18 Fevereiro 2022
"O jornalismo pode ser predador ou enfrentar os embates para ser parte do ecoplanejar a vida, expressar-se como membro ativo da cultura de respeito à diversidade, desnudar as mentiras e denunciar todas as formas de opressão", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Comunicação, articulista no jornal A Crítica de Manaus, co-fundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).
Trabalhadoras e trabalhadores do Jornalismo têm jornada desafiadora este ano. Não porque tem eleição nacional e sim pelo contexto dessa eleição. O trabalho exige, desde já, o bom manejo das ferramentas de checagem e a revitalização da reportagem em desafio ao jornalismo de aquário ora compreendido por muitos como o jeito pós-moderno de fazer jornalismo.
A rua, o lixo, o pessoal do serviço de entrega, do café, da água e, dos lanches, permanecem como fontes preciosas para obtenção de dados, dos fragmentos de realidades, sem descuidar da leitura cuidadosa dos documentos espalhados em caixas abertas ou fechadas. Para o jornalismo, a eleição nacional é acontecimento-teste que implicará na reafirmação desse campo de saber e de trabalho como espaço de relevância na arte de mediar e informar a população ou o lançará em nível mais profundo ao túnel do descrédito, da indecência e da hipocrisia.
A ética profissional é reconvocada como base de sustentação dos atos e da consciência. Banalizado, atacado e coisificado, o postulado ético humano, do jornalismo e das profissões está colocado, nesse tempo de crise aguda no Brasil, como um dos suportes da base para transformar realidades de destruição ecológica. Sem a observância do preceito ético não será possível retirar o tecido apodrecido e suas raízes para que o corpo social ganhe substância e viva e faça viver o estado de dignidade sociocultural.
O jornalismo tem muito a fazer nessa direção. Vive a linha tênue que separa a cláusula de consciência na atividade jornalística da lógica do vale-tudo em nome do acesso ao dinheiro, a cargos estratégicos, da posse de áreas públicas abocanhando setores do poder. O assessorismo, instrumento deformador das assessorias de imprensa e de comunicação, solapa o jornalismo e arrasta para lugar obscuro empresas da área que ainda se apresentam como guardiãs do jornalismo. Muitas delas são cartéis que atuam mais na área da especulação e da tentativa de manter o canal de sucção dos e nos poderes instituídos (executivo, legislativo e judiciário) dentro do perfil da elite do atraso, como o professor Jessé Souza define a elite brasileira.
Capra (2016), discorre a respeito do ecoplanejamento para a vida e reconhece que os indivíduos e as comunidades que planejam e implementam nessa direção – da vida – são ecologicamente alfabetizados: perceberam que, a fim de criar e de manter sociedades sustentáveis, nós precisamos honrar e respeitar a natureza, e cooperar com ela; e que podemos aprender lições valiosas com os ecossistemas da natureza que são as comunidades de plantas, animais e microorganismos que têm sustando a vida ao longo de bilhões de ano.
Como parte das atividades sociais, o jornalismo pode ser predador ou enfrentar os embates para ser parte do ecoplanejar a vida, expressar-se como membro ativo da cultura de respeito à diversidade, desnudar as mentiras e denunciar todas as formas de opressão. Jornalistas têm princípios que permanecem válidos e clamam para serem retirados dos espaços de aprisionamentos. São noções validadas em longos processos de embates e devem ser conhecidas, voltar a ser pauta da conversa em sala de aula, nos botecos, nos encontros virtuais, no cotidiano da lida jornalística. Vida de jornalista não é vida de celebridade nem do acomodar-se diante dos desmandos das autoridades públicas e de seus braços longos na esfera privada.
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