Jean-Claude Hollerich, neocardeal: “Europa, abre-te ao mundo”

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06 Setembro 2019

Para aplaudir o anúncio de que o Papa fez ao cardeal arcebispo do Luxemburgo Jean-Claude Hollerich, também se somam os "garotos" do navio Mar Jonio. Inclusive, em maio, ele fez parte de uma missão em Lesbos em nome de Francisco. Entrevistado pelo SIR, o presidente da Comece lança um apelo às igrejas europeias: "Temos muitas dioceses na Europa, se cada uma se comprometer a acolher 2 ou 3 famílias, seria uma grande contribuição para a emergência. Refiro-me aos corredores humanitários de Sant'Egidio".

A entrevista é de M. Chiara Biagioni, publicada por Servizio Informazione Religiosa (SIR), 05-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

"Fiquei muito emocionado com uma mensagem entre as muitas recebidas. Tinha uma que veio diretamente do navio do Mar Jonio. Eles me disseram que estavam felizes com a minha nomeação, juntamente com a do padre Michael Czerny e do arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi. Somos todos pessoas ao lado dos refugiados e eles me diziam: ‘o Papa não se esqueceu de nós’”. Quem relata isso ao SIR é o arcebispo do Luxemburgo, Jean-Claude Hollerich. Suas palavras mostram como o anúncio feito pelo Papa Francisco com a lista dos 13 novos cardeais chegou ao meio do Mediterrâneo, até alcançar o navio da ONG Mediterrânea que durante dias e no meio de tempestades permaneceu bloqueado na costa de Lampedusa. Presidente de Comece (a Comissão que une os episcopados da UE em Bruxelas), Hollerich fez parte em maio de uma delegação que foi à ilha de Lesbos para uma missão encomendada pelo Papa Francisco após sua viagem entre os refugiados de 2016. A delegação também incluía o card. Konrad Krajewski e Mons. Sevastianos Rossolatos, arcebispo de Atenas. Após o anúncio, o SIR entrevistou o arcebispo.

Eis a entrevista.

Por que o Papa Francisco escolheu o senhor e que significado tem essa nomeação?

Deveríamos perguntar isso ao Santo Padre. Acredito que seja também para homenagear a Comece e seu trabalho. Para o Papa, a União Europeia é importante e é importante para o equilíbrio da paz no mundo.

O que preocupa o papa em relação à Europa?

Eu acredito que ele esteja preocupado com o Brexit e o populismo que tomou conta de muitos países membros da UE. O populismo é contrário à alma da Europa. Sobre essa terra aconteceram duas guerras que se tornaram mundiais. Portanto, devemos ter humildade como europeus no mundo. Mas, precisamente porque conhecemos os efeitos trágicos da guerra, hoje a Europa é chamada a desempenhar uma missão de paz no mundo. Também é verdade que muitos países da UE estão empenhados no acolhimento de refugiados e isso é muito importante para o Papa.

O que leva a Europa ao populismo?

O populismo é o contrário do que é europeu. Porque recria artificialmente uma identidade e a lança contra os outros. Mas a identidade muda o tempo todo. Nunca é fixa. Além disso, também como europeus, pertencemos a uma realidade composta em que coexistem tantos grupos com muitas identidades. Se tudo isso for ignorado e negado, isso é ruim.

É a atitude daqueles que são contra os outros, daqueles que sempre precisam encontrar inimigos, daqueles que fazem discursos de ódio. Quem faz isso vai contra o Evangelho. O senhor falava anteriormente sobre o Brexit. Nessa delicada passagem que o Reino Unido está atravessando para evitar a saída da UE sem acordo, tem alguma mensagem a dar aos políticos e ao povo britânico?

Aos políticos gostaria de pedir para que façam todo o possível para garantir que a amizade e a cooperação frutífera entre o Reino Unido e a União Europeia não sejam rompidas.

Não devemos criar inimigos entre a União Europeia e o Reino Unido. Seria fatal.

E isso seria contra a própria ideia da Europa. Ao povo inglês gostaria de dizer: lamentamos, mas respeitamos o voto que vocês expressaram. As pessoas dos Estados-membros da UE não são seus inimigos, mas seus amigos. Seremos mais pobres sem vocês. Porque precisamos do que é a Inglaterra, o País de Gales, a Escócia e a Irlanda do Norte. Precisamos da sua história e de sua cultura. Sentiremos sua falta. Sem vocês, seremos mais pobres.

As pessoas estão preocupadas com o fato de que o Brexit leve a aumentos também sobre os preços de medicamentos e alimentos.

Espero que haja políticas para proteger os mais fracos da sociedade.

É como a crise ecológica: são sempre os mais pobres que precisam pagar mais. Isso não é justo.

O que o Papa pede da Europa de hoje?

Lendo seus discursos, acho que o Papa gostaria de uma Europa social, para os mais fracos. Uma União onde as pessoas encontrem trabalho, especialmente os jovens. O Papa gostaria de uma Europa solidária com os pobres do mundo. Uma Europa sem capitalismo selvagem, mas com um sistema econômico que respeite a ética e os direitos das pessoas. Acredito que o Papa deseje uma União Europeia onde os países membros não se envolvam no comércio de armas, especialmente para os países que estão em conflito armado. O papa gostaria de uma Europa comprometida com a ecologia.

O senhor foi a convite do Papa Francisco para a ilha de Lesbos. O que lembra dessa experiência e o que Lesbos pode dizer à Europa hoje?

Para mim, foi uma experiência muito forte. Quando estou em oração, revejo os rostos das pessoas que encontramos. Eles permaneceram no meu coração e eu gostaria de voltar ali com os jovens da minha diocese. Há uma boa notícia: o governo do Luxemburgo autorizou a aceitação de duas famílias de Lesbos em Luxemburgo. A Igreja providenciará acomodações e tudo o que elas precisarem, mesmo do ponto de vista financeiro, portanto, sem ônus para o Estado. Gostaria de fazer um apelo aos refugiados e também pedir às outras Igrejas da Europa que façam alguma coisa. Temos tantas dioceses na Europa, se cada uma se comprometer a acolher 2 ou 3 famílias, seria uma grande contribuição para a emergência. Refiro-me aos corredores humanitários de Sant'Egidio. Toda a Igreja deveria colaborar. Até mesmo o Papa pediu uma vez paróquias e institutos religiosos para acolher os refugiados.

Que voz estará no coração da Igreja?

A Europa precisa de uma renovação espiritual, de uma nova evangelização. Todo o ensinamento do Papa Francisco - o compromisso com os pobres, com os refugiados e com o meio ambiente - é um chamamento para mudar nossas vidas a partir do cotidiano. Renovação espiritual e compromisso no cotidiano são duas forças que devem se unir. Somente assim haverá uma nova evangelização na Europa.

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