Amazonas chama atenção pelo aumento da taxa de desmatamento

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10 Dezembro 2016

Avanço desenfreado da devastação nos últimos dois anos muda ‘imagem verde’ do Amazonas.

A reportagem é de Silane Souza, publicada por A Crítica, 08-12-2016.

Considerado um Estado modelo na conservação da floresta, há dois anos o Amazonas vem chamando a atenção justamente pelo contrário: o aumento da taxa de desmatamento. De 2014 para 2015, o crescimento foi de 42%, e de 2015 para 2016, de 54%. Os números são preocupantes e, para especialistas ouvidos por A CRÍTICA, mostram que, sem controle, a destruição da floresta amazônica avança cada vez mais sobre áreas que deveriam ser preservadas.

Para a representante da campanha Amazônia do Greenpeace, Cristiane Mazzetti, os dados sobre o desmatamento no Amazonas impressionam bastante e colocam em risco sua fama de Estado conservador da floresta. “É como se o ‘arco do desmatamento’ tivesse avançado sobre o Sul do Amazonas”, lembrou. Ela destacou que, entre os fatores que contribuíram com o aumento desse desmatamento na região, está a reforma administrativa feita pelo Governo do Estado em 2015.

“Secretarias foram fechadas e o orçamento reduzido, certamente isso tem impacto na conservação da floresta”, disse. Outro fator importante apontado por Cristiane foi a aprovação do novo Código Florestal, em 2012, que anistiou os responsáveis por executar atividade de desmatamento até o ano de 2008. “Muitas dessas pessoas que tiveram a anistia de suas multas continuam no campo, quem garante que isso não ocorra novamente e eles não seja punidos?”, questionou.

Para o líder de Florestas do WWF-Brasil, Marco Lentini, a taxa de desmatamento no Amazonas é ‘super alarmante’. “O Estado, desde 2004, não tinha acima de mil quilômetros quadrados desmatados, mas este ano, o desmatamento atingiu mais de mil quilômetros quadrados. Isso nos preocupa porque o desmatamento é ligado à cadeia ilegal. Não estamos trocando a floresta por desenvolvimento social e econômico. Não são gerados emprego nem economia permanente”, alertou.

Lentini ressaltou que a Amazônia teve um momento histórico do desmatamento até a década passada. Conforme ele, em 2004 foram quase 28 mil quilômetros quadrados desmatados, mas essa taxa baixou significamente de lá pra cá, e chegou até a 4 mil quilômetros quadrados. “A gente conseguiu historicamente baixar em 80% o desmatamento desde 2004. Entretanto, desde 2012, há sinal de aumento dessa taxa, que agora pulou para 8 mil quilômetros quadrados”.

Para ele, isso mostra que não estamos tendo controle sobre o desmatamento. “Apesar dos avanços que tivemos, o Brasil se descuidou e não consegue zerar o desmatamento. Não só consegue zerar, como mostra que ele pode voltar com toda força”, avaliou.

Liderança vergonhosa

O Amazonas foi o Estado da Amazônia Legal que teve o maior crescimento de desmatamento entre agosto do ano passado a julho deste ano na comparação com o período anterior. Foram 1.099 quilômetros quadrados, conforme o Prodes 2016. No entanto, os Estados que mais desmataram a floresta continuaram sendo o Pará (com 3.025 km²), Mato Grosso (1.508) e Rondônia (1.394), segundo levantamento divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no fim do mês de novembro.

Frase: Cristiane Mazzetti, representante da campanha Amazônia do Greenpeace

“O aumento consecutivo da taxa de desmatamento na Amazônia representa um retrocesso quanto à meta que o próprio País estabeleceu na COP21 para reduzir as emissões de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global”.

Frase: Marco Lentini, líder de Florestas do WWF-Brasil.?

“O Brasil tem um compromisso climático importante, mas, neste momento, está se afastando de sua meta. Se fizermos um balanço, agora ele está mais longe para cumprir esse compromisso do que quando se comprometeu”.

Engajamento e ‘vontade política’ para conter devastação

Diminuir o desmatamento na Amazônia parece ser uma tarefa cada vez mais difícil. Mas não é, de acordo com especialistas. A representante da campanha Amazônia do Greenpeace, Cristiane Mazzetti, enumerou três passos importantes que o poder público deve tomar para frear o desmatamento na maior floresta do planeta. São eles: assumir compromisso robusto, não tolerar destruição e juntar medidas estruturantes.

“O governo precisa se comprometer com desmatamento zero pensando em manter o aquecimento global. Precisa também mudar de direção e corrigir erros do passado, não tolerar o desmatamento, como fez com o Código Florestal, e tomar outras medidas como retomar a criação de Áreas de Conservação em terras indígenas. Áreas protegidas são importantes para conter o desmatamento. O Plano para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm) precisa ter retorno em termo de mudança representativa”, ponderou.

O líder de Florestas do WWF-Brasil, Marco Lentini, também destacou três pontos importantes. “Trabalhar a questão do monitoramento para ser capaz de ver o que está acontecendo e aumentar as ações concentradas: monitorar, controlar e fiscalizar; fazer o ordenamento território. O CAR (Cadastro Ambiental Rural) é uma forma de fazer isso. O WWF não é contra atividades de pecuária, agricultura, é possível conciliar o agronegócio com a conservação da floresta; fomentar de fato uma econômica verde. Ser capaz de usar a floresta para se desenvolver economicamente”, analisou.

Personagem: Antônio Stroski, secretário estadual de Meio Ambiente

Para o secretário estadual de Meio Ambiente, Antônio Stroski, o aumento do desmatamento no Amazonas este ano era esperado de certa forma, em razão, especialmente, da crise econômica que o País enfrenta, mas não deixa de ser preocupante. “Vamos trabalhar duro para diminuir o desmatamento no Estado, a partir de 2017”, garantiu.

O secretário disse que vem traçando parcerias, inclusive, com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para aumentar as ações de fiscalização e controle da degradação da floresta amazônica, principalmente no Sul do Estado, região que sofre com a exploração ilegal de madeira. “O município de Lábrea, especialmente, vem sofrendo grande pressão nos últimos dois anos”.

Segundo ele, outras medidas estão em andamento e planejamento para atingir a meta de reduzir o desmatamento, que este ano chegou a 1.099 km², para 350 km² até 2020, “Tem a lei da floresta que está na Casa Civil. Temos um projeto para liberação de R$ 33 milhões para o CAR e vamos aumentar a presença do Estado, com unidades em Boca do Acre, Apuí, Humaitá e Parintins”.

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