02 Abril 2011
"Há uma espera consciente das dificuldades, das polarizações, dos problemas", comenta Jaime Aguilar, coordenador da Comunidade de São Egídio de El Salvador – organização que se empenha pela beatificação do Dom Oscar Arnulfo Romero – em entrevista ao blog Sacro & Profano de Andrés Beltramo Alvarez, 28-03-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Há muita expectativa com a beatificação de Dom Oscar Arnulfo Romero, você sabe em que situação se encontra nesse momento?
A nossa comunidade de São Egidio tem trabalhado para que a figura de monsenhor Romero não seja uma figura odiada pelas novas gerações, mas sim que permaneça viva, sobretudo, entre os pobres. São os pobres que mais se lembram dele, mas a própria Igreja tem uma memória muito bonita de monsenhor Romero. O processo de beatificação continua, o Papa Bento XVI disse quando viajava para Aparecida.
Ninguém colocou em dúvida a qualidade humana de monsenhor Romero, mas alguns aspectos de suas mensagens têm sido associadas a personagens que a Igreja condenou, ligadas à teologia da libertação. O Papa disse que o processo avança, mas que tudo deve ser colocado às claras, vocês estão de acordo com isso?
A verdade é que a sociedade está muito dividida no meu país. Estamos esperando, para nós Monsenhor Romero é a figura de um pastor, tanto que ligamos muito a sua memória com a de São Egidio, a memória de alguém que amava os pobres, uma memória que dava voz àqueles que não a tinham. No 30º aniversário de sua morte, fizemos uma oração e convidamos muitas pessoas, vítimas do terremoto, do furacão, moradores de rua e pobres, pessoas que temos ajudado e não houve uma única resposta negativa, o salão ficou cheio e também os arredores, justamente porque existe uma consciência nas pessoas que Romero sempre apoiou a tantos em seus momentos difícieis. Há muitas situações, entretanto, ainda pendentes, e os que estão conduzindo a causa da betificação estão trabalhando duro.
Um dos pontos conflitivos diz respeito a alguns discursos de Romero que teriam sido escritos por pessoas como Jon Sobrino e isso cria dificuldades (serem sancionada pela Congregação para a Doutrina da Fé). Vocês estão conscientes disto?
Estamos. Eu sabia que todos os discursos do Arcebispo Romero foram revisados pela Congregação para as Causas dos Santos, parece que não houve grandes questões. Mas, digamos que haverá sim problemas, mas eu não sei exatamente qual será o fundo, quais serão os pontos.
Você sabe se essa relação com Sobrino poderá ter uma influência?
Sim, isso não é indiferente, mas eu acredito que no final vai prevalecer a figura de Dom Romero como um mártir, que morreu no altar no momento da consagração. Foi também um pouco por perseguição contra a igreja. Há uma espera consciente das dificuldades, das polarizações, dos problemas, mas há uma memória muito bonita.
O tempo pode ser o melhor aliado?
Eu acredito que o tempo, pouco a pouco, vai colocar as coisas no lugar. Para muitos salvadorenhos, Romero já é um exemplo, mas nós queremos verdadeiramente esperar o parecer do Vaticano. Não é que exista um culto público nos altares nesse momento, há uma fama de santidade, que revela uma maneira de viver que responde aos mais pobres.
Uma das preocupações do Vaticano é que o processo avançando sem esclarecer todas as questões pendentes, a figura de Romero possa ser usada ideologicamente. Vocês preferem esperar?
Isso pode ter acontecido um pouco com a esquerda que o tomavam num sentido ou outro. Quando João Paulo II chegou a El Salvador e não estava prevista a visita ( ao túmulo de Romero), ele disse que queria ir e mudaram todos os planos. Correram abrir as portas da Catedral. O papa entrou e orou. João Paulo II, que o havia conhecido bem em diversas situações disse: "Monsenhor Romero é nosso". Essas palavras do Papa nós as fazemos nossas. Todos devemos dizer isso porque diz respeito a uma situação difícil num país marcado pela violência e com a sua morte acabou-se toda a possibilidade de diálogo, de paz. A esquerda afirmava que Romero era deles, mas, em seguida, o questionava porque ele falava com a direita, a direita disse que Romero era seu, mas o questionava porque ele falava com a esquerda. Esperamos que tudo termine bem [beatificação] e nos altares porque essa é nossa verdadeira esperança.
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Beatificação de Romero: Uma espera consciente das dificuldades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU