Cristãos especialistas em ética: racismo e supremacia branca são "um problema cristão"

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21 Agosto 2017

Em 1934, um grupo de cristãos na Alemanha nazista assinou a "Declaração de Barmen", se opondo à ideologia nazista e considerando-a contrária ao Evangelho. Oitenta anos depois, os cristãos dos Estados Unidos sentem a necessidade de fazer o mesmo.

O comentário é de Heidi Schlumpf, publicado por National Catholic Reporter, 17-08-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Mais de 400 especialistas em ética cristãos e outros teólogos assinaram o documento "A Statement from Christian Ethicists Without Borders on White Supremacy and Racism", uma declaração do grupo de especialistas em ética cristãos sem fronteiras sobre supremacia branca e racismo. Organizada por quatro professores de ética e datada de 14 de agosto, a declaração considera a "ideologia racista, antissemita, antimuçulmana e neonazista como um pecado contra Deus que divide a família humana criada à imagem de Deus".

A principal preocupação dos organizadores eram - assim como na Alemanha nazista - os envolvidos em movimentos de supremacia branca, entre outros movimentos, que afirmam ser cristãos. "É uma versão distorcida do cristianismo", disse Tobias Winright, professor de ética em saúde da Universidade de St. Louis e fundador do grupo "Ethicists without Borders" (Especialistas em Ética sem Fronteiras), que organizou o comunicado.

A declaração se concentra nos especialistas em ética cristãos "porque é um problema cristão", disse ele.

"A supremacia branca e o racismo negam a dignidade de cada ser humano revelada através da Encarnação. O mal da supremacia branca e do racismo deve ser encarado diante da figura de Jesus Cristo, que não pode ser confinado a nenhuma cultura ou nacionalidade", diz a declaração.

Ela associa o antissemitismo e o racismo ao nacionalismo, incluindo a doutrina "America First" (Estados Unidos em primeiro lugar), que ele chama de "erro grave de idolatria" porque "pede, de forma absurda, para que os estadunidenses substituam o culto a Deus pelo culto à nação".

"Gostaríamos de afirmar claramente que esses pontos de vista são heréticos para o evangelho cristão", disse Anna Floerke Scheid, professora de teologia na Universidade Duquesne, em Pittsburgh, uma das organizadoras.

Ela e outros do grupo ficaram decepcionados com a resposta morna do clero e de outros líderes religiosos após eventos de carga racista, até mesmo antes de Charlottesville. "Há uma separação do que está acontecendo nas ruas e o que está acontecendo nas igrejas", afirmou.

Mesmo a reação dos líderes católicos à violência em Charlottesville não corresponde à força do ensino anterior da Igreja contra o racismo e o antissemitismo, disse Matthew Tapie, diretor do Centro de Estudos Católico-Judeus na Universidade St. Leo, na Flórida, e também organizador da declaração. "Acredito que estamos numa situação de emergência e precisamos de uma denúncia mais forte", disse.

A declaração sugere respostas ativas contra o racismo e a supremacia branca por parte de todos os cristãos, especialmente pastores, incluindo orações, trabalhando em várias tradições religiosas, participando de protestos e desobediência civil e se envolvendo em ações políticas.

"Precisamos falar mais alto e ser mais pró-ativos na denúncia ao racismo em todas as suas formas" - Anna Floerke Scheid

Uma pesquisa informal nas redes sociais em 13 de agosto revelou que poucas igrejas abordaram os eventos em Charlottesville ou o racismo em geral, principalmente em paróquias predominantemente brancas, de acordo com MT Dávila, professor de ética cristã na Escola de Teologia Andover Newton, outro organizador.

Ele espera que a declaração - assinada por cristãos em um amplo espectro denominacional e até mesmo ideológico - dê aos pastores "permissão para pregar uma palavra fiel ao Evangelho, denunciando o racismo por ser uma violação do bem comum e da dignidade humana".

Em igrejas de maioria negra, no entanto, Charlottesville estava na cabeça de todos.

"É só mais uma indicação de algo que já sabemos", disse Reggie Williams, professor de ética cristã no Seminário Teológico McCormick, em Chicago, que assinou a declaração.

Ele disse que sua linguagem forte "coloca no papel o significado de ser moralmente fiel a Cristo neste momento".

Mas outros signatários e organizadores esperam que ela vá além.

"Precisamos falar mais alto e ser mais pró-ativos na denúncia ao racismo em todas as suas formas"

"Se não conseguirmos, seremos irrelevantes como Igreja."

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