Abusos geralmente acontecem a conta-gotas. Atitudes anormais passam a ser consideradas normais. “A pessoa acaba achando normal receber ordens não só impossíveis, mas também insensatas”, diz a teóloga e presidente da Conferência dos Religiosos e Religiosas da França (Corref)
Manipulação, abuso de autoridade e dominação são alguns dos elementos identificáveis em comunidades abusivas. O abuso, afirma a pesquisadora Véronique Margron, professora da Université Paris-Sorbonnere e especialista no assunto, “é uma invasão do que há de mais fundamental na dignidade humana” e tem como consequência, entre outras, a “usurpação” da “confiança”. “Esta usurpação toca num ponto antropológico fundamental: afeta a capacidade do outro em confiar. Afeta a capacidade do outro depositar o seu coração. É por isso que as comunidades abusivas podem provocar tantos danos sobre as pessoas. Às vezes, são danos que perduram a vida toda, mesmo depois de uma pessoa ter deixado uma comunidade, muito tempo depois, mesmo quando não há abuso sexual”, explica.
Na França, Véronique Margron acompanha comunidades religiosas abusivas, os dilemas vivenciados pelas vítimas e os longos processos de superação dessa condição. Na videoconferência “Vida religiosa consagrada e as comunidades abusivas”, promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU no mês passado e publicada a seguir no formato de entrevista, ela tematiza o assunto a partir das experiências concretas da Igreja francesa.
Nessas comunidades, menciona, os abusos são revestidos de “argumentos religiosos” que manipulam aqueles que desejam “doar suas vidas a Cristo com generosidade”. Outro mecanismo observado é a alternância entre gratificação e humilhação. O abuso, nesses casos, sublinha, está diretamente vinculado à transgressão do poder. “No cerne de todos os abusos espirituais, de confiança, de consciência, de autoridade, de poder, se encontra o uso desviado e distorcido, segundo o qual engana-se e desvia-se o outro sob o pretexto de guiá-lo”.
A exposição de Véronique Margron integra o ciclo de estudos “Os abusos na sociedade e na Igreja. Da cultura do silenciamento à cultura do cuidado”, que aborda a problemática dos abusos em suas múltiplas expressões, numa perspectiva interdisciplinar.
A palestra de abertura do ciclo foi ministrada pelo jesuíta alemão Hans Zollner, professor da Pontifícia Universidade Gregoriana, e um dos membros fundadores da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, criada pelo Papa Francisco.
A próxima videoconferência será transmitida em 04-11-2025, às 10h, na página eletrônica do IHU, no YouTube e nas redes sociais. O evento tematiza os abusos e a justiça restaurativa como um caminho de reparação. A palestrante é Isabel Sampaio Oliveira Lima, doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professora da Universidade Católica do Salvador (Ucsal) e juíza aposentada do Estado da Bahia. A programação completa do ciclo está disponível aqui. As palestras estão disponíveis no YouTube.
Véronique Margron (Foto: Reprodução Vatican News)
Véronique Margron é psicóloga e doutora em Teologia Moral pela Universidade Católica de Lille, na França. É presidente da Conferência dos Religiosos e Religiosas da França (Corref) desde 2016 e autora de diversos artigos e livros relacionados à temática dos abusos.
IHU – O que caracteriza a vida religiosa?
Véronique Margron – Eu gostaria de falar um pouco sobre a vida religiosa para podermos perceber o contraste, a dicotomia e até mesmo o confronto existente entre esses dois termos: vida religiosa e abusos.
Quem diz vida religiosa, diz seguimento de Cristo. Como sabemos, Cristo é um homem profundamente livre e um filho obediente. A obediência nunca é uma submissão, mas a tradução da sua liberdade de homem. Então, a vida religiosa se caracteriza pela liberdade e, profundamente, pela liberdade de consciência. Caracteriza-se também, através dessa liberdade, pela liberdade de engajamento, de generosidade, ou seja, a liberdade de ter como gosto e desejo o outro, isto é, cuidar do outro, cuidar dos mais frágeis – aqui entra a questão do coração e da fraternidade. Tudo isso requer dos religiosos e religiosas liberdade interna, capacidade de autonomia, capacidade em ter responsabilidade por suas escolhas e atos. Tudo isso, evidentemente, poderia ser tema de muitas conferências.
IHU – O que significa falar em comunidades abusivas?
Véronique Margron – Me perdoem se caricaturar ou simplificar um pouco. Vou dar uma única característica. O evangelho e a tradição bíblica de forma mais ampla se caracterizam por trazer frutos, frutificar. É preciso frutificar. É preciso que a generosidade, a liberdade, o gosto pelo outro possam frutificar para os outros, trazer frutos para os outros – o que remete à liberdade sobre a qual falei anteriormente.
Lembrem-se das primeiras palavras que Deus dirige aos humanos que acabou de criar: frutificai-vos. Frutificar, na tradição bíblica e na história, nada tem a ver com uma questão de número, de quantidade. Não tem nada a ver com uma questão de poder, de recursos. Entretanto, um dos motores que leva a comunidades abusivas, ao menos pelo que verifico na Europa, principalmente na França, é justamente a vontade, a ambição de mostrar a juventude e a força. Ou seja, o número e a quantidade passam a ser critérios da vida religiosa, a tal ponto que o número daria a verdade do êxito da vida religiosa. Penso que isso – e aqui peso as minhas palavras – é um pecado.
Lembremo-nos de que nosso Deus, o Deus de Abraão, de Isaque, de Jacó, de Jó, escolhe o menor dos povos, que não tem nenhum mérito. Cristo adquire carne num pequeno espaço da terra humana, numa vida muito frágil, extremamente precária, em que os seus inimigos conseguem matá-lo e, no momento de sua morte, quase não há mais ninguém ao seu redor, exceto algumas mulheres. Apesar disso, acreditamos que, segundo a fé cristã e singularmente na vida religiosa, isso muda o curso do mundo. Acreditamos que aí está a vitória sobre o mal, que a cruz de Cristo é a vitória sobre o mal. Em outras palavras, o evangelho nos conta do amor de Deus e nos diz que um dia o mal será vencido.
Esse critério [o número e a quantidade de pessoas] é um critério pagão que encontramos no cerne de muitas comunidades abusivas. Em outras palavras, a força aparente do “número”, da “juventude”, da “beleza”, da “liturgia” – eu gosto da beleza da liturgia – serve como uma espécie de véu, de tela que apaga a lucidez que nos faria ver o que está errado nas comunidades, principalmente nas condutas abusivas. Em suma, tudo isso gera ilusão.
Devemos sempre voltar a esse cerne, a esse núcleo, se quisermos entender o que tornará possível aquilo que move as comunidades abusivas. Não são somente personalidades abusivas. Precisamos perceber que há todo um discurso sustentado, espiritualizado, profundamente espiritualizado, com uma espiritualidade que não acredito que seja cristã, mas que funciona muito bem, que faz crer que é o número e a importância das obras que dizem a verdade.
Mas o que diz a verdade é a liberdade real das pessoas engajadas na esteira de Cristo a partir do seio da sua pobreza, da sua fragilidade. Fragilidade e pobreza que são amadas por Deus. Isso precisa ser amado na comunidade também. Não devemos esquecer essa dicotomia, essa oposição entre frutificar e mostrar números – uma potência que poderíamos chamar de potência sociológica.
IHU – Como identificar se uma comunidade é abusiva?
Véronique Margron – O primeiro ponto, para dizer que se se trata de uma comunidade abusiva, é dizer que há um caráter sistêmico, ou seja, elementos que são reunidos para constituir um sistema e tornar uma comunidade abusiva. Não é somente esta ou aquela pessoa, não é somente o chefe dos noviços. É toda a comunidade que está aprisionada nesse abuso e é isso que gera uma comunidade abusiva. Para sair de uma comunidade abusiva, portanto – o que nem sempre é possível –, é preciso muito tempo e é preciso trabalhar, sobretudo, aquilo que faz a vida da comunidade, sem pensar que, excluindo, por exemplo, um superior ou aquele que é responsável pela formação, acabaríamos com os abusos.
O abuso se torna um modo de viver em que, às vezes, irmãs abusadas se tornam elas mesmas agressoras, abusivas para outros que chegam. Há uma espécie de fenômeno de contágio no abuso. Isso significa que é preciso esmiuçar tudo o que constitui o abuso e tudo o que o possibilita.
Um aspecto comum entre todos os tipos de abuso – de poder, de confiança, espiritual, por omissão e inação e de violência sexual – é, primeiramente, a manipulação. Manipulação das pessoas, manipulação do grupo ao indicar que, por exemplo, nas nossas comunidades somos as únicas verdadeiras franciscanas, as únicas dominicanas, as únicas irmãs do Sagrado Coração. Ou seja, somos as autênticas, as verdadeiras irmãs. Isso tem um preço: a obediência cega, a submissão, o fato de não ter nenhuma autonomia pessoal, a ponto de entregar os seus bens à comunidade, às vezes, bem antes dos votos perpétuos. Vemos isso com muita frequência. Então, há toda uma manipulação não só das pessoas, mas também do grupo.
Um dos fatores de manipulação das pessoas e dos grupos é a relação com a perfeição: nós somos as verdadeiras ou os verdadeiros, as melhores, os melhores, os perfeitos, mesmo não usando essa palavra.
Um segundo aspecto é que sempre há um desvio da verdade no abuso. Um exemplo é quando se faz acreditar que, numa comunidade, somente o superior ou a superiora conhece o bem para o religioso ou a religiosa. Não. Somente Cristo, no diálogo íntimo com cada um, iluminado pela comunidade e suas autoridades, pode permitir encontrar o melhor caminho para alguém. Mas não há uma autoridade que detenha o bem, o verdadeiro no seu lugar e sobre você.
Poderíamos multiplicar os exemplos sobre os desvios da verdade. Um deles é quando, por ocasião de uma visita eclesial, seja de um religioso, seja de uma autoridade, como o bispo, diz-se à comunidade que essas pessoas não sabem quem somos e devemos dizer tudo o que somos em conjunto, para não sermos atacados. Isso acontece muito nas comunidades abusivas.
Muitas vezes, durante décadas, pessoas que visitam essas comunidades não conseguem ver nada nem saber nada sobre o sistema abusivo, porque sempre se mostra uma vitrine perfeita para não haver questionamento ou contestação. Portanto, há o desvio da verdade, há o desvio da realidade.
Vou dar apenas um exemplo de desvio da realidade. Quando alguém perde um familiar e se questiona se fez uma boa escolha ao entrar em uma determinada comunidade, e a superior diz: “Se você não está bem, é porque está combatendo o demônio. Combata mais arduamente, faça vigília noturna, obedeça mais ainda”. Se a pessoa estiver mais feliz, a mesma superiora dirá: “Renda graças ao Senhor”. Isso significa que qualquer que seja a realidade psíquica da pessoa, ninguém a ouve. Tudo é espiritualizado de modo que ela não consiga mais sair daquilo. Ou seja, a realidade pessoal não pode virar um sinal de alerta para a pessoa – muito menos para os outros – de que algo não está bem.
Novamente, neste caso, se houver visitas ou relatórios, inúmeras questões não são consideradas, como as preocupações em relação à saúde e à alimentação das irmãs – às vezes, há pouco para comer ou demais para comer –, ou o fato de muitas tomarem medicamentos antidepressivos. Tudo isso é interpretado de forma espiritualizada para entrar no discurso fechado do grupo.
Por fim, todos os abusos nas comunidades abusivas e entre os agressores utilizam argumentos religiosos. Esses argumentos se tornam autoridade para justificar o sistema de abuso. Mulheres e homens que querem doar suas vidas a Cristo com generosidade, que às vezes realizam longos anos de estudos superiores, precisam de um espírito crítico para deixar tudo isso de lado. Às vezes, os discursos deles se revestem de um discurso religioso: “Se ouvir o que estou dizendo, você pode ter certeza de estar no caminho da santidade. Eu sei qual é a vontade de Deus sobre você. Qual é a vontade de Deus para a nossa comunidade”. Esse é o discurso.
Esse argumento de autoridade suprema – porque não é referido à autoridade parcial e contingente, mas sim diretamente a Deus – é imbatível. Se é Deus quem quer, como eu poderia dizer não ou como eu poderia duvidar? É assim que vemos muitas pessoas consentir, de certa forma, com o sistema abusivo, porque, evidentemente, não percebem o caráter abusivo. Essas pessoas acabam sendo convincentes com toda a sua boa fé, com a ideia de que Deus as chama e que tudo isso diz respeito à vontade divina.
IHU – Quais as implicações práticas desse tipo de abuso?
Véronique Margron – Isso me leva a dizer que quando observamos a etimologia da palavra “abuso” em latim, abusus, observamos que há um uso desviado, errado, equivocado. Um uso, de certa forma, que mata ou que faz morrer em vez de fazer viver. Voltando aos meus exemplos: falar sobre poder na vida social, inclusive na vida da Igreja e na vida religiosa, está certo. Quando estamos numa situação de autoridade numa comunidade, é preciso poder exercer poder, do contrário, não é possível transformar nada. Todos nós esperamos ter uma forma de poder sobre as nossas existências. Se esperamos nos converter no segmento de Cristo, queremos ter um poder na nossa missão para que ela seja eficaz. E o que caracteriza o poder justo, adequado, é justamente o seu limite. Quem diz poder, diz limite ao poder.
Observem as constituições que estipulam o que é legítimo em relação ao superior ou à superiora da congregação, no caso da Igreja, e o que não é legítimo. Ou seja, o poder é sempre marcado pelo limite. Portanto, o abuso de poder diz respeito ao poder que pensa não ter limites. É isto que faz do poder um abuso: a transgressão do que é legítimo. Isso também vale para o abuso de autoridade na vida religiosa. Sempre procedemos por eleições e confiamos a autoridade a alguém e ao seu conselho. Abusar dessa autoridade é transgredir o limite legítimo da autoridade.
A autoridade religiosa tem autoridade sobre o foro externo e nunca sobre o foro íntimo. Sabemos o quanto nas comunidades abusivas essa distinção é totalmente eliminada. Um exemplo: numa comunidade francesa muito problemática e deturpada, a superiora pedia que as irmãs escrevessem, todas as semanas, seus maus pensamentos. Ela pedia ainda que um caderninho fosse entregue semanalmente e as irmãs sofriam penitências pelos seus maus pensamentos. Isto é abuso de autoridade. A superiora havia sido eleita legitimamente, mas exercia abuso de poder com uma transgressão de consciência ligada ao poder e à autoridade.
Não devemos esquecer que autoridade não quer dizer nada além de tornar autor aqueles e aquelas sobre os quais se exerce autoridade. Ou seja, a autoridade não existe para se afirmar na autoridade, mas estar em situação de autoridade, receber autoridade a partir de um grupo, de uma comunidade. Isso significa ser responsável por tornar cada irmão, cada irmã, mais autor e ator da sua própria existência. A autoridade está sempre a serviço do crescimento humano e espiritual das pessoas às quais a autoridade é confiada. A comunidade que confere esse crescimento na sua liberdade, na sua dignidade, tem de ter a integridade física, moral e espiritual assegurada. No cerne de todos os abusos espirituais, de confiança, de consciência, de autoridade, de poder, se encontra o uso desviado e distorcido, segundo o qual engana-se e desvia-se o outro sob o pretexto de guiá-lo.
O abuso é como uma invasão do que há de mais fundamental na dignidade humana, pois essa vontade de desviar o outro sob o pretexto de conduzi-lo, causa uma usurpação, uma invasão em algo essencial para toda vida humana, que é a questão da confiança. A vida cristã se baseia na confiança: em Cristo, em todas as gerações que nos antecederam e nos transmitiram, de alguma forma, a fé, nos testemunhos diretos ou indiretos de Jesus, que levaram as comunidades a transmitir a Boa Nova, a ponto de possibilitar a escrita do Antigo Testamento, antes de Cristo, e, depois, do Novo Testamento.
A confiança é central na vida cristã. Não há vida cristã sem a capacidade de confiar no outro. Sabemos o quanto, na vida comunitária, é impossível viver num instituto religioso, numa comunidade religiosa, numa família, sem confiança, sem confiar. Esta usurpação toca num ponto antropológico fundamental: afeta a capacidade do outro em confiar. Afeta a capacidade do outro depositar o seu coração.
É por isso que as comunidades abusivas podem provocar tantos danos sobre as pessoas. Às vezes, são danos que perduram a vida toda, mesmo depois de uma pessoa ter deixado uma comunidade, muito tempo depois, mesmo quando não há abuso sexual. Mas, às vezes também, o dano ocorre simplesmente porque foi tocado num dos pilares antropológicos, que é o da capacidade de acreditar no outro, guiar-se nele, estar em segurança em relação à palavra do outro. É isso que é afetado nos abusos e nas comunidades abusivas.
IHU – As situações de abuso progridem com o tempo? Constata uma progressão?
Véronique Margron – Não quero tratar de todos os tipos de abusos, mas diria que há uma progressão no abuso, entre abusos de poder, de consciência, de fraqueza. Exploram-se os pontos fracos dos outros nos casos de abuso de autoridade.
IHU – Como entende o domínio, o desejo de dominação? Ele está na raiz dos abusos?
Véronique Margron – A dominação acaba se desenhando nas comunidades abusivas. Em dado momento, toda a comunidade está presa numa teia de aranha, sem conseguir sair daquele mundo abusivo, que acabou se tornando o seu próprio mundo – e, assim, a pessoa pensa que isso é normal.
Crianças que crescem com pais abusivos e violentos podem acabar pensando e acreditando que abuso e violência são normais. Elas perdem a capacidade de criticar os maus-tratos. A situação é semelhante nas comunidades abusivas, inclusive com pessoas que realizaram anos de estudos superiores e acabam presas nesse tipo de comportamento. É como se fosse um abuso a conta-gotas, um conta-gotas que, aos poucos, vai criar a dominação, de modo que o que é mais anormal acaba se tornando normal. A pessoa acaba não tendo mais a própria consciência. Acaba não conseguindo mais pensar por si mesma. Acaba achando tudo normal, porque lhe foi dito que quando pensa por si mesma é a voz do demônio que está pensando.
A pessoa acaba achando normal receber ordens não só impossíveis, mas também insensatas. Lembro aqui de uma comunidade em que as irmãs eram obrigadas a engordar até obterem um peso padrão, desejado pela superiora. Elas precisavam ganhar peso e ninguém tinha o direito de sair da mesa antes de terminar de comer. As irmãs eram pesadas no escritório da superiora e pensavam que tudo isso era justo, correto e bom, de certa forma, para que pudessem ter certeza de estar no caminho de Cristo.
Nesse caso, nem mesmo o corpo lhes pertencia. Muitas não podiam ir ao médico sozinhas, ao passo que, num país como a França, isso é um direito fundamental. No caso dessas irmãs, a superiora precisava estar presente, quase no lugar das irmãs, durante a consulta médica. O que está presente nessas comunidades abusivas é a teia de aranha da qual ninguém consegue sair.
Honestamente, as pessoas acabam acreditando que isso é normal e necessário para se doar a Cristo. É uma teia de aranha. Uso essa metáfora para mostrar a dominação e o controle. É como se o seu computador tivesse um mouse, mas alguém tem que segurar a sua mão para manipular o mouse e alcançar seus objetivos. Alguém pode tomar o poder do mouse, mas você continua acreditando que é você quem está conduzindo o mouse. Mas, na verdade, não é você, é outra pessoa, é a superiora, é a comunidade abusiva em si que está conduzindo o mouse do seu próprio computador.
Aí está a dominação, o controle. É como se cada pessoa fosse esvaziada da sua própria consciência e outra consciência fosse instalada no seu lugar: a consciência do abusador. Por isso é tão difícil sair desse controle, dessa dominação. Repito: isso pode gerar muita violência, muita devastação, muitas violências sexuais também.
IHU – O que tem observado em relação à violência sexual nas comunidades religiosas?
Véronique Margron – Em muitas comunidades abusivas existe violência sexual. Ela é o produto de todos os abusos anteriores. Repito: a comunidade abusiva não se manifesta assim numa única vez; a violência sempre acontece a conta-gotas. Do contrário, todo mundo iria embora imediatamente porque ainda haveria lucidez para perceber o que está acontecendo. É no conta-gotas que as pessoas acabam não percebendo mais.
É o exemplo da rã que você mergulha na água fervendo. Se for de imediato, ela vai conseguir ter reflexo para sair da panela. Mas se a mergulharmos na água fria e, aos poucos, aumentarmos a temperatura da água, em um dado momento, a rã ficará anestesiada e não vai conseguir mais sair. A dominação é isto: a temperatura é aumentada aos poucos.
Além do mais, há um mecanismo que observamos em muitas comunidades abusivas, que é o da alternância entre ser gratificado e ser humilhado. Num dia, a superiora ou o superior diz: “Sem você, a comunidade não se manteria. Felizmente, você conhece a música. Sem a sua voz, a nossa liturgia não seria tão bela. Felizmente, você sabe fazer isto ou aquilo”. Ao ouvir isso, a pessoa se sente gratificada. No dia seguinte, a mesma superiora ou o mesmo superior diz: “Você não vale nada. Você está aqui porque eu quero, mas você é incapaz; não entende nada”. Coisas desse tipo.
A alternância entre ser gratificado e ser humilhado enlouquece – e como enlouquece. A pessoa acaba não tendo mais força nem lucidez para sair da comunidade porque, ao ser humilhada, ela pensa: “Amanhã, tenho de fazer dez vezes melhor para poder ser novamente amada”. No dia seguinte, quando você acredita sê-lo, redobra esforços para continuar fazendo bem, para ser amado. É um sistema que está no cerne de todos os abusos, principalmente na comunidade abusiva. Esse sistema aprisiona aos poucos as pessoas, como o exemplo da rã dentro da panela.
IHU – O que faz com que tudo isso funcione, aparentemente, de forma legítima?
Véronique Margron – A relação com a confiança. Como disse, não podemos viver sem confiar, muito menos na Igreja, em que a fé repousa na consciência. A fé cristã não tem nada a vender. Ela é baseada na Palavra e na confiança. A vida religiosa, muito mais, porque prometemos a fidelidade através do nosso compromisso religioso na vida comum. A fidelidade se baseia na confiança mútua.
Um segundo elemento é o fato de que nós, seres humanos, homens e mulheres, sempre somos seres inacabados, seres em construção. Isto é uma particularidade dos seres humanos: estar sempre em construção. Isto significa que estamos sempre em busca daquilo que vai nos fortalecer, nos consolidar, daquilo que vai consolidar em nós o homem interno ou a mulher interna, aquilo que nos dará o status de adultos na fé. Trata-se de um movimento profundamente humano e legítimo. Ninguém pode crescer sem os outros. Ninguém pode viver pensando que precisa somente de si para crescer e se tornar adulto na existência.
Esse movimento é magnífico e é verdadeiro, sobretudo na vida religiosa, em que tem tempos de formação diferentes. Isso é ótimo. Não entramos na vida religiosa para criticar tudo, mas sim para nos tornarmos discípulos, para aprendermos a nos deixar transformar. Esse movimento espiritual e humano legítimo e magnífico, de se deixar transformar pelas tradições e pelos outros, pode se voltar contra a própria pessoa que está numa comunidade abusiva que busca manipulá-la. O ideal do dom, da doação, da generosidade do seguimento de Cristo, pode se tornar o lugar de um inferno que não consigo nomear, em proveito do poder do outro, da comunidade ou da superiora.
IHU – Que dificuldades e dilemas observa em torno daqueles que optam por permanecer ou deixar as comunidades religiosas abusivas?
Véronique Margron – O elemento antropológico nos permite compreender por que as pessoas permanecem em comunidades abusivas e como é tão difícil ir embora. É muito difícil ir embora porque, assim como a rã na panela de água fervente, muitos não têm mais recursos para sair dali. O discurso continua dizendo que é somente com a submissão que podemos ser fiéis a Cristo.
Querem fazer acreditar que a crença ou o crescimento em Deus não é um crescimento que me faz crescer em mim mesmo. Fazem acreditar que o crescimento em Deus requer a anulação da própria vida, o apagamento psíquico, espiritual ou quase físico da própria vida, da própria vontade, dos próprios desejos. Como se tudo o que fosse próprio fosse necessariamente ruim. Mas, me desculpem, isso é contrário à tradição teológica e cristã.
Quero citar as palavras de uma vítima que conheci há não muito tempo e que nos dá uma ideia de como o abuso, a comunidade abusiva e o fenômeno da dominação atacam o que há de mais profundo em cada um de nós. Ela me disse isso há algumas semanas, falando sobre a comunidade e a superiora: “Eles roubaram a minha alegria”. A sua alegria íntima de crescer aos poucos, de forma coerente ou pelo menos com desejo de coerência em relação ao que acreditamos sobre Deus. Era essa alegria que havia desaparecido nela, mesmo que ela ainda pudesse rir. Portanto, houve um ataque à força da própria vida. Por isso, é tão difícil poder se recuperar desse tipo de abuso. É quase um estupro da alma.
IHU – Qual a responsabilidade das instituições com os membros que sofreram abusos? Como lidar com essa realidade dentro das comunidades religiosas?
Véronique Margron – A responsabilidade é muito grande em relação aos membros que sofrem abusos. Na França, percebemos que as autoridades, principalmente as episcopais, são cegadas pelo êxito de algumas comunidades em relação aos critérios de juventude, número, quantidade e coisas assim, de modo que não houve ou não há nenhuma vigilância.
Infelizmente, na França tivemos grandes predadores. Houve uma falta de visita real, que é diferente da visita para compartilhar uma refeição ou celebrar a Eucaristia. Houve uma falta de atenção da instituição. Muitas comunidades puderam crescer sem vigilância, o que é indispensável e faz parte da missão da Igreja.
IHU – Os abusos acontecem em todos os lugares e das mais diferentes formas, porém qual a diferença quando se articulam abusos e religiosidade?
Véronique Margron – Quando os abusos estão relacionados à religião, à comunidade religiosa, é dado um princípio de autoridade extremamente forte ao abusador. Quando falei sobre as características do abuso no mundo religioso, apontei para o uso do argumento de autoridade religiosa, que consiste em afirmar: “Eu sei qual é a vontade de Deus para você”. Trata-se de um poder extraordinário. É quase impossível, para alguém que quer seguir a Cristo, opor-se ou reagir a isso, sobretudo quando acontece à base do mecanismo de conta-gotas, que mencionei antes.
As violências sexuais e os incestos cometidos nas famílias também têm essa característica. Quantos pais, irmãos e avós incestuosos dizem à criança: “Estou fazendo isso para o seu bem. Sou seu pai, seu avô”. Também há o uso da autoridade, neste caso, para violentar a criança. Na Igreja, esse uso alcança o paroxismo, pois não há lei além de Deus. Nesses casos de abuso, a autoridade de Deus é apelada não no sentido de que o superior seria uma mediação da voz de Deus, mas como se a pessoa dissesse: “Eu sou a voz de Deus”.
Ouço isso todos os dias nos relatos de crianças que foram vítimas de violência sexual por parte dos padres. Ou quase todas as semanas, por religiosos, religiosas, ex-religiosos e ex-religiosas que foram gravemente abusados em comunidades abusivas.
A força da vida religiosa está no fato de tudo ser coerente quando tudo vai bem. A unificação é o que cada um de nós busca. Nós queremos unificar nossa vida. Há o desejo de não ter uma vida despedaçada e fragmentada. Quando tudo vai bem, é ótimo. Mas numa comunidade abusiva, tudo isso é posto a serviço. Toda a coerência é posta a serviço do abuso e da devastação causada por eles.
IHU – Escutamos várias religiosas que percebem situações abusivas, vivenciadas por elas e outras coirmãs. Porém, desconfiam que, caso denunciem, serão ainda mais vitimizadas. Sentem medo, desconfiança dos resultados e culpabilidade. O que é pior: ficarem caladas – sendo que já aguentaram bastante tempo e estão anestesiadas, ou vão se escapando através da missão ou de ajudas externas – ou denunciarem, com o risco de sofrerem ainda mais represálias?
Véronique Margron – Você está certa, a situação é muito difícil. É como crianças e adultos vítimas de incesto, que decidem falar dez, vinte, cinquenta anos depois e as famílias explodem. Toda a dificuldade é, no caso de muitas vítimas de incesto, mostrar que já houve uma explosão na família, mas a vitrine está preservada. A família já estava rompida e não queria ver. Nesse mesmo fenômeno existe o medo de denunciar pelo medo de ser ostracizado, excluído, apontado.
Não temos uma resposta melhor para isso. Não é uma questão de tornar as pessoas heroicas. Não é esse o objetivo. O que podemos tentar fazer ou dizer é que essas pessoas devem ser sustentadas e apoiadas antes de falar ou denunciar. Elas precisam encontrar, na medida do possível, uma rede de apoio, de sustentação psíquica no momento da tempestade. Não se pode encarar isso sozinho. Não se pode lutar sozinho contra uma comunidade que foi dada como exemplo, muitas vezes, pela própria Igreja. É difícil, doloroso e impossível.
Se for para que as pessoas sejam ainda mais destruídas, isso se torna mais um abuso à vítima. Então, há duas questões importantes, na medida do possível:
1) encontrar um meio de apoio para prestar socorro, auxílio psíquico, afetivo e espiritual para as pessoas abusadas e possibilitar a fala delas;
2) criar coletivos de vítimas. Esses coletivos se tornam um apoio, porque, quando um não suporta mais, os outros apoiam. Devemos fazer o máximo para evitar que as pessoas estejam sozinhas. Há situações muito difíceis de serem vivenciadas e podem ser muito injustas.
IHU – Como vê a continuidade do processo iniciado pelo Papa Francisco no enfrentamento dos abusos? Que caminhos o Papa Leão XIV pode assumir para enfrentar esses sistemas?
Véronique Margron – Precisamos esperar um pouco para ver, mas, na França, creio que estamos vivenciando esse combate de uma forma muito determinada nos últimos dez anos. Solicitamos um grande relatório independente. Formamos uma comissão, inicialmente sobre as violências sexuais cometidas na Igreja. Creio que a primeira coisa necessária é a determinação. Tudo isso é muito lento. Mesmo que grandes declarações sejam necessárias, isso não é suficiente. É preciso obstinação, continuidade. É preciso denunciar, qualificar, treinar e formar as comunidades.
Há dois anos, votamos uma carta dos direitos dos religiosos e das religiosas. É uma carta de direitos fundamentais, elaborada depois de tantos abusos, principalmente ao da liberdade de consciência. A carta também inclui a questão do direito à formação plural. Não somente uma formação interna, ligada à vida monástica ou apostólica, mas fora, nas universidades, não só com formadores internos.
Como se trata de algo sistêmico, a resposta também precisa ser sistêmica: com a Igreja, o Papa Leão, mas também com as igrejas locais. É preciso que todos promovam práticas equitativas, justas, através de todos os meios.
Não sei se vocês conhecem o motu proprio [Vos estis lux mundi] do Papa Francisco que traz ao conhecimento da Igreja as situações de abuso nas dioceses e nas comunidades religiosas. Para mim, isso leva a algo muito profundo: há um abuso que está no cerne das comunidades abusivas e, infelizmente, no cerne da Igreja e no seu modo de funcionamento, que é o abuso por omissão. Ou seja, o fato de não fazer, de não denunciar o que precisa ser denunciado ou notificado, o fato de não dizer que um determinado comportamento parece anormal. Não se trata de fazer uma investigação policial, mas precisamos notificar a preocupação, por exemplo, com uma jovem irmã que chegou em plena forma e está emagrecendo e perecendo. Não podemos nos submeter como se fôssemos crianças, meninas. As meninas de hoje não se submetem mais.
A omissão em relação às responsabilidades faz parte da comunidade abusiva, que cria em torno de si um sistema de medo para as vítimas. Mas aqui não estou falando só sobre as vítimas. Há pessoas em torno que observam coisas que não parecem normais, que não sabem de tudo, que não conhecem tudo, mas que estão vendo algo minimamente estranho. Nesses casos, é preciso notificar a autoridade legítima.
IHU – Às vítimas que permaneceram numa comunidade abusiva e fizeram um longo processo terapêutico, é válido que a Igreja peça que façam mea culpa pública à sociedade por terem ocultado o abusador?
Véronique Margron – A dificuldade, pelo que percebo, é que os famosos processos terapêuticos levam décadas. Em outras palavras, não se trata apenas de notificar publicamente que um abusador foi ocultado. Conheço algumas comunidades na França que, pela força da mídia e dos coletivos de vítimas, foram obrigadas a reconhecer que o fundador era um agressor. Mas isso não vai mudar a comunidade.
Para mudar a comunidade, é preciso um trabalho também a conta-gotas que desfaça tudo aquilo que foi pervertido. Esse é outro trabalho muito longo e requer tempo. Conheço comunidades em que os fundadores foram muito perversos e atingiram todos os campos do ser. Nessas comunidades, muita gente nos diz que fez tudo o que foi possível, como pesquisa nos arquivos, escuta às irmãs que saíram, mas não sabem se vão conseguir atingir o objetivo. Quando ouço alguém dizer que não sabe se vai conseguir, acho que está no bom caminho, porque não considera que tudo já foi feito, que tudo está bem. Essas pessoas entendem que há muito trabalho pela frente porque o abuso se infiltrou em todos os modos de vida da comunidade.
Para mim, a questão não é saber se a Igreja tem o direito de pedir que alguém permaneça numa comunidade abusiva. Isso diz respeito à liberdade de consciência da pessoa. Cabe a ela decidir se permanece com lucidez ou pensar que sofreu demais e precisa sair. Ninguém pode obrigar alguém a permanecer numa comunidade. Sabemos que é preciso coragem para ir embora, porque a vida é dura. Muito se disse a esses homens e a essas mulheres que o mundo é ruim e só a comunidade representa a vontade de Deus. É preciso muita coragem para se ver voltando para esse mundo ruim. A pessoa precisa poder dizer, com liberdade espiritual, se quer ou não permanecer na comunidade. Ninguém pode decidir pela vítima. O processo terapêutico, às vezes, leva no mínimo dez, quinze anos. Estou me referindo a comunidades que existem há 50, 60 anos.
O livro “Riesgos y derivas de la vida religiosa” [de dom Dysmas de Lassus] é muito importante ao afirmar que a comunidade não pode voltar ao sistema abusivo. Mas esse é um caminho muito longo. Não basta denunciar o abusador principal, o fundador ou o formador.
IHU – Alguns formadores motivam os formandos a terem segurança nos processos. Entretanto, quando a formanda ou o formando conta sobre suas fragilidades, histórias de violência, inquietações ou rebeldias, a insegurança, a desinformação ou as limitações pessoais do formador provocam controle. Então, motiva-se a segurança, um grau de desconfiança sadio ou uma total confiança, quando não temos garantia de que os seres humanos podem acolher questões pesadas que nos mobilizam?
Véronique Margron – Nem uma coisa nem outra, provavelmente. Não podemos entrar na vida religiosa, não podemos ser noviços e tampouco formadores, suspeitando do outro. Isso é impossível. Se o formando desconfia do formador ou se a formadora suspeita de uma noviça, a vida é impossível. É melhor se separar imediatamente. A vida religiosa não pode se basear na suspeita. Diante de tudo o que sabemos, também não pode se basear na confiança cega. Nem uma coisa nem outra. Em outras palavras, o caminho está em construir uma confiança lúcida, o que chamo de uma confiança de olhos abertos. Aí está a questão.
É preciso confiar um no outro, mas com os olhos abertos. Se alguém pede algo que minha razão ou minha consciência diz que não tem qualquer sentido e que é até mesmo destrutivo, preciso poder dizer não, ou, no melhor dos casos, conversar. Com o pretexto de sentir e pôr à prova a obediência do outro, não podemos lhe pedir coisas contrárias à sua integridade.
Os formadores precisariam ter a característica de apreciar o debate. Ou seja, não só terem uma formação na sua tradição. Claro que isso é indispensável, mas eles precisam apreciar, gostar do debate, gostar do espírito crítico. Não podem ter medo das perguntas, das questões, inclusive perguntas para as quais o próprio formador não tem respostas. Isso é essencial.
É preciso a convicção de que o questionamento da minha capacidade, do meu modo de fazer, não seja a destruição de mim mesmo. Não é porque uma noviça está me questionando que ela está me assassinando ou questionando o papel de formadora que me foi conferido por uma autoridade legítima. Se o formador sempre receber um questionamento como uma agressão, não vamos conseguir ir adiante.
Há um trabalho a ser feito junto aos formadores e formadoras. Não podemos esquecer que eles têm um papel determinante, mas devem estar inseridos numa equipe, com membros do seu próprio instituto, mas também com outros atores, professores, formadores externos, que serão mediadores de questões trazidas pelos noviços. Não podemos falar apenas de uma comunidade de formação. Temos que falar de uma comunidade formadora. Se tudo se reduzir a uma única pessoa, essa pessoa vai se sentir em perigo.
IHU – Num encontro de religiosos e religiosas, psicólogos e psicólogas, surgiu o questionamento sobre os motivos pelos quais os psicólogos precisam de supervisão, mas os formadores, às vezes, não têm supervisão externa nem ajuda. Existe a necessidade de repensar essa prática?
Véronique Margron – A Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja na França recomenda que formadores, formadoras e superiores tenham supervisão. Não se pode confundir a supervisão com o acompanhamento espiritual; são coisas diferentes. Não devemos pensar que somente os profissionais da saúde e psicólogos devem ter supervisão. Isso vale também para formadores, formadoras e superiores das comunidades e ordens religiosas. Infelizmente, a cultura em relação a isso é pouco aplicada, mas indispensável.