29 Outubro 2011
"Estou em frente à Basílica de Assis. Invade-me uma alegria extática em ver este lugar, assim como fiquei muito tocada ao falar com personalidades religiosas de todo o mundo. Acima de tudo, fiquei fascinada com o discurso do Papa".
A opinião é de Lorenzo Fazzini, publicada no jornal dos bispos italianos, Avvenire, 28-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Psicanalista, filósofa, escritora, Julia Kristeva é uma autoridade intelectual da estatura mundial. Foi ela, na manhã desta quinta-feira, 27, que falou em nome dos "não crentes" convidados pela primeira vez por um pontífice à peregrinação pela paz em Assis.
"Tenho duas impressões dessa jornada – explica ela –: uma de caráter antropológica, ou seja, a ideia, estando no meio dessa diversidade religiosa, da busca de sentido pelo homem. A humanidade, desde os primórdios do tempo, busca um sentido: o convite que eu recebi do papa foi, de fato, o de participar do testemunho dessa busca. Para refundar o humanismo, portanto, é decisivo nos conhecermos, homens e mulheres religiosos e não religiosas, e reencontrarmo-nos juntos na busca comum".
E a segunda impressão?
Fiquei estupefata e fascinada com o discurso do papa. O pontífice é um filósofo que busca a verdade, que investiga verdades novas. Ele disse palavras fundamentais com relação à situação atual do mundo. Ele reiterou que a violência é incompatível com a religião e, ao mesmo tempo, advertiu contra todo fundamentalismo. No espaço entre essas duas afirmações, situa-se justamente o âmbito da busca da paz por parte de quem crê e de quem não crê.
Portanto, que herança essa peregrinação deixa para a paz?
Não me permito dar conselhos. Mas a crise financeira que estamos enfrentando na Europa causará maior pobreza e novas formas de exclusão. Tudo isso representa um novo desafio para quem crê e para quem não tem uma fé religiosa: devem ser encontradas respostas para uma situação inédita. Além disso, sugiro que combatamos juntos contra o risco do fundamentalismo no mundo islâmico, que se manifesta, por exemplo, na opressão contra a mulher.
É necessário lutar contra o integralismo, que desfigura a mulher, por exemplo com o retorno à poligamia que se perfila nos Estados do Norte da África, protagonistas da "primavera árabe". Também devemos combater, juntos, a perseguição dos cristãos nos países muçulmanos: essas são as batalhas que crentes e não crentes podem levar à frente lado a lado. Então, a busca comum se manifesta como uma aliança pela paz. Estou me comprometendo pessoalmente com isso.
De que modo?
Eu estou tentando obter, com apelos públicos, a libertação de uma psicanalista síria presa no seu país, Rafah Nached. Falei dela também com alguns chefes religiosos presentes aqui em Assis.
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"Todos comprometidos com a busca de sentido". Entrevista com Julia Kristeva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU