A China e a reprimarização da América Latina: novo imperialismo?

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26 Fevereiro 2015

"Enquanto houve crescimento da demanda e do preço das commodities a América Latina e Caribe se beneficiou, embora a valorização cambial tenha levado ao processo conhecido como 'doença holandesa', que necessariamente leva à uma desindustrialização, no caso da América Latina e Caribe, precoce desindustrialização", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE em artigo publicado por EcoDebate, 25-02-2015.

Segundo ele, "a China tem relações do tipo imperialista com os países latinoamericanos e os países latinoamericanos tem relações de dependência com a China".

"A ironia é que a criação desta nova dependência a este novo imperialismo é comemorada pelos governos de esquerda da América Latina e Caribe e pelo governo comunista da China, líder dos BRICS. Ao mesmo tempo, tudo isto deixa preocupado os velhos imperialismo europeu e americano. Já há quem diga que o “quintal” está mudando, de novo, de dono", conclui o professor.

Eis o artigo.

As lideranças políticas da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) – bloco que agrega de 33 países da região – se reuniram nos dias 08 e 09 de janeiro de 2015 em Pequim, para a primeira reunião do fórum China-Celac.

O presidente chinês, Xi Jinping, disse que o encontro é um sinal positivo sobre o aprofundamento da cooperação entre China e América Latina e Caribe (ALC) e terá um impacto de longo prazo na promoção da cooperação sul-sul e para prosperidade no mundo. Ele disse que há uma expectativa de que o comércio bilateral entre China e América Latina suba para US$ 500 bilhões em dez anos e garantiu US$ 250 bilhões em investimentos chineses na América Latina nos próximos dez anos, como parte de um movimento para impulsionar a influência da China na região, superando a histórica dominação da América do Norte.

A Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) divulgou o estudo “Primer Foro de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños (CELAC) y China: Explorando espacios de cooperación en comercio e inversión” mostrando que o comércio de bens entre a Celac e a China aumentou 22 vezes entre 2000 e 2013, de US$ 12 biilhões para US$ 275 bilhões, sendo que a China passou a ser o maior “sócio” das transações internacionais da ALC. Em igual período, o comércio da região com o mundo aumentou apena 3 vezes.

O documento apresentado pela Secretária Executiva da Cepal, Alicia Bárcena, se preocupa com o crescente déficit na balança comercial entre os países da Celac e a China e sugere que os investimentos externos diretos (IED) da China sejam alocados em outros setores que não somente nas atividades extrativas, onde se concentra 90% dos investimentos chineses na ALC.

De fato a China foi muito importante para o ciclo de crescimento da América Latina e Caribe desde o início do século XXI. Foi a alta demanda chinesa que possibilitou o boom das commodities, que elevou o crescimento da economia, valorizou as moedas nacionais dos diversos países da ALC, reduziu o desemprego e possibilitou o aumento dos gastos sociais no sentido de reduzir a pobreza e aumentar a proteção social.

Mas ao mesmo tempo houve um regresso na qualidade do desenvolvimento da região. A maioria dos países da América Latina e Caribe estão passando por um processo de reprimarização, pois a China compra petróleo da Venezuela, cobre do Peru e Chile, soja da Argentina e do Brasil, dentre outros produtos primários e exporta produtos de maior valor agregado.

Enquanto houve crescimento da demanda e do preço das commodities a ALC se beneficiou, embora a valorização cambial tenha levado ao processo conhecido como “doença holandesa”, que necessariamente leva à uma desindustrialização, no caso da ALC, precoce desindustrialização.

Ou seja, a China foi importante para a retomada da economia da ALC depois da “década perdida”. Mas ao mesmo tempo ela aprofundou uma nova dependência, pois os países latinoamericanos exportam produtos primários e de baixo valor agregado e importam produtos industrializados da China. O emprego industrial cresce na China e diminui na América Latina e Caribe.

Agora, em 2014 e 2015, quando o preço das commodities estão caindo em todo o mundo, os países da Celac estão recorrendo à china à busca de capitais para fechar seus balanços de pagamento. Ou seja, primeiro aprofundaram a dependência econômica e agora vão aprofundar a dependência financeira.

O nome que se dá a esse processo na literatura internacional, desde Rosa de Luxemburgo (1871-1919) e Rudolf Hilferding (1877-1941), é imperialismo. Isto é, a China tem relações do tipo imperialista com os países latinoamericanos e os países latinoamericanos tem relações de dependência com a China.

Na verdade, o “Império do Meio” teve um superávit comercial recorde com o resto do mundo em 2014, de US$ 382 bilhões, resultado do saldo de exportações anuais de US$ 2,34 trilhões e importações anuais de US$ 1,96 trilhões. A China que exportava menos do que o Brasil até 1984, agora exporta 10 vezes mais e possui reservas internacionais de mais de US$ 4 trilhões de dólares.

A ironia é que a criação desta nova dependência a este novo imperialismo é comemorada pelos governos de esquerda da América Latina e Caribe e pelo governo comunista da China, líder dos BRICS. Ao mesmo tempo, tudo isto deixa preocupado os velhos imperialismo europeu e americano. Já há quem diga que o “quintal” está mudando, de novo, de dono.

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