09 Fevereiro 2023
No livro Il dissidio cattolico, Massimo Borghesi analisa as raízes culturais e filosóficas desses ataques, principalmente estadunidenses e alemães.
O artigo é de Maria Antonieta Calabrò, jornalista, publicado por Huffington Post, 07-02-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Todos os papas recentes, a começar por Paulo VI, sofreram críticas, às vezes muito duras. Mas nunca aconteceu como no caso do Papa Francisco, desde o início de seu ministério. Então, depois dos primeiros anos, a "reação" católica e não católica contra ele tornou-se um vento impetuoso. Tivemos um último exemplo disso com os ataques desencadeados por ocasião da morte de Bento XVI.
Il dissidio cattolico, de Massimo Borghesi | Foto: divulgação
Ataques violentos e concêntricos que exploraram o fim do que os sedevacantistas (ou seja, aqueles que, após a renúncia do papa alemão, sempre consideraram Bergoglio um usurpador, e o papa "verdadeiro" o renunciante), consideravam uma coabitação. Ataques tão concêntricos que é difícil não pensar que foram organizados e orquestrados, como de fato aconteceu com a chamada “guerra dos livros” (a começar pelas memórias publicadas pelo ex-secretário de Bento XVI, o arcebispo Ganswein). O suficiente para levar Francisco a negar publicamente o fato de Bento fosse contrário a algumas de suas decisões.
A desinformação e as teorias da conspiração, o uso inescrupuloso das redes sociais por parte de alguns sujeitos, fizeram o resto, naquela que parece ser uma verdadeira guerra híbrida contra Francisco.
Massimo Borghesi, professor de Filosofia Moral na Universidade de Perugia, que publicou (para a Jaca Book) "Il dissidio cattolico", analisa as raízes culturais e filosóficas desses ataques, em grande parte estadunidenses e alemães. E os tons que espelham barricadas e um confronto final entrelaçados com a ideologia no vax (contrária ao fechamento das igrejas e da impossibilidade de realizar missas na época da explosão da pandemia de covid-19). Intervenções todas imbuídas de uma heresia donatista, a seita do bispo Donato, contra a qual se moveu o Santo de Hipona, ou seja, justamente aquele Agostinho cujo símbolo da concha Bento XVI quis em seu brasão. A seita dos puros, dos incontaminados, atacando aqueles que estão com Francisco: os (supostos) corruptos, os corruptores da tradição e da doutrina e os comprometidos com o poder.
A figura-símbolo dessa "reação" a Francisco é ele próprio um bispo, o ex-núncio nos Estados Unidos, Monsenhor Carlo Maria Viganò, que "combateu" duramente também Bento (quando era papa) e de quem veio a público, com o tempo, os laços com Steve Bannon e o ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Viganò foi defendido com todas armas enquanto atacava Francisco pelo editor da Ignatius Press, que aliás é jesuíta, o padre Joseph Fessio, que publicou alguns livros de cardeais e outros, extremamente críticos a Francisco, até o último (2020) com a dupla assinatura de “Bento XVI” e do cardeal Robert Sarah, que custou o cargo de prefeito da casa pontifícia a Ganswein. Borghesi também relata a tese defendida por Fessio contra as intervenções de um escritor da Civiltà Cattolica (e, portanto, "próximo" do Papa Francisco), também jesuíta, muito singular para um católico e ainda mais para um padre: que o aborto é melhor do que a contracepção, porque em qualquer caso, mesmo que seja abortada, foi concebida uma criança com uma alma imortal (sic!).
Para os leitores não crentes ou praticantes, deve-se recordar que no coração da Liturgia Eucarística da Missa, em cada missa que é celebrada todo dia, em todas as latitudes, o padre eleva orações "pelo nosso Papa Francisco", e para os bispos e padres em comunhão com ele.
Aqui está, é essa oração que o "dissidio católico" contra o Papa contradiz e ultraja.
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A guerra híbrida contra o Papa Francisco, impregnada de heresia donatista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU