30 Setembro 2025
O Ministério do Interior não descarta problemas de ordem pública nas praças após a intervenção militar israelense.
A reportagem é de Tommaso Ciriaco e Giuliano Foschini, publicada por La Repubblica, 30-09-2025.
Medo, olhando para o horizonte, para o mar, pelo que poderia acontecer com os 43 barcos que navegam em direção a Gaza: drones, mais uma vez, atacando de cima. Mas também um naufrágio controlado, com um ataque lançado por baixo do casco. Ou, a terceira possibilidade, uma abordagem que levaria à prisão dos ativistas, mesmo em águas internacionais. "Eu assinaria apenas por prisões", diz o ministro da Defesa, Guido Crosetto, escolhendo palavras que não escondem a ansiedade do momento.
Para demonstrar a delicadeza da situação, vale a pena consultar as mais altas fontes governamentais. Outro medo está surgindo, basta olhar pela janela: relatórios de inteligência muito recentes explicam que, no caso de um ataque israelense à Flotilha, as ruas estariam prontas para pegar fogo, talvez explodir. Não com manifestações organizadas (como a marcada para 4 de outubro), que são, afinal, administráveis. Mas com protestos repentinos e espontâneos. E eles podem facilmente escalar. A ordem pública está em risco. Mas também está o consenso do governo, que Giorgia Meloni monitora constantemente.
No Palazzo Chigi, eles sabem que a mediação, também apoiada pelo presidente da República, Sergio Mattarella, parece ter — pelo menos por enquanto — fracassado. Ou, pelo menos, congelado. "Pedi a Israel que garantisse a segurança dos italianos", comunica Antonio Tajani. "E se eles arriscarem suas vidas? Espero que não, mas quando se impõe um bloqueio, há riscos." Os 43 barcos que compõem a expedição humanitária navegam em direção a Gaza: mesmo aqueles que aceitaram o convite do Quirinale não puderam deixar de notar a falta de progresso do governo nas últimas horas. Até mesmo a proposta mais recente, a entregue ontem, foi considerada inaceitável. "Pediram para não trazermos biscoitos porque são muito energizantes para mulheres e crianças. Como podemos aceitar e parar?", explicaram novamente os "negociadores" naquela noite, frustrando as esperanças de seus interlocutores institucionais.
De nada adiantou expor as informações mais alarmantes, as preocupações nas mãos da nossa comunidade de inteligência: os israelenses se referiram explicitamente ao incidente de maio de 2010, quando uma flotilha de ativistas pró-Pal, transportando ajuda para Gaza, foi interceptada em águas internacionais pelas Forças de Defesa de Israel (IDF): 60 pessoas ficaram feridas e nove civis morreram. "É isso que venho dizendo às pessoas nos barcos desde o início", explicou Crosetto. "Não se trata de força de vontade ou sentimento, mas dos riscos que elas enfrentam. Sempre esperei que não houvesse consequências letais."
O pior cenário previsto pelo governo é que os navios da Flotilha — que ontem estavam a 250 milhas náuticas do bloqueio israelense, um dia de navegação a toda velocidade — sejam parados ainda em águas internacionais. Um ataque de drones continua sendo uma possibilidade, mas não a única. Uma possibilidade é que os israelenses ataquem alguns navios, aqueles à frente do comboio, afundando-os.
Os militares de Benjamin Netanyahu têm a capacidade de atacar até mesmo debaixo d'água, baseando-se em um precedente de longa data, que remonta a 40 anos: em 1984, a inteligência francesa afundou um navio-almirante do Greenpeace que se preparava para protestar contra os testes nucleares de Paris no atol de Mururoa. A opção é Israel tentar afundar os navios, representando enormes riscos para a tripulação.
Não é coincidência que, quando um navio da Flotilha relatou uma pane ontem, muitos especularam sobre sabotagem. A outra possibilidade são prisões, com abordagem em águas internacionais: as tripulações já designaram uma equipe de advogados em Israel, apoiada por um grupo de advogados palestinos. No entanto, vários advogados italianos, especialistas no assunto, também foram destacados.
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