O Papa e a saúde: discrição e grande capacidade de suportar

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07 Julho 2021

 

"Nas doenças alheias sabe se fazer próximo com a mesma delicadeza que vira mostrar pela freira durante a sua. Um estilo que não poderia ser assim sem uma forte visão espiritual. Ele sabe como intervir na hora certa, sem que lhe seja pedido. Por uma situação clínica grave que me preocupava, expressei todo o meu medo por possíveis recaídas e ansiedade pelo futuro. Ele me disse: 'Não deve temer pelo futuro. O tempo é de Deus, o futurível é do diabo'", escreve Stefania Falasca, jornalista, em artigo publicado por Avvenire, 06-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

Há dois dias Bergoglio foi submetido à segunda anestesia geral, 65 anos após a cirurgia pulmonar. Além de problemas de idade e uma ciática dolorosa, ele não tem nenhuma patologia específica. Desde este inverno - mas na realidade já há algum tempo - o Papa Francisco acusava um certo desconforto provocado pela inflamação dos divertículos. Considerado o momento mais oportuno, na ausência de inflamação em curso, optou-se por uma intervenção programada em um período de relativa calma dos compromissos. Assim, após o Angelus de domingo, no qual ele anunciou sua próxima viagem em setembro a Budapeste e à Eslováquia, sem o som de trombetas - como é seu estilo - e apenas com objetos pessoais, subiu no carro colocado à sua disposição e foi ao hospital Gemelli. Para uma cirurgia pouco complexa, embora delicada para qualquer um devido à idade, por ser uma patologia bastante comum. Esta é a primeira internação de Jorge Mario Bergoglio desde que assumiu o cargo de Pedro, há oito anos, e a segunda grande cirurgia com anestesia total de sua vida: referimo-nos à operação do pulmão direito que ele fez sessenta e cinco anos atrás em Buenos Aires, no auge da juventude, aos 21 anos.

Na verdade, nunca houve muito a dizer sobre a saúde do Papa em geral. Exceto seus problemas crónicos e as doenças típicas da idade, como a catarata - resolvida há dois anos sem afixar cartazes e enfrentada como um idoso qualquer -, por ter 84 anos, sua saúde é certamente quase de ferro. Basta ver a resistência demonstrada no tour de force de suas viagens internacionais nestes anos de pontificado. Inclusive a última no Iraque - definitivamente muito exigente para nós que o seguimos em campo - para o Papa foi a única em que, ao regressar, admitiu um ligeiro cansaço.

Ouvi ele mesmo falar da primeira cirurgia ao pulmão, que o impediu de ir como missionário ao Japão, nos anos em que era cardeal. Disse que sempre acreditou que se curaria, destacando que a recuperação foi completa e que nunca sentiu qualquer limitação em suas atividades. Além disso, mesmo em várias viagens internacionais, ele nunca teve que reduzir ou cancelar nenhuma das atividades programadas, nem sentiu cansaço de dispneia: "Como os médicos me explicaram - disse ele - o pulmão direito se expandiu e cobriu todo o hemitórax homolateral”.

Ele falou daquele momento particular de sua vida, demonstrando grande capacidade de suportar o sofrimento. Contou que numa das dolorosas terapias para limpar a ferida da operação uma freira disse-lhe algo que o confortou e ajudou a compreender na dimensão espiritual o que estava passando: “Com a tua dor imitais Jesus”. Disse várias vezes que aquelas palavras ditas à sua cabeceira pela freira o ajudaram a tomar a decisão que marcou o seu futuro: entrar na Companhia de Jesus.

Um problema recorrente para o Papa Francisco é a ciática, para a qual segue um programa de fisioterapia. Sua exacerbação ligada a problemas no trato final da coluna vertebral se manifestou também recentemente, no período entre o final do ano passado e o início do novo, obrigando-o a não comparecer a algumas celebrações na Basílica de São Pedro, nas quais esteve substituído pelo cardeal decano Giovanni Battista Re e pelo secretário de estado Pietro Parolin.

As dores devido à inflamação do nervo ciático o colocaram em dificuldades várias vezes, em alguns períodos até severamente. Lembro que em outubro de 2007, tendo que vir ao Vaticano para o Consistório, não pôde participar por causa das fortes dores que o atingiram durante a viagem - em classe econômica - de Buenos Aires a Roma. Ele foi acompanhado pela minha família para o tratamento do caso, e também naquela época demonstrou um grande equilíbrio e uma forte tolerância à dor.

Nas doenças alheias sabe se fazer próximo com a mesma delicadeza que vira mostrar pela freira durante a sua. Um estilo que não poderia ser assim sem uma forte visão espiritual. Ele sabe como intervir na hora certa, sem que lhe seja pedido. Por uma situação clínica grave que me preocupava, expressei todo o meu medo por possíveis recaídas e ansiedade pelo futuro. Ele me disse: “Não deve temer pelo futuro. O tempo é de Deus, o futurível é do diabo”.

 

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