47% dos empregos vão desaparecer nos próximos 25 anos, segundo a Universidade de Oxford

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08 Março 2017

A campanha de Trump prometeu trazer empregos de volta para a costa dos EUA, embora a mecanização tenha sido a maior razão para o desaparecimento de empregos na manufatura. Perdas semelhantes levaram a movimentos populistas em vários outros países. Mas em vez de um futuro de crescimento pró-emprego, economistas de todo o mundo preveem novas perdas com o advento da IA, da robótica e outras tecnologias. O que está em debate é a rapidez com que isto deve ocorrer.

A reportagem é de Philip Perry, publicada por Big Think, 27 -12- 2016 . A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Um especialista da Wharton School, da Faculdade de Administração da Universidade da Pensilvânia está alertando para isso. De acordo com Art Bilger, investidor de risco e membro da direção da faculdade, todos os países desenvolvidos do planeta verão taxas de desemprego de até 47% nos próximos 25 anos, de acordo com um estudo recente da Universidade de Oxford. "Nenhum governo está preparado", segundo reporta o The Economist. A perda inclui empregos de operários e de colarinhos brancos. Até agora, está restrita a empregos de operários, particularmente na indústria de manufatura.

Para combater o "desemprego estrutural" e o golpe terrível com que ele obriga o povo estadunidense a lidar, Bilger formou uma organização sem fins lucrativos chamada Working Nation, com a missão de alertar as pessoas e ajudá-las a traçar planos para protegê-las desta tendência preocupante. Não somente todo o conceito de emprego está prestes a mudar de forma dramática, como a tendência é irreversível. O investidor de risco convidou corporações, universidades, governo e organizações sem fins lucrativos a cooperar na modernização de nossa força de trabalho.

Para ser claro, a mecanização sempre nos custou empregos. O tear mecânico, por exemplo, tirou tecelões do mercado. Mas também criou empregos. Mecânicos tinham de manter as máquinas funcionando, maquinistas tinham de produzir suas peças e os trabalhadores tinham de operá-las, e assim por diante. Muitas vezes pessoas de uma profissão podiam migrar para outra. No início do século XX, por exemplo, os automóveis estavam tirando ferreiros do mercado. Quem ainda precisava de ferraduras? Mas eles logo se tornaram mecânicos. E quem melhor para isso?

Não é assim com esta nova tendência. O desemprego hoje é significativo na maioria dos países desenvolvidos e só vai piorar. Até 2034, a apenas algumas décadas, empregos de nível médio estarão em grande parte obsoletos. Até agora, só o 1% mais rico teve benefícios. Esta revolução tecnológica deverá eliminar o que parece ser toda a classe média. Não somente os computadores serão capazes de executar tarefas de forma mais barata do que as pessoas, mas também serão mais eficientes.

Contadores, médicos, advogados, professores, burocratas e analistas financeiros, cuidado: seus empregos não estão garantidos. De acordo com o The Economist, computadores serão capazes de analisar e comparar dados e tomar decisões financeiras ou médicas. Haverá menos chance de fraude ou de erros de diagnóstico e o processo será mais eficiente. Não apenas estas pessoas terão dificuldades, como esta tendência poderá congelar os salários dos que continuarem empregados, enquanto as diferenças de renda só aumentarão. É possível imaginar o que isso vai causar à política e à estabilidade social.

A mecanização e a informatização não têm como parar. Não se pode colocar o gênio de volta na garrafa. E todos devem acabar tendo-o no final. A ideia é esta: outros países usariam essas tecnologias para obter uma vantagem competitiva e, portanto, teríamos de adotá-las. Novas startups de tecnologia e outros negócios podem acabar absorvendo aqueles que estão deslocados. Mas o ritmo certamente deve ser muito lento para evitar uma grande catástrofe.

De acordo com Bilger, o problema já se arrasta por bastante tempo. Basta considerar a longevidade de que desfrutamos hoje em dia e o sistema de ensino falido dos EUA e o problema está lá. Uma solução proposta é a distribuição de uma renda básica universal pelo governo, uma espécie de base recebida para a sobrevivência. Depois disso, os programas de reeducação podem ajudar as pessoas a buscar novas rumos. Outros começariam empresas ou participariam de negócios criativos. Poderia até ser um período de florescimento da humanidade, quando, em vez de perseguir o todo-poderoso dinheiro, as pessoas seriam capazes de buscar as suas verdadeiras paixões.

Em um recente programa de rádio, Bilger falou sobre reequipar o sistema de ensino em sua totalidade, inclusive adicionando aulas que certamente se traduzam nas habilidades profissionais necessárias para os trabalhos disponíveis. Ele também discutiu a necessidade de treinar os trabalhadores de meia-idade, para que possam participar da economia, em vez de serem deixados para trás. Bilger disse que "estão sendo desenvolvidos projetos para isso". Apesar de admitir que muitos trabalhadores de meia-idade resistem a retornar à sala de aula, o que é necessário, segundo Bilger. Além do mais, eles estão procurando formas de tornar a experiência de sala de aula mais dinâmica, como o uso de realidade aumentada para fins de reciclagem, bem como a reinvenção da educação infantil. Mas esses planos ainda estão em fase inicial.

Amplos estágios e programas de aprendizagem também estão em pauta. Hoje, o problema, como afirmam alguns, não é a falta de empregos suficientes, mas a falta de trabalhadores qualificados para preencher as vagas disponíveis. Bilger parece pensar que este problema só vai se agravar.

Mas será que quem ganha a vida dirigindo, digamos, caminhoneiros que percorrem longas distâncias e motoristas de táxi, irá realmente encontrar lugar na nova economia com reciclagem quando se generalizarem os veículos autodirigíveis? Ninguém sabe. Como qualquer grande mudança na sociedade, alguns podem ganhar e outros podem perder. Este ponto de mudança contém as sementes para uma utopia pragmática ou transformação social completa, mas pode ficar em um meio termo.

Bilger terminou a entrevista dizendo: "como seria a nossa sociedade com 25%, 30% ou 35% de desemprego?... Eu não sei como isso se sustenta, mas mesmo que se sustente, há ainda a questão de o que as pessoas fazem consigo mesmas? Ter um propósito de vida é, penso eu, uma parte importante da estabilidade de uma sociedade."

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