25 Abril 2022
No dia 23 de abril de 1972 nascia o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), uma das grandes vozes proféticas na sociedade e na Igreja em defesa dos primeiros habitantes das terras que hoje são chamadas de Brasil.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
50 anos de vida e missão junto aos povos originários, marcados pelas lutas e conquistas, pela partilha de vida com os povos indígenas, secularmente marginalizados e vítimas de preconceito por parte da sociedade dominante.
Para comemorar tão importante acontecimento foi realizada uma celebração on-line, com mais ou menos 300 participantes, junto aos povos indígenas e a todos aqueles que fizeram parte desta história de 50 anos, como amigos, aliados, companheiros de caminhada, dentre eles vários bispos. Um dia de celebrar, de festejar através de uma celebração dividia em dois blocos: semear e brotar.
A celebração lembrou aos presentes que semear no Cimi é fazer memória dos ancestrais, buscar um novo jeito de ser Igreja que acolhe os pobres, especialmente os povos indígenas. Nessa perspectiva, celebrar o Jubileu é esperançar, uma festa que projeta para o futuro, após 50 anos de mística e espiritualidade que sustentam a caminhada, 50 anos de lutas e de convivências, desde a certeza da presença do Ressuscitado ao lado daqueles que tem caminhado com o Cimi nos seus 50 anos de caminhada.
Encontro on-line reuniu cerca de trezentos participantes (Foto)
“Um dia de Graça e de celebração! Um dia de alegria e de esperança!”, segundo Dom Roque Paloschi. Uma celebração que “na verdade começou há 50 anos, quando um grupo de missionários e missionárias, leigos e leigas, bispos, religiosos e religiosas, destemidos, ousados, animados pelo Concílio Vaticano II e pela Conferência de Medellin, mas sobretudo provocados pela realidade que viviam os povos indígenas, começaram a abrir caminhos novos na Igreja, novas formas de estar presentes com os povos indígenas e de ser fiéis ao Evangelho”, afirmou o Presidente do Cimi.
O bispo destacou que tem sido “uma atuação marcada pela defesa da justiça, dos direitos, da diversidade cultural, dos territórios e, de maneira particular, do protagonismo dos povos indígenas como sujeitos de sua própria história”. Uma celebração que faz reconhecer “a força e a sabedoria dos povos indígenas em sua resistência e persistência por defender a vida, por defender seus territórios e suas formas diversas de ser, suas culturas e sua profunda espiritualidade”.
Dom Roque reconheceu as “tantas e tantos missionários que deram sua vida pela causa dos povos indígenas, pela Causa do Reino”, os tantos bispos que prestaram seu apoio à atuação do Cimi e a luta dos povos indígenas. Mas também fez ver que ainda há muito trabalho a ser feito, nos dias de hoje “em que os povos indígenas estão sendo permanentemente assediados em seus territórios e seus direitos sistematicamente violados e questionados”.
Uma celebração no tempo pascal, que nos lembra, em palavras de Dom Roque, que “somos testemunhas de tantos crucificados em nossos dias, tantos territórios invadidos, tanta violência contra os povos indígenas, tanto preconceito e tanta política de morte”. Por isso destacou as palavras do Ressuscitado: “Não tenhais medo!”, chamando a reafirmar “nosso compromisso, pessoal e coletivo, com a vida dos povos indígenas, com a defesa de seus direitos e de seus territórios”.
A defesa dos direitos, culturas e territórios dos povos indígenas é uma missão assumida pela Igreja do Brasil, lembrou Dom Walmor Oliveira de Azevedo. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, citando Querida Amazônia destacou a importância do território para os povos indígenas. O arcebispo de Belo Horizonte enfatizou a contribuição da Igreja para mudar de rumo e mostrar à sociedade que os povos indígenas são mestres na ecologia integral. Daí chamou a entrar num caminho de conversão, insistindo em que o trabalho do Cimi precisa continuar a florescer, para com os povos indígenas aprender a viver na Casa Comum, para em união assumir a tarefa de promover a dignidade para os povos indígenas.
A história do Cimi é uma história que nasceu teimosa, como nova proposta eclesial, abraçando novas realidades dos povos indígenas sem vez e sem voz. Uma caminhada de escuta, de luta por cada território e a sobrevivência de cada povo frente a um mundo hostil. Uma história de estar com, em um processo de inculturação, tendo como palavras chave: terra, cultura e direitos indígenas.
Celebração do Cimi contou com indígenas, amigos, aliados e companheiros de caminhada. (Foto)
Uma história construída de um processo de diálogo e de esperança dentro da Igreja católica, contra os projetos de morte contra os povos indígenas, frente às tentativas de assimilação de eles deixarem de ser indígenas, diante do fascínio pela civilização e o progresso, frente à resistência dos povos. Uma opção que trouxe perspectivas de diálogo desde o reconhecimento da diversidade presente no Brasil, frente a um modelo econômico e sócio-político, buscando uma conscientização sobre a existência e resistência dos povos indígenas, mas também a autodeterminação e protagonismo desses povos, que possibilitasse a organização e a luta, a construção de alianças e políticas públicas diferenciadas.
Assim foi feita a memória dos mártires e uma lembrança dos fatos marcantes em cada uma das décadas na voz de missionários do Cimi. Tudo isso intercalado com músicas, cantos indígenas, testemunhos sobre o que é ser Cimi, palavras que emocionaram os presentes e lembraram a importância da vida encarnada ao longo de 50 anos de caminhada, algo concretizado em muitos rostos e nomes recordados ao longo da celebração, algo importante para continuar a caminhada contribuindo com a missão do Cimi, uma caminhada chamada a traspassar fronteiras territoriais e eclesiais, a seguir construindo uma pastoral indígena latino-americana, ecumênica e inter-religiosa.
Uma história que tornou o Cimi uma referência para o mundo na defesa dos povos indígenas, segundo Dom Erwin Kräutler, presidente do Cimi por muitos anos. O bispo emérito do Xingu lembrou a vida entregada de tantos missionários e missionárias ao longo dos 50 anos de caminhada, daqueles que junto com os povos indígenas têm construído uma história de luta e resistência.
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50 anos do Cimi: “Novas formas de estar presentes com os povos indígenas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU