesenvolvimento, no entanto, hoje é questionada", diz Abramovay. Ele lembra que a fome pode ser reduzida em lugares onde outras formas de pobreza como violência, falta de acesso a serviços básicos e à educação muitas vezes foram ampliadas. "De qualquer forma, a redução da fome no mundo é nítida", diz.

Entre 1998 e 2008, a quantidade de pessoas que vivem com menos de US$ 2,75 por dia caiu de 30% da população mundial para 17%. Outro fenômeno é o aumento da classe média. Segundo ele, estima-se que em 2030, metade da população mundial terá renda entre U$ 6.000 e U$ 30.000. Desde o início do século 21, todo ano, aproximadamente 70 milhões de pessoas ingressam nessa faixa de renda. Até 2030, cerca de 3 bilhões de pessoas devem fazer parte de uma nova classe que gasta U$ 10 e U$ 100 diários, consequência da redução da pobreza que leva à massificação de consumo.

O livro traz exemplos de estratégias corporativas bem-sucedidas para a base da pirâmide na Ásia, África e América Latina, como o produto da Danone vendido a R$ 0,18, tênis da Adidas vendido em Bangladesh por R$ 2,20 e cosméticos em miniatura vendidos na Índia por alguns centavos.

Na América Latina, a taxa de pobreza caiu de forma expressiva também devido a fatores como programas de transferência de renda e melhorias nas condições de emprego. No livro, ele destaca o caso brasileiro. A renda per capita das famílias correspondentes aos 10% mais pobres aumentou 120% entre 1993 a 2008.

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