Dezoito políticos têm 50 mil cabeças de gado no Arco do Desmatamento

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18 Setembro 2016

Um entre cada quatro candidatos nos municípios que mais desmatam é pecuarista; setor tem sido o principal responsável, nas últimas décadas, pelo desmatamento na Amazônia; conheça alguns “reis do gado” na região.

A reportagem é de Alceu Castilho e publicada por De Olho nos Ruralistas, 17-09-2016.

Nos 52 municípios que mais desmatam no Brasil, os pecuaristas são os principais candidatos à prefeitura. Entre os 308 postulantes aos cargos de prefeito e vice-prefeito, nada menos que 68 são produtores de gado – na região onde a pecuária é a principal vilã da destruição da Amazônia. Entre eles, há um grupo seleto de 18 candidatos que possuem 50 mil cabeças de gado. Eles as declararam por R$ 55 milhões. A maioria deles tenta ser prefeito. Sete são do PMDB. Vejamos:


João Cleber de Sousa Torres (PMDB) já foi mencionado algumas vezes nesta série de reportagens (O Arco Político do Desmatamento), baseada no levantamento de dados declarados pelos políticos à Justiça Eleitoral. É uma das pessoas mais temidas da região. Ele tenta a reeleição num município marcado pela ilegalidade fundiária. E que tem o maior rebanho bovino do país, com 2,2 milhões de cabeças. Ou seja, somente o prefeito, candidato à reeleição, tem quase 1% desse total.

O segundo rebanho do Pará é o de Novo Repartimento. Um dos que tentam chegar à prefeitura, como vice-prefeito, é Alexandre Guimarães, do PV, partido da atual prefeita. Um integrante do Partido Verde no olho do furacão do desmatamento? Sim. Advogado de assentados do Incra, ele declarou possuir R$ 6 milhões em bens. Há dois anos, candidato a deputado estadual, seu patrimônio era bem mais modesto: R$ 825 mil. Em 2014 ele não tinha nenhuma cabeça de gado. Agora tem quase 3 mil.

Em Boca do Acre (AM), o prefeito Iran Lima (PSD) tenta a reeleição. Há quatro anos, possuía apenas R$ 6 mil. Agora, R$ 1 milhão, principalmente por causa de suas 624 vacas – de onde vieram 77 bezerras e 80 bezerros “da parição de 2010”. Esteve preso, em 2014, acusado de desviar dinheiro do Fundeb para pagar a própria empregada doméstica – lotada fantasmagoricamente numa escola rural do município. Ele também foi acusado de comprar votos com cestas básicas, “madeira, seixo e areia”.

Iraildes Silva (PMDB), a Iraildes Calisto, pecuarista em Vila Rica (MT), já foi primeira-dama do município, durante a gestão de Geftany Calisto (PMDB). Ele já foi denunciado por fraudes na licitação de cercas elétricas em assentamento rural, com verbas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Em Alto Boa Vista, ainda no Mato Grosso, as 800 cabeças de gado declaradas por Wanderley Perin (PR) estão distribuídas em duas áreas de 1.337 hectares definidas como “direito de posse”.

O tucano Milton Amorim, o Miltinho, é madeireiro e candidato em Colniza (MT), “o município que mais desmata no Brasil“. Mas a lista dos reis do gado na Amazônia desmatada tem também um petista, Teofilo Scariot, candidato a vice-prefeito de Confresa (MT), e uma candidata a prefeita pelo PCdoB, Simone Serafim, a Simone Limeira. Ela é de Grajaú, no Maranhão, onde assessorava o governador Flávio Dino, de seu partido. Foi afastada, no ano passado, após o líder indígena Uirauchene Alves Soares acusá-la de cobrar propina.

OUTROS PECUARISTAS

A lista de candidatos pecuaristas no Arco do Desmatamento não se esgota nos 41 candidatos que declararam possui alguma cabeça de gado. Pois vários outros simplesmente não declararam nenhuma rês, embora se apresentem como produtores agropecuários ou pecuaristas. Em alguns casos o gado está embutido na empresa do candidato, como no caso do multimilionário Carlos Capeletti (PSD), que tenta voltar à prefeitura de Tapurah (MT). Em outros casos, não – pois nem há empresa declarada.

É o caso, por exemplo, de Edgar do Boi (PSDC), candidato a vice-prefeito em Porto Velho. E de outros 25 candidatos. Isto pelo que foi possível identificar. Outras dezenas de políticos que tentam alguma prefeitura no Arco do Desmatamento também declararam terras, que tanto podem estar sendo utilizadas para a pecuária como para outras culturas – ou para os dois. O levantamento feito aponta um número mínimo de políticos pecuaristas que tentam ser eleitos, em 2016, na região. O mais provável é que existam algumas outras dezenas – fora os vereadores. E fora os outros 250 municípios que compõem esse arco da destruição.

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