06 Agosto 2021
As pessoas LGBTQIA+ e aliados conhecem bem as estatísticas que detalham as injustiças que essa comunidade enfrenta – altos níveis de suicídio, desabrigo, rejeição familiar, pobreza, para nomear algumas. Muitos católicos, no entanto, talvez não tenham noção destas realidades.
Para ajudar a informar melhor a Igreja, o jesuíta estadunidense James Martin compilou algumas estatísticas em um artigo para a revista America (publicado em português pelo IHU) que tocou em ambas questões e fora da Igreja. Alguns dados podem ser dolorosos. Em uma questão, 72% das pessoas LGBTQIA+ entrevistadas disseram que se sentiram desconfortáveis e/ou foram discriminadas em um espaço católico.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 06-08-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Para Martin, essas realidades tornam claro, em estatística, que somos chamados para a ação, não para desistir. Ele concluiu sua análise da pesquisa com essas palavras:
“Esses fatos podem chocar os católicos. Mas não devem nos esmagar ou nos levar à desesperança. Porque a desesperança não vem de Deus. Neste caso, como nós respondemos ao que nós sentimos quando escutamos essas terríveis estatísticas? Como sempre, olhando para o exemplo de Jesus – que sempre tomou o lado dos rejeitados, marginalizados, isolados, zombados, espancados ou abusados – pode nos ajudar a seguir em frente. Essas estatísticas devem nos fazer querer nos aproximar de nossos irmãos, irmãs e irmanes, com a mesma ‘proximidade, compaixão e ternura’, para usar as palavras do Papa Francisco, com que Deus se aproxima deles”.
O ministério do padre Martin com pessoas LGBTQIA+ tem sido manchete nos últimos meses com o lançamento de um novo documentário sobre isso, intitulado “Building a Bridge” (“Construindo uma ponte”, em tradução livre). Um crítico da The Daily Beast escreveu sobre suas emoções quanto à obra:
“Há um elemento inspirador e alegre no documentário Building a Bridge. Estranhamente, pode ser por isso que você não consegue sair dele sem se sentir um pouco abatido”.
“Como você ajusta os dois: o otimismo e o desejo de mudança com o cinismo da realidade da Igreja? Especialmente depois do decreto do Vaticano contra a homossexualidade em março, pode parecer impossível. Mas o que é fé, senão certeza – talvez até esperança – em face de tal impossibilidade?”, continuou.
Outras resenhas foram publicadas no The Washington Post, The Playlist e na America. A Rolling Stone apresentou uma entrevista com os cineastas Evan Mascagni e Shannon Post, que você pode ler neste link (em inglês). Para o National Catholic Reporter, Martin deu uma entrevista na qual explicou um pouco sobre como se envolveu com o trabalho:
“Antes de 2016, eu tinha escrito sobre pessoas LGBTQIA+ e defendido elas de vez em quando na revista America. Mas eu nunca tinha feito nada formalmente. Eu nunca fiz parte de um grupo de evangelismo ou pastoral LGBTQIA+”.
“A resposta morna de muitos líderes da Igreja após o massacre da boate Pulse me fez pensar que, mesmo na morte, essas pessoas são invisíveis para a igreja. E isso levou a uma palestra no New Ways Ministry, que levou a um livro, que levou a este ministério, que faço com muitas outras pessoas. Ele me convidou a ser um pouco mais público sobre a defesa da comunidade”.
No geral, o filme recebeu críticas positivas, embora alguns expressem ceticismo sobre o que é realmente possível mudar nas questões LGBTQIA+ na Igreja. Mas como o padre Martin comentou acima, a resposta não é desespero, mas esperança expressa no trabalho pastoral. Que a construção da ponte continue.
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As realidades das injustiças à comunidade LGBTQIA+ não deveriam levar à desesperança, diz padre James Martin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU