A questão ucraniana, dois espinhos para o papa

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14 Dezembro 2021

 

"Esta situação religiosa, com suas repercussões na política interna ucraniana, coloca Francisco - embora ele não seja culpado de tais eventos - em uma situação difícil: se ele disser uma única palavra que pareça a favor de Kirill, perde Bartolomeu para sempre; e vice-versa, se parecer a favor de Constantinopla", escreve Luigi Sandri, jornalista e escritor, em artigo publicado por L'Adige, 13-12-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo. 

 

Dois pesos ligados à Ucrânia, um geopolítico e um religioso, pesam sobre o Vaticano, onde há forte preocupação com o risco de um conflito armado que acabaria envolvendo a Rússia de um lado e a OTAN do outro; e é dilacerante a cisão das Igrejas ucranianas, uma ligada ao patriarcado de Moscou e a outra apoiada pelo patriarcado de Constantinopla. O Papa disse, no dia 12 de dezembro, no Angelus: “Desejo assegurar as minhas orações para a querida Ucrânia, para todas as suas Igrejas e comunidades religiosas e para todo o seu povo, para que as tensões à sua volta sejam resolvidas através de um sério diálogo internacional e não com as armas”.

Quais tensões? O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em um encontro por telefone há uma semana com Vladimir Putin, acusou a Rússia de ameaçar a Ucrânia com manobras militares destinadas a incorporar as regiões orientais de Donetsk e Lugansk, que agora se reportam a Moscou e não a Kiev. O chefe do Kremlin respondeu que é a OTAN que está aumentando as tensões, tentando levar a Ucrânia para a Aliança Atlântica, hipótese que para os russos é uma linha vermelha que não deve ser ultrapassada.

Francisco depois lastimou que este ano os países envolvidos no temido conflito aumentaram seus armamentos: o governo de Kiev - explicamos - gostaria de reconquistar a Crimeia, que Putin "readmitiu" em 2014, lembrando que até 1954 era russa, não ucraniana; mas o líder ucraniano, Volodymyr Zelenskyj, reiterou sua vontade de retomar aquela península.

Se o pontífice foi suficientemente explícito no viés geopolítico, naquele religioso, embora muito conturbado, não se manifestou. Por quê? Depois de uma furiosa polêmica entre os patriarcados de Moscou, liderado por Kirill, e de Constantinopla, liderado por Bartolomeu, sobre a legitimidade ou não de conceder autocefalia à Igreja ucraniana, por fim este último, em janeiro de 2019, aprovou a almejada independência canônica. Duas igrejas minoritárias formaram a nova Igreja autocéfala, embora contestada pela Igreja ucraniana mais numerosa, e ligada ao patriarcado de Moscou.

Considerando a decisão de Bartolomeu "ilegal", considerando-o "cismático", Kirill cortou a comunhão eucarística com ele.

Esta situação religiosa, com suas repercussões na política interna ucraniana, coloca Francisco - embora ele não seja culpado de tais eventos - em uma situação difícil: se ele disser uma única palavra que pareça a favor de Kirill, perde Bartolomeu para sempre; e vice-versa, se parecer a favor de Constantinopla. Além disso, um fato complica o quadro: em breve, Francisco pretende em breve se encontrar com Kirill pela segunda vez (a primeira foi em 2016 em Cuba). Quando e onde? Talvez em 2023, no Cazaquistão, território “canônico” do patriarcado russo. Daí a compreensível prudência de Francisco na questão ucraniana.

O papa, o "tribunal de apelação" ao qual, segundo Roma, as Igrejas Orientais recorriam nos primeiros séculos para superar suas divergências, hoje, na acirrada disputa entre Kirill e Bartolomeu, é obrigado a calar-se.

 

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