16 Setembro 2021
Há um movimento crescente para restaurar o diaconato das mulheres, o qual permitiria as mulheres de servir como capelãs nas prisões, hospitais e outros espaços.
A reportagem é de Yonat Shimron, publicada por Religion News Service, 14-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Casey Stanton queria oferecer alento, amor e cura às presas da Instituição Correcional para Mulheres de Carolina do Norte, onde ele serviu como capelã interna há alguns anos.
Mas como uma mulher católica, ela não poderia representar sua Igreja em qualquer espaço oficial.
O estado da Carolina do Norte requer que capelães no sistema prisional sejam ordenados. E a Igreja Católica não ordena mulheres – nem como padres, nem como diáconas.
Stanton, de 35 anos, é mestre em Divindade pela Duke Divinty School, não está procurando se tornar sacerdote, o que é proibido pelo direito canônico. Ela, no entanto, acataria a chance de ser ordenada uma diácona – uma posição que a permitiria, com outras mulheres, de servir como capelã católica nas prisões, hospitais e outros locais.
“Eu gostaria de estar apta a representar a Igreja nesses espaço onde eu sinto que nós somos chamados a estar”, disse Stanton.
Ela tentou no hospital Veterans Affair. Mas lá também, ela encontrou um obstáculo similar para a capelania.
“Eu penso que eu poderia encontrar uma forma de superar isso”, ela disse. Em vez disso, ela acrescentou, “seria o fim da linha para a capelania católica”.
Em Abril, Stanton cofundou a organização Discerning Deacon, uma organização que pede por diálogo na Igreja Católica sobre a ordenação de mulheres diáconas. Stanton espera que isso possa aumentar os esforços em andamento em vários continentes para restaurar as mulheres ao diaconato ordenado, o que a Igreja em seus primeiros séculos permitia.
Na segunda-feira (13 de setembro), uma nova comissão criada pelo Papa Francisco para estudar as mulheres no diaconato começou a se reunir em Roma. É o quarto grupo desde a década de 1970 a discutir a ordenação de mulheres diáconas, e muitos esperam que elas liberem suas recomendações publicamente para que a Igreja possa estabelecer as bases para restaurar a ordem.
Francisco tem repetidamente pedido por uma maior presença feminina na liderança da Igreja e, embora tenha continuado com os ensinamentos da Igreja contra o sacerdócio feminino, ele mudou a lei da Igreja para permitir que as mulheres fossem instaladas como leitoras e acólitas.
Até o século XII, a Igreja Católica ordenava mulheres diáconas, embora nessa época seu serviço fosse restrito principalmente aos mosteiros femininos. Algumas igrejas ortodoxas que se separaram da Igreja Católica no século XI ainda o fazem. No livro de Romanos do Novo Testamento, o apóstolo Paulo apresenta Febe como uma “diaconisa da igreja de Cencréia”. Ele também nomeia Prisca e Júnia e várias outras mulheres líderes.
Na década de 1960, o Concílio Vaticano II restabeleceu o papel de diácono para os homens (antes havia reservado o diaconato como ministério de transição para homens que estudavam para ser sacerdotes), mas não para mulheres.
Em parte devido à escassez de padres, há um ímpeto crescente para devolver as mulheres ao diaconato. No Sínodo dos Bispos de 2019 para a região Pan-Amazônica, um grande número de bispos solicitou o diaconato permanente para mulheres. Muitos agora esperam que o próximo sínodo, que culminará em Roma em 2023, retome o assunto.
“Se a Igreja expressar sua necessidade, o Santo Padre terá mais facilidade em restaurar as mulheres diáconas”, disse Phyllis Zagano, pesquisadora sênior associada na Hofstra University em Hempstead, Nova York, e a principal especialista em mulheres diáconas na Igreja Católica.
O trabalho do diácono, conforme definido pelo direito canônico, é ministrar ao povo de Deus por meio da palavra, da liturgia e da caridade. Embora não seja uma posição remunerada na maioria dos casos, exige que a pessoa faça um curso de estudos e seja ordenada pela imposição de mãos do bispo.
“Normalmente, o diácono administra a instituição de caridade em nome do bispo ou padre em qualquer paróquia. Isso incluiria administrar o banco de alimentos, cuidar dos pobres, visitar os doentes”, disse Zagano.
Os diáconos também podem proclamar o Evangelho, pregar, testemunhar casamentos, batizar e conduzir serviços fúnebres. Eles não podem celebrar uma missa, consagrar a Eucaristia ou ouvir confissões.
O Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado estima que haja cerca de 19 mil diáconos do sexo masculino nos Estados Unidos hoje, uma queda de 1% em relação ao ano passado. Os programas de formação para diáconos relataram uma queda de 2% nas matrículas. Talvez o mais preocupante seja o fato de que a proporção de candidatos a diácono na faixa dos 30 e 40 anos caiu para 22% em 2020, ante 44% em 2002, revelou um relatório de junho.
Em algumas partes dos EUA, leigas católicas já estão servindo como administradoras no lugar de padres, muitas vezes como coordenadoras da vida paroquial, mas sem ordenação.
“Agora, quando você é uma mulher servindo em qualquer cargo, muitas vezes há uma nuvem de suspeita pairando sobre seu trabalho, a sensação de que seu trabalho seria melhor realizado por um homem ou um padre”, disse Anna Nussbaum Keating, uma escritora católica morando no Colorado, que apoia a restauração do diaconato para mulheres. “Há um sentimento de que ela é inferior ou talvez ela esteja lá porque quer mudar a Igreja, em vez de entender que sempre houve mulheres no ministério na Igreja e que suas contribuições são sagradas, válidas e boas”.
O coronavírus, que matou mais de 650 mil americanos, apenas acentuou a necessidade de mais capelães católicos de hospitais, já que as pessoas morreram sozinhas e sem o conforto de um padre ou diácono durante seus últimos dias.
Em 3 de setembro, dia da festa de Santa Febe, o grupo Discerning Deacon realizou um culto de oração Zoom celebrando o legado da santa do século I, com cerca de 500 mulheres de todo o mundo. Incluía histórias gravadas em vídeo de mulheres que foram apaixonadamente chamadas para servir à igreja e magoadas por sua incapacidade de fazê-lo formalmente.
As documentaristas Pilar Timpane e Andrea Patiño Contreras filmaram “Called to Serve” (“Chamadas a servir”, em tradução livre) sobre algumas das mulheres dos EUA que agora pressionam a Igreja para a ordenação de diáconas. Um documentário mais longo, com a produtora Christine Delp, está em andamento.
“Estamos observando as necessidades da Igreja hoje”, disse Stanton, que mora em Durham, Carolina do Norte. “Poderia a inclusão de mulheres nesta ordem ajudar a promover a missão da igreja no mundo?”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Impedidas de servir à Igreja, mulheres católicas cobram um diaconato feminino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU