Há 50 anos, o clero de Nápoles votou contra o celibato dos padres, mas o Vaticano encobriu tudo. Artigo de Fabrizio D'Esposito

Foto: yorick77 | Pixabay

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13 Setembro 2025

"Há tempo é opinião comum entre muitos bispos [...] que, mais cedo ou mais tarde, o Vaticano implementará essa reforma estrutural e radical diante do declínio das vocações", escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 08-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

O celibato sacerdotal é um atávico problema católico que ressurgiu durante o pontificado franciscano, dentro da mais ampla questão sexual da Igreja. O próprio Bergoglio abordou a questão na exortação apostólica Querida Amazônia, fruto de um sínodo específico sobre aquela imensa região do mundo, onde há uma grave escassez de padres.

No período de Francisco, no entanto, a pressão para o casamento dos sacerdotes veio principalmente da Alemanha, daquela esquerda marxista da Igreja que leva o nome do Cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique. Uma pressão tão forte que em várias ocasiões se falou de um cisma progressista. De qualquer forma, há tempo é opinião comum entre muitos bispos, tanto italianos quanto de outros países, que, mais cedo ou mais tarde, o Vaticano implementará essa reforma estrutural e radical diante do declínio das vocações, particularmente na Europa. A questão do celibato sacerdotal foi aberta na Igreja pelo novo espírito do Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII em 1962 e encerrado por seu sucessor, Paulo VI, em dezembro de 1965.

E foi o próprio Papa Montini quem barrou às aberturas ao celibato sacerdotal voluntário menos de dois anos depois, em junho de 1967, com a encíclica Sacerdotalis Caelibatus, que reiterou que "o celibato sacerdotal (...) conserva todo o seu valor mesmo em nosso tempo, caracterizado por uma profunda transformação de mentalidade e de estruturas". Um interessante livro que nos foi enviado relembra a abordagem conservadora de Montini. O autor se chama Armando Poggi e ainda hoje se apresenta como "um padre felizmente casado e com três filhos" ou um "padre outro". Poggi é da Campânia e um administrador aposentado. Ele também atuou na política pelo centro-esquerda.

O livro se intitula Pianticelle divelte? Il vento conciliare nei sinodi delle chiese particolari (Plantinhas arrancadas? O vento conciliar nos sínodos das Igrejas particulares, em tradução livre, la Valle del Tempo, 2022) e revela como, há mais de meio século, a maioria do clero napolitano se manifestou a favor do celibato voluntário, mas a discussão foi truncada pela hierarquia católica, a começar pelo então arcebispo da cidade, o Cardeal Corrado Ursi (1908-2003). Usando o formato do livro-entrevista (as perguntas são do filósofo e teólogo Pasquale Giustiniani), Poggi relembra o período em que era um jovem padre. Tudo começou com uma carta da Conferência Episcopal Italiana (abril de 1969), que, em preparação para a subsequente assembleia geral de bispos de 1970, montou uma consulta regional sobre o tema "Pauta para uma discussão de base sobre o problema do sacerdócio".

Na Arquidiocese de Nápoles, Poggi foi um dos três padres da comissão encarregada de compilar os resultados, que resultaram em um relatório clamoroso de 16 páginas em que, por vários motivos, se escrevia: "O celibato só pode se tornar realmente crível se depender de uma livre escolha do sacerdote e não da legislação eclesiástica". Essa "modernidade de pensamento", no entanto, resultou em um conflito entre o próprio Poggi e Ursi. O cardeal acusou o padre de ser "desonesto" e considerou "escandalosa" a publicação e a divulgação daquele relatório. E a questão terminou aí, encoberta pela Conferência Episcopal Italiana.

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