A cheia do rio Negro este ano deve atingir entre 28,74 e 29,34 metros, segundo previsão do Inpa

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22 Março 2019

Para o pesquisador Jochen Schöngart, nas últimas três décadas, tem-se observado um aumento da frequência e magnitude de cheias extremas e a cheia prevista para junho de 2019 tem novamente o potencial de alcançar um nível da água acima de 29 metros.

A reportagem é publicada por Inpa e reproduzida por Amazonia.org, 21-03-2019.

A cheia do rio Negro para este ano, em Manaus, deverá alcançar um nível de 29,04 metros com uma margem de erro de 30 centímetros para cima ou para baixo (28,74 a 29,34 metros). A informação tem como base o modelo matemático de previsão de cheias do rio Negro desenvolvido pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), Jochen Schöngart, do Grupo de Pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (MAUA). Pelo modelo, este ano haverá uma cheia que potencialmente causará problemas na cidade de Manaus e nas zonas rurais da região.

De acordo com o pesquisador, o modelo de previsão é uma ferramenta importante para se fazer previsões e evitar possíveis desastres com antecedência de três meses do pico da cheia, normalmente ocorrendo no mês de junho na região da Amazônia Central. “Isto permite que as autoridades tomem providências em casos de cheias severas previstas, tanto na zona urbana quanto na zona rural do Estado”, diz Schöngart.

A partir de 2012, Schöngart adotou uma nova metodologia que integra mais parâmetros independentes para fazer uma nova modelagem e mais “robustas estatisticamente”, reduzindo o erro médio da previsão para 30 cm para cima e para baixo. O pesquisador explica também que a nova modelagem de previsão de cheias utiliza uma série temporal longa de dados disponíveis a partir de 1951 até 1990, que foram utilizados para fazer a calibração do modelo, além de dados de 1991 até os dias de hoje para fazer a validação e testar se o modelo é capaz de prever cheias com antecedência de mais de três meses.

Em comparação com o mesmo período do ano passado, o rio Negro, até o dia 15/03, estava com 1,30 metros acima do nível na mesma data marcando 25,81 metros. Porém, em comparação com os meses anteriores o rio encheu pouco neste mês de março, passando por um fenômeno chamado de repiquete nos últimos dias, que é a estagnação do nível das águas até uma pequena descida.

“Este fenômeno é acentuado em anos de El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas superficiais do Pacífico Equatorial na região central-leste. Este ano, as anomalias de temperaturas das águas superficiais indicam a evolução de um El Niño fraco que geralmente afeta as cabeceiras das regiões do norte, central e leste da Bacia Amazônica”, explica Schöngart.

Pelo monitoramento das sub-bacias, realizado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), os rios Negro e Branco possuem níveis da água abaixo das médias observados neste período, mas os rios Solimões e Madeira possuem níveis expressivamente altas para este período do ano. O rNegro na região de Manaus atinge seu nível máximo geralmente na segunda quinzena de junho.

O pesquisador lembra que no Porto de Manaus há um registro excepcional de medições do nível da água que começaram em setembro de 1902. Trata-se de uma série histórica longa que abrange mais de 116 anos. Depois de uma série de cheias extremas, o modelo prevê novamente uma cheia acentuada acima da média das enchentes históricas.

Tendência

Segundo Schöngart, tem-se observado nos últimos 30 anos a tendência de aumento de cheias que resultaram nas duas maiores cheias no registro de 2009 (29,77 metros) e 2012 (29,97 metros). Com as cheias nos anos subsequentes de 2013 (29,50 metros), 2014 (29,33 metros), 2015 (29,66 metros) e 2017 (29,00 metros) a região passou por seis cheias extremas durante os últimos dez anos. No período antes da década de 1970 somente nos anos de 1953, 1922 e 1909 foram registradas cheias severas passando o nível crítico de 29 metros. “Este aumento da frequência e magnitude de eventos extremos das cheias é resultado de uma intensificação das Células de Walker”, explica o pesquisador Schongart.

Esse sistema influencia padrões climáticos e pluviométricos principalmente em regiões tropicais movido pelas diferenças de temperaturas e pressão atmosférica sobre os oceanos tropicais, particularmente os oceanos Pacífico e Atlântico e como eles interagem. Devido ao forte aquecimento do Oceano Atlântico e ao resfriamento do Pacífico no mesmo período a convecção e precipitação intensificou na Amazônia, principalmente nas regiões central e norte da bacia. O Pacífico mudou recentemente de uma fase fria para uma fase quente, porém a tendência de aquecimento do Atlântico tropical deverá continuar nos próximos anos.

“Sabe-se também que oscilações multidecadais (oscilações de baixa frequência que não mudam ano por ano e sim ao longo de décadas) também têm fortes influências no regime, como, por exemplo, a Oscilação Multidecadal do Atlântico que tem mais influência nas secas e a Oscilação Decadal do Pacífico que tem influência no regime de cheias.

A hidrologia da Amazônia é complexa pelas dimensões da maior hidrobacia do mundo com quase 20% da descarga de água doce para os oceanos. Os três grandes oceanos influenciam a convecção e precipitação na Amazônia pala variação ano por ano da temperatura nas superfícies, mas também pelas oscilações de baixa frequência ao longo de décadas. “Isto mostra a complexidade da hidrologia na Amazônia e a necessidade de sofisticar os modelos de previsão conforme que o nosso conhecimento sobre os fatores que influenciam a Amazônia e os mecanismos por trás disso avança”, destacou Schöngart.

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