A leitura que a Igreja propõe para esta Festa do Natal é o Evangelho de João 1,1-18. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O quarto evangelho começa com um prólogo muito especial. É uma espécie de hino que, desde os primeiros séculos, ajudou decisivamente os cristãos a mergulharem no mistério encerrado em Jesus. Se o escutarmos com fé simples, também hoje nos pode ajudar a acreditar mais profundamente em Jesus. Só nos debruçamos em algumas declarações centrais.
«A Palavra de Deus se fez carne». Deus não é mudo. Não permaneceu calado, encerrado para sempre no seu Mistério. Deus quis se comunicar. Quis falar-nos, dizer-nos o seu amor, explicar-nos o seu projeto. Jesus é simplesmente o Projeto de Deus feito carne.
Mas Deus não se comunicou conosco através de conceitos e doutrinas sublimes que só podem ser compreendidas pelos doutos. A sua Palavra encarnou-se na vida cativante de Jesus, para que o possam entender até os mais simples, aos que sabem comover-se ante a bondade, o amor e a verdade que se encerra na sua vida.
Esta Palavra de Deus «acampou entre nós». Desapareceram as distâncias. Deus fez-se «carne». Habita entre nós. Para encontramo-nos com ele não temos que sair fora do mundo, mas sim aproximar-nos de Jesus. Para o conhecer não é preciso estudar teologia, mas sintonizar com Jesus, comungar com ele.
«Nunca ninguém viu Deus.» Os profetas, os sacerdotes, os mestres da lei falavam muito de Deus, mas ninguém tinha visto o Seu rosto. O mesmo acontece hoje entre nós: na Igreja falamos muito de Deus, mas nenhum de nós o viu. Apenas Jesus, «o Filho de Deus, que está no seio do Pai, foi quem o deu a conhecer».
Não podemos esquecer isto. Só Jesus nos contou como é Deus. Só ele é a fonte para nos aproximar do seu Mistério. Quantas ideias atrofiadas e pouco humanas de Deus temos de desaprender para nos deixarmos atrair e seduzir por esse Deus que se nos revela em Jesus.
Como tudo muda quando finalmente entendemos que Jesus é a face humana de Deus. Tudo é mais simples e claro. Agora sabemos como nos olha Deus quando sofremos, como ele nos procura quando nos perdemos, como nos entende e nos perdoa quando o negamos. Nele se nos revela «a graça e a verdade» de Deus.