O coronelismo do clã Coelho

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15 Janeiro 2012

Em Petrolina, maior cidade do sertão pernambucano, há um parque que se chama Josefa Coelho. Também tem um bairro com o nome de Gercino Coelho e uma escola de segundo grau, a Clementino Coelho. O aeroporto foi batizado de Senador Nilo Coelho, mesmo nome da Orquestra de Câmara e Coro de lá.

A reportagem é de Julia Duailibi e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 15-01-2012.

O estádio municipal, palco dos jogos do Petrolina e do 1.º de Maio, chama-se Paulo Coelho, mas não guarda nenhuma relação com o escritor brasileiro.

O Paulo Coelho de Petrolina é Paulo de Souza Coelho, pai do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra de Souza Coelho, que, assim como foram Josefa, Gercino, Clementino e Nilo, é integrante de uma das oligarquias políticas mais longevas do Nordeste, a dos Coelho.

O ministro e seu irmão Clementino de Souza Coelho, que até a semana passada era presidente interino e diretor da Área de Desenvolvimento Integrado e Infraestrutura da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), são da família que administra por quase 50 anos ininterruptos a cidade de 300 mil habitantes, considerada a principal economia do interior de Pernambuco e importante polo exportador de frutas.

Os dois são filhos de Paulo de Souza Coelho e netos de Clementino Coelho, conhecido como Coronel Quelê, figura lendária do sertão nordestino que criou 17 filhos e um império econômico que hoje abrange fazendas, indústrias e meios de comunicação pelo Nordeste.

Considerado um dos responsáveis pela industrialização de Petrolina, o Coronel Quelê inspirou livros - Coronel Quelê, Adversidade e Bonança, de José Américo de Lima, e Quelê, o Gigante do São Francisco, de José Nivaldo Júnior - e até tese de doutorado, como As práticas do coronelismo: estudo de caso sobre o domínio político dos Coelho em Petrolina, de José Morais de Souza, da Universidade Federal de Pernambuco.

Política

Assim como outras oligarquias brasileiras, a família Coelho migrou dos negócios para a vida pública. Logo se alinhou ao regime militar.

O primeiro a entrar na política foi Nilo Coelho, um dos filhos do Coronel Quelê e, portanto, tio do ministro da Integração Nacional. Ele foi deputado estadual, nomeado governador biônico de Pernambuco pelo regime militar e eleito senador. Chegou a presidir o Senado em 1983.

Outros tios de Fernando Bezerra também seguiram a carreira política e viraram parlamentares, como Oswaldo Coelho (DEM), ex-deputado federal. O ministro, no entanto, rompeu com a corrente política da família que, com a redemocratização, passou a integrar o antigo PFL. Flertou com a esquerda ao se aproximar do socialista Miguel Arraes, que em 1986 se elegeu governador de Pernambuco.

Foi prefeito de Petrolina três vezes, passando pelo PMDB, PPS e pelo atual PSB.

Fernando Bezerra é hoje um dos principais aliados do governador Eduardo Campos, neto de Arraes, responsável por sua indicação para o cargo. É uma carta na manga do governador para, inclusive, disputar a Prefeitura de Recife nas eleições deste ano.

O Estado revelou há dez dias que o ministro destinou para Pernambuco, sua base eleitoral, 90% das verbas de prevenção e preparação de desastres naturais, como enchentes e desmoronamentos.

Família

Outros descendentes do Coronel Quelê passaram também por prefeituras, Assembleias e Câmara dos Deputados. O ministro conseguiu eleger o filho, Fernando Coelho Filho, deputado federal. Ele é cotado para disputar a Prefeitura de Petrolina.

Desde que assumiu o Ministério da Integração Nacional, em janeiro do ano passado, Fernando Bezerra indicou integrantes da família para exercer funções em órgãos ligados à sua pasta. Há quatro meses, Osvaldo Coelho, por exemplo, foi nomeado pelo sobrinho membro do comitê técnico-consultivo para o desenvolvimento da agricultura irrigada, criado dias antes por portaria do ministério.

Bezerra também foi acusado de burlar decreto antinepotismo na administração pública ao manter o irmão como presidente interino da Codevasf por quase um ano.

O Estado mostrou ainda que primos de primeiro grau do ministro, todos com o sobrenome Coelho, receberam do ministério cerca de R$ 1 milhão pela desapropriação de terras na Bahia em 2011.

Há um ditado popular do século XIX que diz: "Quem viver em Pernambuco, não se faça de rogado, ou há de ser Cavalcanti, ou há de ser cavalgado". Mais de século depois, os versos poderiam ser reeditados, mas em referência a outra família. A Coelho, de Petrolina.

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