08 Fevereiro 2022
Breves reflexões a partir da obra Oracolo manuale, do pensador jesuíta espanhol Baltasar Gracián, publicada em 1647.
O artigo é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 06-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
As coisas não são percebidas pelo que são, mas por como aparecem. Poucos são os que olham profundamente, muitos são os que se satisfazem com as aparências.
Simular e dissimular, mascarar e desmascarar, velar e revelar: esses são os dois extremos que muitas vezes regem as relações sociais. Por um lado, vestir um perfil hipócrita e, pelo outro, correr o risco de que seja arrancado e, como dizem, o rei fique nu.
Este é precisamente um dos temas dominantes do Oracolo manuale, uma coletânea de trezentas máximas cunhadas por um original pensador jesuíta espanhol, Baltasar Gracián, que as publicou em 1647. O subtítulo era significativo: "a arte da prudência", na ciência de que - à maneira evangélica - neste mundo é preciso mover-se com a simplicidade da pomba, mas também com uma boa dose da prudência da serpente.
Ele continuou de modo inexorável: "As coisas não acontecem pelo que são, mas pelo que parecem... O que não se vê é como se não existisse... Nossa vida se desenrola como em uma comédia e só no final vai acontecer a revelação”.
Quem sabe o que ele teria escrito se tivesse vivido em nossos dias em que o fingimento, também ajudado pela comunicação televisiva e informática, é quase o estilo de vida imperante.
Antes de Gracián, já Maquiavel no Príncipe não hesitava em afirmar que "todo mundo vê o que você parece, poucos sentem o que você é". Mas também é verdade que não se pode usar máscara por toda a vida sem correr o risco de se desvendar...
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