24 Mai 2012
"Os problemas da Europa estão sendo responsáveis por um avanço de grupos de ideologia extremista. Partidos de esquerda ou extrema-esquerda e de extrema-direita – que ressurgem da mesma forma que ocorreu nas décadas de 1920 e 1930 com o nazi-facismo: com a desconfiança – ganham cada vez mais espaço. Mas será que há “adversário” à altura dos homens do Sachs e de outros grandes agentes financeiros que, no momento, comandam o mundo? A armadilha parece muito grande para se fugir...", escreve o coletivo Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo (NIEG).
Eis o artigo.
A editoria de Internacional dos meios de comunicação nas últimas semanas acabou por centrar o foco em dois países europeus. De um lado, a França, cuja eleição confirmou o favoritismo do “socialista” François Hollande sobre Nicolas Sarkozy, presidente até então. Do outro, o “berço da democracia ocidental”, a Grécia, que tenta se reconstruir politicamente para seguir os trâmites do capital financeiro.
Esta análise parte de duas Nações importantíssimas para a manutenção, ou não, da Zona do Euro. Comecemos a tratar da França, um dos países mais ricos da Europa e, até então, parceiro inestimável da Alemanha, junto ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, na defesa do arrocho nos países europeus de forma que os bancos percam o mínimo possível.
A eleição de Hollande sobre Sarkozy significa uma preocupação para a “banca”, por mais que os socialistas europeus estejam mais para social-democratas – como provam os ex-governos de Portugal e Espanha, que abriram caminho para as decisões da “troika” (UE, BM e FMI) antes de abandonarem o barco.
Só que uma das primeiras atividades do presidente eleito foi uma reunião com Angela Merkel, chanceler da Alemanha. A segunda foi diminuir em 30% os salários dos integrantes do primeiro escalão do governo. Teria sido um sinal de que todas as classes devem pagar a conta dos bancos, não só a base da pirâmide social, um “até nós diminuímos os nossos salários, por que vocês, trabalhadores e estudantes, não podem cortar ainda mais os seus direitos e salários?”.
O caso grego é ainda mais grave, e merece mais linhas. Trata-se de um país que, de fato, não pode cumprir com as suas “obrigações” e pode ser o primeiro vagão a puxar um trem com possíveis calotes na dívida, o que traria, finalmente, prejuízos a grandes bancos.
Num só dia na semana passada, foram sacados cerca de 700 milhões de euros e, no total, já teriam passado de 30 bilhões de euros a quantidade retirada por pessoas que, com medo de o governo decretar moratória da dívida e, consequentemente, a saída da Zona do Euro, percam dinheiro na reconversão. A questão é que, por jogar com o dinheiro das poupanças e demais investimentos da população, não há banco no mundo que possua dinheiro suficiente em “cash” suficiente caso todos saquem num curto período de tempo.
O “desespero” que toma conta dos políticos locais deveria ter sido imaginado quando toparam pagar pela consultoria de um dos maiores bancos de investimento do mundo para que o país conseguisse os resultados financeiros necessários para estar apto a adentrar na Zona do Euro. Os números foram maquiados para que o ideal de estabilidade na região fosse atingido. Porém, com o boom imobiliário nos Estados Unidos houve um efeito dominó, espalhando títulos podres no mercado, constituídos por pacotes de ações que alavancavam os valores das casas penhoradas juntos a várias coisas diferentes, com algumas delas sem condições de serem negociadas por não ter fundos completos para tal.
O Goldman Sachs trabalhou para o governo grego e, ao mesmo tempo, acabou sendo um dos maiores beneficiados com a “farsa com o nome de crise”, já que pôde adquirir concorrentes e diminuir a disputa no mercado, que passou a ter menos personagens. O caso grego é só mais um deles. Enquanto incentivava os seus clientes a apostar numa direção, comprando os pacotes podres, o Goldman, assim como outros agentes do capital financeiro, apostou muito mais que o sistema quebraria, inclusive jogando contra a dívida da cliente Grécia. Algo que de fato ocorreu.
O governo grego sinalizou com a possibilidade de um plebiscito sobre o calote na dívida construída de forma irregular. Mal conseguiu passar disso por conta da forte pressão dos bancos, a maioria com base na mesma Alemanha que o ameaça e que acaba sendo o destino dos recursos retirados dos bancos gregos.
As relações de poder se cruzam, com os principais cargos ficando com representantes dos personagens que trabalharam nos agentes financeiros, caso de Mário Draghi, atual presidente do Banco Central Europeu e que foi vice-presidente do Goldman Sachs de 2002 a 2005. Ou seja, o mesmo Banco Central Europeu que na semana passada deixou de oferecer liquidez financeira a alguns bancos gregos, em meio a uma grande quantidade de saques da população, é presidido por alguém que já teve alto cargo de direção no mesmo banco responsável pelos problemas atuais da Grécia.
A situação política ficou tão grave que o Parlamento eleito no dia 06 de maio, com forte divisão entre sete correntes políticas, será dissolvido para convocar novas eleições no dia 17 de junho, já que três líderes de partidos não conseguiram consenso para formar uma coalizão que governasse o país. A Coalizão de Esquerda Radical (Syriza) seria o grande empecilho para isso, por discordar das medidas de austeridade; além de ser o maior favorito para vencer o pleito do mês que vem.
Os problemas da Europa estão sendo responsáveis por um avanço de grupos de ideologia extremista. Partidos de esquerda ou extrema-esquerda e de extrema-direita – que ressurgem da mesma forma que ocorreu nas décadas de 1920 e 1930 com o nazi-facismo: com a desconfiança – ganham cada vez mais espaço. Mas será que há “adversário” à altura dos homens do Sachs e de outros grandes agentes financeiros que, no momento, comandam o mundo? A armadilha parece muito grande para se fugir...
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França, Grécia e a “grande armadilha” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU