03 Outubro 2025
No final da tarde, quando as embarcações da Flotilha Global Sumud já haviam entrado há horas na zona de risco, pouco antes de serem interceptadas pela Marinha israelense, o professor Massimo Cacciari prevê "que parem, obviamente. Mesmo que estejamos testemunhando o desmantelamento completo de todas as formas de direito internacional: não me resulta que tenha sido estabelecido que as águas ao largo de Gaza pertencem a Israel, portanto, não teria o direito de parar os barcos."
A entrevista é de Francesca Schianchi, publicada por La Stampa, 02-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Espera que parem por razões de segurança?
Certamente! Do ponto de vista da justiça, ela está toda do lado daqueles que estão tentando levar ajuda para aliviar a condição dos palestinos em Gaza. Se existe justiça, está toda de um lado.
Que impressão lhe causou essa operação humanitária vinda da base?
Eles acertaram em organizar isso. Não falo de coragem, porque isso é relativo: é evidente que Israel não pode correr o risco de causar mortes; seria uma manobra suicida para o pouco de credibilidade que ainda resta ao governo israelense. Mas é certamente uma iniciativa correta.
E as oposições acertaram em apoiá-la?
Fizeram a coisa certa, mesmo que apoiar uma iniciativa como essa e depois sustentar Ursula von der Leyen na Europa é uma clara contradição.
Como o governo está se comportando nessa questão?
O governo está alinhado com a posição estadunidense; não poderia ter feito mais do que fez. É coerente com sua posição de total conformidade com as escolhas estadunidenses.
No entanto, o governo espanhol, embora muito mais crítico dos Estados Unidos de Trump, está fazendo mais ou menos o mesmo.
Nenhum Estado europeu poderia abrir um confronto sobre essa questão com Israel. Se houvesse pessoas sérias no poder na Europa, teriam feito o que fizeram com a Rússia de Putin: teriam imposto sanções contra o governo de Netanyahu pelo que está fazendo em Gaza, independentemente de como for chamado.
Prefere não usar a palavra genocídio, liberada pela ONU?
A palavra a ser usada para descrever o que está acontecendo, me parece a última coisa com que se preocupar.
A Primeira-Ministra Meloni usou palavras duras para criticar a Flotilha.
É óbvio, isso a incomoda. Deus não queira que um acidente aconteça com um italiano; seria um desastre para o governo.
Mas ela está certa quando diz: é uma iniciativa para criar dificuldades ao governo?
Não, não está certa de forma alguma... É um projeto internacional. O que interessa aos neozelandeses ou espanhóis o governo Meloni? É uma típica iniciativa pacífica transnacional, mas é claro que isso a incomoda; torna mais difícil para ela apoiar a posição de Trump.
Da esquerda, ontem, o líder da Avis, Fratoianni, perguntava: por que o governo está pedindo aos barcos para pararem e não a Israel?
Concordo. Mas é porque nenhum país ocidental, muito menos esse trapo de Europa, pode se opor à política estadunidense.
São todos submissos a Trump e às suas decisões?
O Ocidente tornou-se totalmente estadunidense. Nas décadas de 1960 e 1970, não era assim; e até a queda do Muro de Berlim, o Ocidente era estadunidense e europeu. Desde então, as coisas mudaram gradualmente, e agora são apenas os Estados Unidos que podem decidir, que têm voz. É assim, mesmo que não queiramos admitir: não adianta enfeitar.
Então, o que pensa do plano de paz de Trump?
É um plano que faz tudo, exceto a paz. Paz significa dois povos que chegam a um acordo que possa evitar a continuação do conflito, não um acordo que é o pressuposto para a continuação do conflito.
É isso que a proposta de Trump faz?
Não há nenhum acordo naquela proposta que possa pôr fim ao conflito, é um armistício, só isso.
Por quê?
Falta qualquer base para um Estado palestino, que durante anos foi o ponto central de qualquer tentativa de acordo de paz. Não se fala mais a respeito.
Fala a respeito o primeiro-ministro israelense Netanyahu para prometer que nunca nascerá.
Exatamente. Para onde irão os palestinos? Ninguém os quer, de forma que é impossível a emigração para o lugar nenhum. Eles ficarão lá, mas como? Se tornarão cidadãos do Estado de Israel? Sabe o que vai acontecer? Em poucos anos, no ritmo atual de crescimento populacional, a maioria dos habitantes de Israel se tornará palestina. Acha que isso vai ser aceito por Netanyahu? Então, qual é a solução? Não há nenhuma estratégia para resolver o conflito.
Portanto, não é um caminho que valha a pena seguir?
Veja bem, qualquer coisa que possa salvar pelo menos uma vida humana vale a pena. Se puder parar um massacre, é um caminho que deve ser seguido, mas não é um acordo de paz.
Se esse plano fosse adotado, como imagina aqueles territórios daqui a alguns anos?
Haverá uma Intifada permanente! Se uma solução política não for encontrada, estaremos diante de uma situação trágica para Israel, de terrorismo endêmico.
Hoje serão votadas as moções sobre Gaza no Parlamento, e a Primeira-Ministra pede um voto unitário às oposições: é um apelo a ser aceito numa questão tão delicada?
Depende de qual moção a maioria apresentar. Se exaltar o acordo de Trump dizendo: Vamos dar a ele o Nobel da Paz, então eu diria que não.
O presidente estadunidense faz questão do Nobel; acha que Meloni o apoia?
Ela seria a primeira a aplaudir se o dessem a ele. Além disso, de Prêmios Nobel ridículos, já entregaram muitos outros...
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