Papa Francisco: é preciso refletir sobre os "viri probati"

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09 Março 2017

O Papa Francisco acredita que devemos refletir sobre os "viri probati", homens casados com fé notável a quem confiar algumas funções sacerdotais para suprir a falta de vocações em algumas áreas, mas excluiu a abolição do celibato obrigatório, em uma entrevista ao jornal alemão "Die Zeit".

A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 08-03-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.

"Precisamos analisar se os "viri probati" são uma possibilidade", afirmou Jorge Mario Bergoglio, e "devemos também estabelecer as tarefas que poderiam assumir, por exemplo, em comunidades isoladas. A Igreja deve sempre reconhecer o momento certo em que o Espírito pede por algo." Francisco salientou que "a vocação dos sacerdotes representa um problema enorme" e que "a Igreja deverá resolvê-lo", mas "o celibato livre não é uma solução", nem abrir as portas dos seminários a pessoas que não têm uma verdadeira vocação . "O Senhor nos disse: 'Orem'. É isso que falta: oração. E trabalhar com os jovens que buscam orientação." Um trabalho "difícil", mas "necessário", porque os jovens pedem isso.

O Papa concedeu uma entrevista no final de fevereiro ao diretor da "Die Zeit", e será publicada no dia 09-03-2017, quinta-feira, na íntegra. Esta é a primeira entrevista deste pontífice a uma publicação alemã.

O Papa não se posicionou sobre a questão das mulheres "diaconisas", mas lembrou que havia criado uma comissão no Vaticano para estudar a questão. Ele também salientou que o desenvolvimento do debate será apresentado durante a próxima reunião deste órgão.

Francisco também sobre falou de algumas questões de governo, começando com a questão da Ordem de Malta: "Para mim, o Cardeal Burke não é um adversário", afirmou. E explicou que o cardeal estadunidense é o Patrono da Ordem, mas não podia ser criticado porque "não estava agindo sozinho" e que foi necessário "colocar a Ordem em ordem e, por isso, enviei um delegado com um carisma diferente do de Burke". O pontífice argentino lembrou que Burke é um excelente jurista, como demonstrado na mensagem encaminhada a ele sobre um caso de abuso sexual em Guam, para onde o Papa o enviou: "Agradeço-lhe muito por isso", explicou o Papa, rejeitando a ideia de alguns de que ele havia enviado Burke para livrar-se dele.

Quanto aos cartazes contra o Papa que apareceram na cidade de Roma, ele disse: "o dialeto romano dos cartazes era maravilhoso". "Não foram escritos por qualquer um da rua, mas por uma cabeça inteligente", comentou. O Papa, em geral, explicou: "Desde que fui eleito Papa, não perdi a minha paz. Entendo que minha forma de atuação não agrada a todos, e isto está absolutamente bem. Todos podem ter sua opinião. Isto é legítimo, humano e enriquece." Os cartazes e a falsa capa do "L'Osservatore Romano" dedicada às dúvidas ("dubia", em latim) que quatro cardeais enviaram-lhe também enriquecem? "'L'Osservatore' falsificado, não."

O Papa insistiu que não quer ser idealizado: "Não digo que eu seja um pobre diabo, mas sou uma pessoa normal, que faz o que pode. É como me sinto." "Eu - explicou Francisco na entrevista intitulada "Sou pecador e sou falível" - sou pecador e sou falível, e não devemos esquecer que a idealização é uma forma de agressão. Quando sou idealizado me sinto agredido", porque a idealização não permite que alguém seja "um pecador falível".

Na entrevista ao "Die Zeit", Francisco também falou sobre alguns momentos obscuros: "refiro-me a momentos sombrios e momentos vazios. Também conheço os momentos vazios." "Há momentos obscuros - explicou -, em que digo: 'Senhor, eu não entendo'. E não só momentos de escuridão interna, mas aflições causadas por mim mesmo com meu pecado". O Papa recordou que "a fé é um dom. É dada", mas, se você não conseguir atravessar a crise, não cresce e corre o risco de permanecer infantil.

Francisco lembrou que tinha uma namorada antes de escolher o sacerdócio e ressaltou que não tinha planos de casar com ela.

Na entrevista, o papa argentino também abordou questões políticas atuais, tais como o desemprego dos jovens, o problema da baixa taxa de natalidade e o populismo, "que usa o povo". "O populismo é ruim e acaba mal - afirmou -, como vimos no século passado."

Ele também recordou sua viagem a Lund, na Suécia, no ano passado, para celebrar o 500º aniversário da Reforma Luterana e indicou que este ano não irá para a Alemanha, onde a Igreja Protestante e a Igreja Católica celebrarão o evento de 1517 com várias cerimônias em conjunto. Este ano, ele explicou, "a agenda está muito cheia". Quanto a 2018, disse: "Eu ainda não sei, não há nada programado".

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