21 Junho 2025
Uma nova e perigosa corrida ao armamento nuclear que se registra no mundo é talvez a conclusão mais saliente do Anuário de 2025 do Sipri (Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo), que acaba de ser divulgado.
A reportagem é de Manuel Pinto, publicada por 7 Margens, 16-06-2025.
Apesar de Israel (e em geral boa parte do Ocidente que o apoia) invocar o perigo iminente de o Irã vir a possuir armas nucleares como motivo para desencadear mais uma frente de guerra no Oriente Médio, quase todos os nove Estados com armas nucleares (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e o próprio Israel) “continuaram os seus programas intensivos de modernização nuclear em 2024, atualizando as armas nucleares existentes e acrescentando versões mais recentes”, refere uma súmula do Anuário.
Esta expansão e modernização dos arsenais nucleares globais verifica-se “numa altura em que os regimes de controle de armas estão severamente enfraquecidos” e vão em contracorrente com o esforço que, sob a égide da ONU, se tinha conseguido, com o fim da Guerra Fria – o de reduzir e mesmo desmantelar esses arsenais.
Em termos quantitativos, o Anuário do Sipri refere que, do total do inventário global de aproximadamente 12.241 ogivas existentes em janeiro deste ano de 2025, quase 9.614 estavam em armazéns militares para potencial utilização. Cerca de 3.910 destas ogivas foram implantadas em mísseis e aeronaves, e as restantes foram armazenadas num depósito central. Aproximadamente 2.100 ogivas posicionadas em mísseis balísticos – maioritariamente da Rússia e dos Estados Unidos e, em menor grau, da China – são mantidas em alerta operacional máximo.
“Desde o fim da Guerra Fria, observa o Sipri, o desmantelamento gradual de ogivas desativadas pela Rússia e pelos Estados Unidos ultrapassou o desenvolvimento de novas ogivas, resultando numa redução anual geral do armazenamento global de armas nucleares”. As previsões indicam, porém, “que esta tendência se vai inverter nos próximos anos”, devido ao abrandar do desmantelamento e à aceleração do surgimento de novas armas nucleares.
Quase 90% das armas nucleares do mundo estão nas mãos de dois países: a Rússia (com 5.459) e Estados Unidos (com 5.177).
Importa notar que uma consequência deste panorama é o crescimento dos gastos com a defesa e, em particular, com o armamento, especialmente na Europa e no Oriente Médio, onde desde há três anos se registam conflitos altamente destruidores.
O mesmo Instituto de Estocolmo dera a conhecer, em 28 de abril último, um relatório específico sobre esta matéria, que apontava um “novo recorde” de gastos militares globais, que atingiram, em 2024, 2.718 milhões de dólares, mais 9,4 por cento do que no ano anterior. Como referia, em tom de alarme, esse estudo do Sipri, tratava-se do aumento anual mais rápido das despesas militares desde o final da Guerra Fria, além de ser o pico de dez anos de crescimento consecutivo. “Mais de 100 países aumentaram os seus orçamentos para a defesa, fazendo com que o armamento se tenha tornado um fenómeno global, estrutural e transversal, que envolve economias e governos de todos os tipos”.
Regressando ao Anuário Sipri, diga-se que ele traça uma panorâmica dos desenvolvimentos em domínios como a segurança internacional, armamento e tecnologia, gastos militares, produção e comércio de armas, conflitos armados e gestão de conflitos, bem como esforços para controlar armas convencionais, nucleares, químicas e biológicas.
Além da introdução, o Sipri disponibiliza acesso livre a três capítulos do documento: forças nucleares; conflitos armados e gestão de conflitos; e inteligência artificial e paz e segurança internacionais.