22 Junho 2023
Os bispos dos EUA votaram por unanimidade em sua assembleia, realizada semana passada, para iniciar as revisões de suas diretrizes médicas que podem levar à proibição de tratamentos de afirmação de gênero em hospitais católicos.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 22-06-2023.
Como o Bondings 2.0 relatou anteriormente, um item de ação desta assembleia da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB) era revisar ou não as Diretrizes Éticas e Religiosas (ERDs, em inglês), que determinam quais serviços podem ou não ser fornecidos na saúde católica. Embora o processo não se concentre apenas no atendimento de pacientes transgêneros, essa questão fará parte das revisões. A recente nota doutrinária da Comissão de Doutrina sobre transições de gênero, que foi bastante negativa, provavelmente informará as revisões, alarmando os defensores LGBTQ+.
O item, aprovado por unanimidade por voto verbal, foi apresentado por dom Daniel Flores, da diocese de Brownsville, presidente da comissão doutrinária. No entanto, alguns bispos expressaram preocupação com possíveis mudanças nas ERDs em relação a pacientes trans, de acordo com o National Catholic Reporter:
"Antes da votação, vários bispos expressaram a esperança de que a comisão consultará amplamente os provedores de saúde católicos e outros enquanto revisa as diretrizes éticas e religiosas, ou ERDs, que também incluem os mandatos dos bispos sobre questões que incluem fim cuidados de vida e aborto.
O cardeal Joseph Tobin, de Newark, Nova Jersey, também pediu consultas a representantes da comunidade transgênero, observando a importância de ouvir as pessoas.
O cardeal de San Diego, dom Robert McElroy, disse que as diretrizes de saúde dos bispos 'destinam-se a ser um documento médico pastoral para informar e orientar' os ministérios católicos de saúde da nação.
Ao National Catholic Reporter, Tobin falou que a nota doutrinária de 20 de março refletia 'consultas limitadas' com a comunidade transgênero. 'É preciso ampliar', disse ele, acrescentando que espera que a comissão doutrinária tenha ouvido essa mensagem".
O mesmo site relatou comentários de dom Michael Olson, de Fort Worth, que está na comissão. Ele afirmou que há “uma falta de clareza entre o que é disforia de gênero autêntica e a ideologia de gênero que, em parte, está atacando essas pessoas e aumentando seu sofrimento". Ainda segundo ele, a comissão "consultou extensivamente os membros da comunidade transgênero. Ele informou que também se encontrou com a irmã dominicana, Luisa Derouen, que ministra entre a comunidade transgênero desde a década de 1990.
"Isso envolveu muita escuta", disse Olson, que se recusou a dar um cronograma de quando a Comissão de Doutrina poderia terminar as revisões. Ele disse que o grupo procederá com cuidado. Descreveu ainda a revisão das diretrizes como um processo sinodal que exigirá uma escuta significativa para mostrar sensibilidade pastoral e compaixão às pessoas, mantendo-se fiel à doutrina moral católica.
As revisões das ERDs podem proceder de forma diferente da nota doutrinária. No entanto, apesar da afirmação de Olson de que pessoas trans foram consultadas, muitos observadores criticaram a nota por qualquer referência ou reconhecimento de tal engajamento. Em vez disso, a bioética M. Therese Lysaught disse que a nota "poderia ter sido escrita na década de 1950", acrescentando que mostrava "quase zero conhecimento, experiência ou especialização em pessoas transgênero e as complexidades dos cuidados de saúde católicos, ainda menos compaixão ou virtude cristã".
Até mesmo Michael Sean Winters, colunista do National Catholic Reporter não inclinado aos direitos dos transgêneros, concordou na semana passada que as revisões das ERDs eram preocupantes, pois "é difícil imaginar como essa discussão não abrirá uma nova frente na cultura guerras pelos bispos".
Incluída em seu comentário estava uma seção notável sobre como os bispos da comissão até agora rejeitaram as sugestões da Associação Católica de Saúde (CHA, na sigla em inglês). Winters relatou uma conversa que teve com a irmã Mary Haddad, RSM, presidenta da CHA:
"Em uma reunião que tivemos com a equipe da USCCB mês passado, fomos informadas de que o próximo passo para a adoção da nota doutrinária é revisar as ERDs, disse Haddad por e-mail. 'Isso não é uma surpresa para mim. O corpo de bispos deve concordar em iniciar um processo para revisar as diretrizes. Se eles apoiarem o processo, sei que o CHA estará envolvido'".
A religiosa acrescentou a parte que me preocupou. "A nossa Associação trabalha em estreita colaboração com a USCCB. Revisamos a nota doutrinária, mas as nossas sugestões não foram aceitas. Se a conferência dos bispos não está ouvindo a Associação Católica de Saúde, a quem eles estão ouvindo?"
Winters citou um grupo a quem muitos bispos ouvem quando se trata de questões de gênero, sexualidade e saúde reprodutiva, o direitista National Catholic Bioethics Center. Ele concluiu:
"Os bispos precisam ouvir os profissionais de saúde católicos da linha de frente representados pela Associação Católica de Saúde, não os guerreiros culturais que agora comandam o poleiro no National Catholic Bioethics Center. Não há necessidade premente de mudar as Diretrizes Éticas e Religiosas e qualquer esforço para fazê-lo provavelmente fará com que a Igreja seja vista, mais uma vez, como um marechal de campo nas guerras culturais. Não é uma boa forma de representar os pastores".
Com o voto dos bispos, as revisões dos ERDs, incluindo como o cuidado de afirmação de gênero é tratado, prosseguirão. A Comissão de Doutrina deve ouvir uma infinidade de vozes, incluindo alguns de seus colegas bispos, bem como teólogos, bioeticistas, profissionais de saúde, defensores de LGBTQ + e, o mais importante, as próprias pessoas trans e não binárias, todos e todas pedindo uma ampla e inclusiva consulta minuciosa antes de serem feitas alterações que impactarão grandemente, e talvez de forma prejudicial, pacientes em hospitais católicos.
