A multidão e o comum podem ajudar a compreender a indústria 4.0

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Por: João Flores da Cunha | 22 Outubro 2016

A ideia de indústria 4.0, que dá conta das transformações na indústria a partir das inovações tecnológicas, pode ser compreendida a partir de conceitos como multidão e comum. Esse foi o tema da fala de Lucas Henrique da Luz, professor da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos e integrante do IHU, intitulada Estratégia como mistério e outros possíveis: o estrategizar da indústria 4.0. A palestra faz parte do evento IHU Ideias e ocorreu no dia 20 de outubro.

Em sua fala, Lucas Luz buscou estabelecer aproximações entre a indústria 4.0 e sua tese de doutorado, defendida neste ano no Programa de Pós-Graduação em Administração da Unisinos, que trabalhou os conceitos de multidão e de comum. O movimento constitui, em suas próprias palavras, uma “tentativa inicial”, e uma busca por “arriscar”.

Para Lucas, as transformações pelas quais o mundo passa hoje significam uma transição de época. Essas incluem o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICS, a convergência dessas tecnologias e a globalização – fatores que colocam diferentes atores e culturas em interação. No entanto, a teoria da administração ainda não se adaptou a essa realidade, segundo Lucas. Para ele, noções como planejamento de carreira e objetivos estratégicos de empresas obedecem a “lógicas ainda estáticas, lineares – e o mundo não me parece mais tão linear”.

Pelo contrário: essas mudanças fazem com que o mundo esteja em constante transformação e reorganização, o que lhe confere um caráter caótico. Nesse sentido, sua pesquisa constituiu uma “tentativa de compreender um fazer estratégico mais adequado à realidade do mundo hoje”, que não se atenha à lógica do “estou aqui e quero chegar lá”. Assim, ele propõe pensar a estratégia como verbo – o estrategizar – e na lógica da multidão, em que diferentes se aproximam, interagem e produzem um comum. Essa é uma “estratégia que não é previsível a priori”, na visão de Lucas.

Para Lucas Henrique da Luz, “o valor da estratégia está em outros possíveis” (Foto: João Flores da Cunha)

O risco das visões racionalistas da estratégia – que Lucas compreende como “finalísticas” em sua definição de missão e valores de uma organização – é o de ignorar o que surge a partir das interações e por conta das interações. “Muitas vezes, essa prescrição nos cega”, de acordo com o professor. Para ele, a riqueza da estratégia está naquilo que não foi percebido ou previsto anteriormente; assim, “o valor da estratégia está em outros possíveis”.

Lucas defendeu a ideia de que é preciso manter a diferença dos atores, pois é nela que se encontra a potência. Assim, deve-se “manter as singularidades singulares”, para ele. O professor valorizou a “inteligência de enxame”; nessa lógica, de operação em rizomas, “todos os pontos são livres para agir, e não há necessidade de um comando de cima para baixo” para que essa ação aconteça, disse Lucas.

A indústria 4.0

Lucas apresentou a ideia da indústria 4.0 a partir de seu “fundamento básico”, que dá conta de que “conectando máquinas, sistemas e ativos, as empresas poderão criar redes inteligentes ao longo de toda a cadeia de valor que podem controlar os módulos da produção de forma autônoma”. Ele observou que a noção de “redes inteligentes” opera de maneira semelhante à inteligência de enxame. “Me parece que esse desenho está mais próximo da lógica da multidão” do que de uma lógica da teoria clássica da administração, afirmou Lucas.

“É na diversidade dos atores que formam a cadeia que está a riqueza”, disse o professor. Na esteira da comparação com o enxame, ele afirmou que, da mesma forma que “a riqueza da abelha não está no mel, mas na polinização, a riqueza da fábrica está na circulação, e não na produção – e a indústria 4.0 entendeu isso”.

O professor notou ainda que essa transformação da indústria terá impactos no mundo do trabalho. Lucas citou uma entrevista recente do economista Luiz Gonzaga Belluzzo ao sítio do IHU, em que esse afirma que “com essa superindustrialização, inevitavelmente, haverá sobra de gente”, e que já há propostas no sentido de “que o tempo de trabalho seja reduzido para três horas por dia e que se compensem as pessoas com uma renda mínima”.

De acordo com Lucas, “a indústria está se reinventando para não perder o monopólio do valor integrado”. Há uma “disputa por quem vai liderar o modelo”, afirmou. Assim, a questão que se impõe, segundo ele, é: “Quem vai se apropriar dos outros possíveis?”.

Quem é

Lucas Henrique da Luz possui graduação em Administração (2002) e mestrado em Ciências Sociais Aplicadas (2007), ambos pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. É doutor em Administração pela mesma universidade, com estágio doutoral na Université de Poitiers. Vinculou-se à Unisinos em 2005, onde é Professor Assistente, dedicando-se a projetos de pesquisa e ao ensino em nível de Graduação e Pós Graduação, em cursos da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, nas áreas de estratégia, administração de Recursos Humanos, empreendedorismo e gestão social. É integrante do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

Confira a palestra na íntegra:

Confira palestra do conferencista sobre a obra "Sociedade com custo marginal zero", de Jeremy Rifkin:

Leia a edição número 20 dos Cadernos IHU, de autoria do conferencista:

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