15 Agosto 2025
"O isolamento estético pode evaporar-se numa espécie de antissocialidade esnobe, enquanto o isolamento sofrido como injúria social pode dar origem ao poder rebelde da indignação e da crítica ativa", escreve Massimo Recalcati, psicanalista italiano, em artigo publicado por La Reppublica, 12-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo ele, "a aspiração ao isolamento sempre implica um passo para o lado, uma saída da norma, a conquista difícil da própria solidão. Certamente não se trata de negar a natureza vinculante do laço com os outros, mas de escapar do imperativo do divertimento obrigatório, da impostura da vida despreocupada que as mídias sociais vendem como vida real".
"Não é por acaso - conclui o psicanalista - que a solidão buscada pelo eremita não visa apagar a existência do Outro, mas sim sintonizar-se mais profundamente com ela".
A palavra isolamento carrega consigo uma profunda ambivalência. É como um ramo que se bifurca entre aspiração e maldição. Isso é ainda mais evidente no verão e durante o tempo de férias. De um lado, há o isolamento como necessidade de sobrevivência, de separação do barulho e da obrigação social da festança perpétua, como, de fato, aspiração a uma condição de vida capaz de recortar para si o espaço e o tempo de um respiro longe do barulho ensurdecedor do mundo.
De outro, há o isolamento como queda no vazio e na insensatez, como ausência de contato, de vínculo, como abandono. De um lado, portanto, o isolamento como resistência, até mesmo estética, daqueles que buscam na solidão uma presença mais profunda, menos artificial do que aquela propagandeada como verdadeira vida, sempre em forma e portadora de bem-estar, na vitrine artificial das mídias sociais. É o isolamento como movimento de separação ativo da obrigação do divertimento.
É o hortus conclusus onde o clamor e o barulho da vida mundana são substituídos pela paz do entardecer e seu silêncio. É o isolamento como escolha, como ato de defesa, como fuga do ruído ensurdecedor da massa para preservar um espaço insaturado. É o gesto consagrado por Leopardi, que escolhe seu "vilarejo nativo selvagem" como o último bastião contra a vaidade sem verdade do mundo; é a torre de Rilke, o espaço sagrado que permite a escuta das vozes mais distantes; é o quarto só seu de que fala Virginia Woolf. Mas é também uma fantasia comum que acompanha a vida constantemente oprimida pelos compromissos e prazos de muitas pessoas: retirar-se, afastar-se, desaparecer, desligar os ruídos do mundo.
Nesse caso, o isolamento pode se tornar uma solidão repleta de presenças, a expressão de um desejo de afastamento que não se deixa capturar pelo turbilhão do consumo compulsivo. Em contraste, em sua segunda face, o isolamento aparece como o tormento de uma vida que perdeu sua conexão com o mundo e com os outros. É o isolamento como experiência de mortificação, marginalização e privação. Não é mais uma escolha, mas uma condenação. Não é mais um refúgio, mas uma prisão. Não é mais defesa do imperativo alienante do entretenimento, mas um fracasso que gera desconforto e um profundo sentimento de abandono.
Esse segundo isolamento não nasce de um ato de liberdade, mas da violência do mundo que exclui aqueles que ficam para trás. Não é o isolamento do esteta, mas o do pária, do inapto, do anormal, que a sociedade carimba, estigmatiza e exila. É a cela do pobre, do idoso esquecido, do doente, do migrante sem raízes, do filho que gostaria de desistir de sua vida entrincheirando-se dentro das paredes de seu próprio quarto. Aqui não encontramos a liberdade da separação, mas uma experiência de exclusão que o sujeito sofre. Não há contemplação ou criação, mas sim desfazimento, ruína, abandono. Esse isolamento não é uma aspiração, mas uma maldição. Não protege do caos frenético da massificação, mas expõe a vida à sua mais radical insensatez. É a experiência do deserto não como um lugar de ascetismo, mas como símbolo de desolação.
No entanto, a distinção entre essas duas faces do isolamento não pode ser enrijecida. O isolamento estético pode evaporar-se numa espécie de antissocialidade esnobe, enquanto o isolamento sofrido como injúria social pode dar origem ao poder rebelde da indignação e da crítica ativa. Os próprios encontros festivos do povo veranista não neutralizam de forma alguma o isolamento como maldição, mas o incentivam. É algo que Adorno já havia vislumbrado à sua maneira quando argumentava que o máximo do isolamento não se realiza na solidão, mas no encontrar-se imerso no fluxo anônimo da massa, em tornar-se um número entre outros, desprovido de nome próprio. É o isolamento que se pode experimentar em meio à multidão anônima das metrópoles, em meio aos não-lugares fervilhantes. É o isolamento caracterizado pela proximidade física sem qualquer proximidade real, pela multiplicação de contatos sem qualquer encontro real, pelo efeito de aglomerações anônimas em destinos turísticos de massa. Nesses casos, é um isolamento que surge não da marginalização, mas do conformismo e da homogeneização excessivos. Nesse sentido, a aspiração ao isolamento sempre implica um passo para o lado, uma saída da norma, a conquista difícil da própria solidão. Certamente não se trata de negar a natureza vinculante do laço com os outros, mas de escapar do imperativo do divertimento obrigatório, da impostura da vida despreocupada que as mídias sociais vendem como vida real.
Por essa razão, até mesmo a maldição do isolamento pode parecer uma oportunidade superior ao atordoamento inebriante do prazer que caracteriza o ser acéfalo da massa. Não se trata de reivindicar o esnobismo estético de quem não quer se misturar com os outros, mas de compreender como a presença efetiva em nós do outro não exige, de forma alguma, a celebração da multidão. Não é por acaso que a solidão buscada pelo eremita não visa apagar a existência do Outro, mas sim sintonizar-se mais profundamente com ela.