15 Dezembro 2025
“Prender alguém que compareça a uma cerimônia fúnebre é contra todas as normas éticas e legais, mas o regime já se acostumou à repressão.” As palavras que o jornalista iraniano exilado Taghi Rahmani confia ao La Stampa soam claustrofóbicas: sua esposa, a vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Narges Mohammadi, que estava em prisão domiciliar há um ano por motivos de saúde, está de volta à prisão. Segundo os ativistas que estavam próximos a ela, Mohammadi foi parada pelas forças de segurança durante a cerimônia de luto pelo sétimo dia em memória do advogado de direitos humanos Khosrow Alikordi, que faleceu oficialmente de um ataque cardíaco na cidade de Mashhad, no nordeste do país, reduto do conservadorismo xiita e que, assim como todo o território nacional, tem sido palco de protestos feministas, incluindo o da mulher que subiu nua em uma viatura policial em fevereiro passado.
A informação é de Francesca Paci, publicado por La Stampa, 13-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mohammadi marchava entoando os slogans da revolução “Mulher, Vida, Liberdade” junto com dezenas de outras, quase todas sem véu, como as maratonistas de Kish, quando os agentes do regime interromperam o cortejo e levaram pelo menos 17 pessoas, incluindo a ganhadora do Prêmio Nobel, três membros da família Alikordi, a escritora Sepideh Gholian, conhecida na Itália por seu livro Diari dal carcere, e as ativistas Alieh Motalebzadeh, Pouran Nazemi e Hasti Amiri. Uma espécie de batida policial coerente com a repressão da República Islâmica, que em 2025, à medida que desaparecia o hijab das ruas – apesar da polícia religiosa – dobrou o número de enforcamentos diários, ultrapassando a marca de 1.000, segundo a Anistia Internacional.
“Essas ações fazem parte de uma estratégia mais ampla de repressão à sociedade e controle do espaço público; ativistas de direitos humanos e a sociedade civil estão constantemente expostos a riscos”, continua Taghi Rahmani por telefone, de Paris. Há um ano, ele conseguia falar com mais frequência com sua esposa, que foi presa pela enésima vez em 2021 e condenada a um total de 30 anos e 154 chibatadas por seu trabalho no Centro de Defensores dos Direitos Humanos, mas libertada temporariamente em dezembro passado devido às complicações de uma cirurgia.
“Qualquer acordo com o regime é contra o povo iraniano. Escutem-nos, porque as mulheres iranianas não vão parar”, dizia Mohammadi ao jornal La Stampa há três meses, no terceiro aniversário do assassinato de Mahsa Jina Amini, a faísca da revolução sem armas contra o apartheid de gênero. E ela – apesar de hoje se aproximarem dos pasdaran aqueles Estados Unidos de Trump, em cuja tão alardeada intransigência muitos de seus compatriotas inicialmente depositaram sua esperança – nunca parou.
Durante meses, ao sair da casa em Teerã onde cumpria prisão domiciliar, era alvo de insultos na rua por cidadãos supostamente zelosos que desejavam seu retorno à prisão. Uma combinação de contestações espontâneas e cyberbullying martelante contra a chamada “espiã dos aiatolá” interceptada pelo algoritmo de X, a ponto de, há alguns dias, quando questionada sobre a identidade de Narges Mohammadi, a inteligência artificial Grok ter respondido: “Uma ganhadora iraniana do Prêmio Nobel da Paz, não muito amada por seus compatriotas”.
Agora ela está de volta à prisão, muito provavelmente em Evin, onde recebeu a notícia do Prêmio em 2023 e onde a jornalista italiana Cecilia Sala passou vinte e um longos dias.
“Exigimos a libertação imediata e incondicional de todos os presos, culpados unicamente de homenagear um falecido”, escreve a Fundação Narges Mohammadi. A liberdade, mas também a luz acesa, diz Taghi Rahmani. Para sua esposa e outros: “Que as mídias e as organizações civis do Ocidente não se esqueçam do Irã.”
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