12 Agosto 2025
Mahmoud Jamal al-Attar tinha 15 anos. Em 1º de agosto, ele saiu da tenda onde morava com a mãe e os irmãos para procurar algo para comer. Ele foi baleado no peito ao se aproximar do ponto de distribuição da Fundação Humanitária de Gaza (FGH) em al-Shakoush. Ele morreu poucas horas depois na clínica da Médicos Sem Fronteiras (MSF) em al-Mawasi. No mesmo dia, o enviado especial da Casa Branca para o Oriente Médio, Steve Witkoff, visitava o centro. Segundo a MSF, não é um caso isolado. Em sete semanas, entre 7 de junho e 24 de julho, 1.380 pessoas feridas — 28 das quais morreram posteriormente — foram tratados nas clínicas da MSF em al-Mawasi e al-Attar, no sul da Faixa de Gaza.
A reportagem é de Costanza Oliva, publicada por Avvenire, 08-08-2025.
Os dados falam por si: 11% dos ferimentos de arma de fogo foram na cabeça e pescoço, 19% no peito, abdômen e costas. Aqueles que chegaram do centro de distribuição de Khan Yunis, por sua vez, trouxeram com muito mais frequência ferimentos nos membros inferiores. Essa precisão e recorrência, segundo os médicos, descartam a possibilidade de tiros acidentais. "Eles estão nos massacrando. Fui ferido talvez dez vezes. Vi essas cenas com meus próprios olhos: eu estava cercado por cadáveres, havia cerca de vinte ao meu redor. Todos com tiros na cabeça ou no estômago", conta Mohammed Riad Tabasi, um paciente em tratamento na clínica de MSF em al-Mawasi. Setenta e um dos feridos eram menores de idade. Vinte e cinco tinham menos de 15 anos. Uma menina de oito anos foi baleada no peito e uma de doze, no abdômen. Segundo a MSF, muitas famílias, extenuadas pela fome, enviam seus filhos em busca de comida porque são os únicos em condições de enfrentar a viagem. "Nos quase 54 anos de atividade da MSF, raramente testemunhamos semelhantes níveis de violência sistemática contra civis desarmados", afirma a presidente Monica Minardi. "Os centros de distribuição do GHF, que se apresentam como um sistema de ajuda humanitária, são, na realidade, um laboratório de crueldade. Isso deve acabar imediatamente".
Além dos ferimentos à bala, 196 pessoas foram tratadas por traumas ligados a confrontos entre civis: esmagamentos, sufocamentos e espancamentos. Uma nova sigla apareceu nos registros médicos: BBO (Beaten By Others), espancados por outros. Uma mulher morreu por asfixia e uma criança de cinco anos sofreu ferimentos graves na cabeça.
A GHF, a única entidade autorizada a distribuir ajuda em Gaza desde maio passado, opera sob total controle militar israelense, com proteção armada fornecida por contratados dos EUA. "Os centros da GHF são armadilhas mortais. Devem ser desmantelados e substituídos por um mecanismo independente sob a coordenação das Nações Unidas", afirma Minardi. A ONG pediu ao governo italiano que intervenha com urgência. A denúncia também diz respeito à manipulação da narrativa a respeito das ajudas. A GHF foi apresentada como uma resposta à suposta falha do sistema da ONU. Mas, para a MSF, não passa de "um plano mortal, que institucionaliza a política de fome das autoridades israelenses em Gaza".
Uma denúncia que se soma àquela da Organização Mundial da Saúde: "Em julho, quase 12 mil crianças abaixo dos cinco anos foram classificadas como afeitas de desnutrição aguda em Gaza, o maior número mensal já registrado", disse o diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus. Enquanto isso, as violências continuam. Após 24 de julho, outros 189 feridos foram registrados entre 27 de julho e 3 de agosto, sempre nos centros da GHF. Novamente ferimentos de arma de fogo no pescoço e na cabeça.