29 Outubro 2019
Grande parte da população que não participava das medidas é refém das paralisações, impossibilitada de ir ao trabalho e à escola.
“Quem se opõe à auditoria é o senhor Carlos Mesa, que tem medo, porque quem perdeu as eleições e denuncia fraude se opõe a que se faça a recontagem e que organismos internacionais venham auditar ata por ata?”, questionou García Linera. Também apontou que o objetivo de Mesa “é voltar ao voto censitário” e denunciou que “pedir a renúncia do presidente Morales, desconhecer o voto das maiorias, incitar distúrbios, intimidar jornalistas, sair em camionetes à procura de collas (indígenas e mestiços da região andina), queimar instituições, mandar bater em campesinos” são atos antidemocráticos. “Carlos Mesa é um mau perdedor que instruído para que não se reconheça a vontade popular está gerando muito sofrimento aos trabalhadores, aos campesinos, às donas de casa, é o povo que sofre a violência”, pontuou.
A reportagem é de Sebastián Moro, publicada por Página/12, 29-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
As principais cidades amanheceram paralisadas por bloqueios e uma greve nacional contra o resultado das eleições que determinaram um novo mandato presidencial a Evo Morales. O vice-presidente Alvaro García Linera anunciou que já se trabalha em como se implementar a auditoria dos votos que é respaldada pela ONU.
A convocatória à paralisação foi realizada por setores que por esses dias se congregam na “Coordenadoria Nacional da Democracia” – CONADE –, recentemente formada pelos políticos e os chamados “comitês pró-cívicos”, que desde muitos anos congregam os mais acirrados opositores ao governo do Movimiento Al Socialismo – MAS. Na coletiva de imprensa desta manhã, García Linera definiu a CONADE como “a maior conspiração contra o voto dos bolivianos”.
Desde as cinco da manhã a “paralisação cívica” se manifestou através de bloqueios nas principais rodovias do país e em centenas de esquinas estratégicas de cidades como La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Como se fosse uma parábola da luta de classes, os atuais bloqueios cortam nas medidas de força que se realizavam nos anos 1970, 80 e 90 mineiros, indígenas e cocaleiros em um Bolívia afundada na miséria e roubos. Ressurgiram em anos recentes como forma de protesto de setores médios e altos contra Evo Morales, em torno do lema “Bolívia disse não” e consiste em piquetes de meia-dúzia de pessoas com cintas plásticas, paus e pedras nas esquinas.
Pelas características geográficas do território bolivianos, nas cidades o transporte público utilizado massivamente são os micro-ônibus, e quando há bloqueios não há “micros”, com os quais pode se dizer que grande parte da população que não participa das medidas é refém da situação, com centenas de milhares de pessoas impossibilitadas de ir aos seus lugares de trabalhos e crianças sem poder ir à escola. Também se prejudica o comércio e a atividade bancária, que mesmo estando em funcionalmente, diminuiu seu fluxo.
Os protestos incorporaram desde sexta-feira passada a realização de panelaços a partir das 9 da noite, ainda que fossem minguando durante o fim de semana. E se dá por certo que esta tarde retomem as manifestações em formas de revoltas que realizam principalmente grupos de jovens. Por outro lado, e em defesa do governo, se presume que será multitudinária a mobilização convocada para essa tarde em El Alto pelos movimentos sociais, “uma celebração festiva”, segundo classificou García Linera.
Depois de um fim de semana em que o clima política esteve atravessado por denúncias cruzadas entre governo e oposição, sem avanços para destravar a situação eleitores que desencadeou a crise política no país, García Linera oficiou como porta-voz do governo em coletiva de imprensa, denunciou as tentativas de golpe de Estado, condenou as medidas de força e chamou a sensatez dos opositores, os quais já nem sequer pedem a realização de uma segunda volta senão que vão pela impugnação da primeira.
Em primeiro lugar anunciou a criação nas próximas 72 horas de uma comissão de autoridades eleitorais para fixar como se auditará “o voto a voto” junto a funcionários da Organização dos Estados Americanos e outros organismos, baseado na “vontade do governo para que seja transparente todo o processo eleitoral”. Depois provocou a oposição, principalmente ao ex-presidente e candidato que ficou em segundo lugar, Carlos Mesa, por ser o principal instigador local da atual desestabilização e “o fantoche político” de “uma confabulação perfeita”, que completariam Carlos Sánchez Berzaín, ex-funcionário, responsável político dos massacres cometidos durante o governo de Sánchez de Lozada e prófugo da justiça boliviana – e Branko Marinkovic – milionário, empresário de Santa Cruz, e agitador do separatismo e da violência entre 2006 e 2008 –, aquele “que põe o dinheiro”.
“Quem se opõe à auditoria é o senhor Carlos Mesa, que tem medo, porque quem perdeu as eleições e denuncia fraude se opõe a que se faça a recontagem e que organismos internacionais venham auditar ata por ata?”, questionou García Linera. Também apontou que o objetivo de Mesa “é voltar ao voto censitário” e denunciou que “pedir a renúncia do presidente Morales, desconhecer o voto das maiorias, incitar distúrbios, intimidar jornalistas, sair em camionetes à procura de collas (indígenas e mestiços da região andina), queimar instituições, mandar bater em campesinos” são atos antidemocráticos. “Carlos Mesa é um mau perdedor que instruído para que não se reconheça a vontade popular está gerando muito sofrimento aos trabalhadores, aos campesinos, às donas de casa, é o povo que sofre a violência”, pontuou.
Ademais repudiou as incitações ao golpe de Estado promovidas durantes dias passados desde Miami por Sánchez Berzaín, quem definiu como “o assassino de El Alto e Warisata”, e de Branko Marinkovic, “o separatista do dinheiro”, quem evocou seus antecedentes em graves feitos ocorridos em Santa Cruz, em 2008, e que baseado que “os trabalhadores migrantes tinham que tramitar um passaporte especial para trabalhar no Oriente”. Eles, junto ao “assassino neoliberal” de Mesa, são aqueles que “pretendem colocar fogo na Bolívia”, apontou o vice-presidente.
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Bolívia sitiada pelas paralisações - Instituto Humanitas Unisinos - IHU