Igreja Católica latino-americana ainda mantém seu poder sobre a sociedade. Entrevista com Jean-Pierre Bastian

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17 Outubro 2017

Apesar do crescimento de evangélicos e pentecostais na América Latina, a Igreja Católica não está necessariamente em declínio, de acordo com o sociólogo Jean-Pierre Bastian.

A reportagem é de Samuel Lieven, publicada por La Croix International, 16-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Jean-Pierre Bastian, professor de sociologia da religião na Faculdade de Teologia Protestante de Estrasburgo, acredita que as mudanças religiosas na América Latina e o avanço dos evangélicos não implicam necessariamente em um declínio do catolicismo no continente.

Eis a entrevista.

A América Latina está em processo de se tornar evangélica?

Os evangélicos, particularmente os pentecostais, fizeram grandes progressos nessa parte do mundo ao longo das últimas duas décadas. Em termos de porcentagem da população, eles cresceram de 10% no fim dos anos 1990 para mais de 15% em 2010, incluindo picos de quase 30% no Brasil e na Guatemala. Essencialmente, essas Igrejas prosperaram na pobreza e na marginalização social. Portanto, não há razão para que elas entrem em estagnação em breve. Nesse ritmo, os pentecostais, que são extremamente fragmentados, serão, sem dúvida, a maioria até o fim deste século. No entanto, a sociedade latino-americana não está em processo de abandonar a Igreja Católica. A Igreja Católica continua sendo o elemento mais estruturante.

Mesmo assim, os pentecostais têm algumas posições poderosas, particularmente no Brasil...

Depois do fim da Guerra Fria, da transição democrática e da abertura da economia mundial, esses movimentos decolaram. Inicialmente, eles se apropriaram da mídia, incluindo televisão e rádio. No Brasil, a Igreja Universal do Reino de Deus é dona da TV Record, uma das maiores redes do país, com audiências que são quase tão altas quanto as da TV Globo. As práticas religiosas populares, incluindo curas, exorcismos etc., também ajudaram a garantir que os pentecostais tenham um grande público e pressionem os católicos a seguirem os seus passos. Finalmente, a sua influência política cresceu continuamente com a aparição de partidos evangélicos confessionais em todos esses países.

Que ferramentas a Igreja Católica possui para lidar com esses desdobramentos?

Os anos 1980 e 1990 testemunharam a aparição de padres carismáticos como o Pe. Marcelo Rossi, no Brasil, que procurou imitar os pastores pentecostais. Os canais de televisão católicos se multiplicaram, a liturgia foi pentecostalizada... Mas o resultado não foi muito convincente. À medida que se acostumaram a se mover entre universos que realmente se tornavam mais semelhantes, as pessoas, no fim, optaram por ir aonde o milagre fosse mais impressionante. E os pentecostais sempre serão os vencedores nesse campo, porque os bispos católicos sempre advertiram contra excessos carismáticos entre os fiéis. Assim, a estratégia católica de assimilar as práticas religiosas dos seus rivais acabou sendo uma espada de dois gumes.

No entanto, você não concluiu que haverá um declínio no catolicismo no continente...

Enquanto a Igreja conseguir manter o seu poder sobre a sociedade de cima, ela não terá muito com que se preocupar. As elites econômicas e sociais latino-americanas ainda são católicas e são principalmente educadas em universidades pontifícias. O catolicismo continua sendo a religião dos Estados-nações em toda a região. A Igreja ainda possui os recursos intelectuais, teológicos e culturais para continuar orientando a sociedade. O problema para a Igreja é como ela será capaz de gerir esse legado histórico permanecendo atenta aos mais humildes, que já começaram a virar as costas para ela.

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