Por: Lara Ely | 09 Setembro 2017
A confirmação pelo Sistema Nacional de Segurança Pública do México de que o número de desaparecidos subiu de 26 mil para 32 mil, serviu de termômetro para mostrar o tom dramático da violência no país. Ampliada há uma década, quando o então presidente Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional – PAN iniciou a chamada guerra contra o tráfico, a contabilidade dos desaparecimentos traz números alarmantes, como a média de 13 casos por dia. Com a participação do Exército e da Polícia na guerra ao tráfico, estima-se uma média de um desaparecimento a cada uma hora e cinquenta e dois minutos, sendo 40% deles jovens entre 15 e 29 anos.
A informação é do site Desaparecidos, resultado da pesquisa em jornalismo e assuntos públicos do Centro de Investigação Econômica e Ensino do México. Os dados expõem a profunda crise de justiça e direitos humanos no país. A investigação reúne, organiza e e compara as estatísticas dos últimos dois governos e conclui que nesses seis anos, o total de desaparecidos dobrou.
“Entre 2007 e 2012, no sexênio de Calderón, desapareceram seis mexicanos ao dia; entre 2013 e 2014, no deu Peña Nieto, desapareceram mais do que o dobro: 13 ao dia. Com Calderón se extraviava o desapareciam um mexicano cada quatro horas e cinco minutos; com Peña Nieto ele ocorre cada hora com 52 minutos”, informa reportagem do portal.
Os dados das duas gestões coincidem que desapareceram mais homens que mulheres – 60% no registro do governo de Calderón; 71% no de Peña Nieto. Outro dado que chama a atenção na base de Peña Nieto é que um a cada 10 desaparecidos (11.3%) é uma criança entre 0 e 4 anos.
A formação de quadrilhas, milícias e grupos paramilitares na América Latina atravessam ditaduras e democracias e são apontados como os principais responsáveis pelos desaparecimentos em países como o Brasil, Colômbia, El Salvador e Honduras, além do México. Responsabilizados pela maior parte dos sumiços, os narcotraficantes mexicanos fazem de vítimas migrantes de quem exigem pagamento de resgate pela própria vida. Também capturam profissionais gabaritados como engenheiros, eletricistas ou pessoas que conhecem mais de uma língua, para que possam servir ao sistema do crime e colaborar na criação de sistemas de informação paralela ao crime organizado. Essas pessoas são capturadas pelo seu conhecimento e atuam em áreas estratégicas do crime.
Muitos desses desaparecidos ficam em “casas de segurança”, que são um tipo de campo de concentração, dispostos em uma rígida e funcional estrutura que serve para vários fins, tais como tráfico humano e de órgãos. Lá, eles servem como força de trabalho.
Frequentemente, é o Exército e a polícia quem sequestram e entregam aos grupos criminosos a mão de obra a ser escravizada. As organizações que buscam desaparecidos sabem bem disso: “Quando denunciamos um desaparecimento, muito provavelmente estamos pedindo justiça às mesmas pessoas que lhes levaram embora”, denuncia a associação “Vida”, formado por familiares e amigos de pessoas desaparecidas que se auto organizam, transformando-se em “buscadores”.
Tensão na fronteira reforça crimes
A área fronteiriça do México com os Estados Unidos, que vive sobre influência de carteis de drogas, é cenário para outros crimes como abuso sexual, homicídios, sequestro e tráfico de pessoas. Por ali, é alto o número de pessoas que morrem na travessia. A cifra, no entanto, pode ser maior porque não há controle de quem passa, uma vez que a maioria busca rotas controladas por narcotraficantes. A maioria dos casos é registrada como desaparecimento. Há, também, inúmeros casos de crianças desacompanhadas na fronteira entre os Estados Unidos e o México, sobretudo na parte do Texas. Em 2016, foram detidos mais de 54 mil menores sozinhos e mais de 68 mil famílias na região.
Entre as crianças “solitárias”, há uma parcela que é nascida nos Estados Unidos e que viaja para o México a fim de visitar familiares que foram deportados ou mesmo para levar malas ao país. Também há registro de crianças perdidas que não conseguem concluir a viagem e nem regressar ou reencontrar os familiares. As crianças na fronteira também são suscetíveis ao recrutamento pelos carteis de drogas e à exploração sexual.
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No México, uma pessoa some a cada duas horas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU