21 Setembro 2020
Um dos cardeais mais influentes do mundo admitiu recentemente que está “aberto” à ideia de ordenar mulheres ao sacerdócio católico.
O comentário é de Robert Mickens, publicado em La Croix International, 18-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Não estou dizendo que as mulheres devem se tornar padres; simplesmente não sei. Mas estou aberto a isso”, disse o cardeal Jean-Claude Hollerich SJ em uma entrevista publicada no dia 13 de setembro no site da KNA, a agência de notícias católica alemã.
Hollerich é um cardeal de alto perfil com status internacional devido à sua posição de presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece). Ele também é arcebispo da sua cidade natal, Luxemburgo.
Portanto, suas opiniões são importantes.
Mas, poucos dias depois de comentar sobre as mulheres padres, Tony Flannery – o redentorista irlandês que foi suspenso do ministério sacerdotal em 2012, principalmente pelo seu apoio à ordenação de mulheres – revelou que o Vaticano havia lhe enviado uma série de propostas doutrinais em julho (por intermédio do seu superior geral), às quais ele deveria se “submeter” como primeiro passo rumo a uma “readmissão gradual” ao ministério público.
É de se perguntar se os homens da Congregação para a Doutrina da Fé vão pressionar o Papa Francisco para que o cardeal Hollerich se retrate e forçá-lo a assinar um juramento de fidelidade semelhante ao solicitado ao Pe. Flannery.
É melhor eles se mexerem rápido. Em apenas algumas semanas, o jesuíta de 62 anos celebrará o primeiro aniversário da recepção do seu barrete vermelho.
E o que dizer daqueles bispos alemães que também pediram uma discussão aberta sobre a ordenação de mulheres ao sacerdócio? Existem vários deles.
Alguns, como Dom Gebhard Fürst, bispo de Rottenburg-Stuttgart, há muito declaram seu apoio à ordenação de mulheres. E recentemente mais prelados se juntaram a ele, incluindo o presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, Dom Georg Bätzing, de Limburg.
O papa vai tentar amordaçá-los também? Vai suspendê-los?
É importante lembrar que o caso de Tony Flannery remonta a 2012, quando Bento XVI ainda era papa, e o falecido cardeal William Levada era o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Mas, independentemente de quem esteja sentado na cátedra de Pedro, evidentemente há um ethos e um conjunto de protocolos tão arraigados nos membros do ex-Santo Ofício que eles ainda acham que a sua missão é ser inquisidores e vigilantes doutrinários.
Na realidade, Flannery não foi suspenso apenas por causa do seu apoio à ordenação de mulheres. Ele também foi condenado por ter questionado outros ensinamentos e disciplinas da Igreja ao longo dos anos.
Portanto, além de se submeter à afirmação de que “somente um batizado do sexo masculino recebe validamente a sagrada ordenação”, como preço para retornar ao ministério, a Congregação para a Doutrina da Fé também lhe ofereceu generosamente a chance de se submeter a três outras fórmulas doutrinárias.
Ele deve afirmar que “as práticas homossexuais são contrárias à lei natural”; que as uniões que não sejam o matrimônio entre um homem e uma mulher “não correspondem ao plano de Deus para o matrimônio e a família”; e que “a teoria do gênero não é aceita pelo ensino católico”.
Ele diz que nunca expressou qualquer opinião sobre a chamada “teoria de gênero” e está confuso sobre por que essa questão está em seu dossiê da Congregação para a Doutrina da Fé. Quem não ficaria?
É muito irônico que Flannery tenha sido suspenso por ter levantado questões sobre esses temas em uma coluna popular que ele costumava escrever em uma revista chamada Reality. Provavelmente, isso foi demais para os homens da Igreja que tendem a ver a “realidade” como uma ameaça à sua versão idealista da religião.
Não devemos esquecer de mencionar que Jesus nunca ordenou ninguém e nunca falou muito sobre sexo, e certamente não falou sobre homossexualidade. Pelo menos é isso que está registrado nos relatos dos Evangelhos.
O Pe. Flannery não é o único católico nem o único presbítero ordenado a examinar os ensinamentos da Igreja sobre essas questões. Existem até bispos e cardeais agora que estão fazendo o mesmo.
É desnecessário dizer que o redentorista de 73 anos não tem nenhuma intenção de assinar os juramentos de fidelidade da Congregação para a Doutrina da Fé, que – francamente – parecem algo de uma época e de um tipo de prática que pensávamos que a Igreja já havia superado com a eleição do Papa Francisco e a publicação da sua visão para a renovação e a reforma eclesiais, a Evangelii gaudium.
Tony Flannery tem mais algumas coisas a dizer sobre esses temas e outros.
Você pode encontrá-los em seu novo livro, que chegará às livrarias no dia 10 de outubro. Ele se intitula “From the Outside: Rethinking Church Doctrine” [Do lado de fora: repensando a doutrina da Igreja].
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Cardeal se diz aberto à ordenação de mulheres. Padre que fez o mesmo permanece suspenso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU