21 Junho 2025
O fechamento de agências de desenvolvimento dos Estados Unidos, decretado pelo presidente Donald Trump, trouxe problemas para organismos de países menos desenvolvidos, mas também levantou questionamentos, nem todos de crítica, mas questões que levam os olhares para os tempos do auge do imperialismo.
A reportagem é de Edelberto Behs.
Em postagem no blog Aljzeera.com., o editor-chefe do The New Humanitarian, Patrick Gathara, argumenta: “Todo o empreendimento da ajuda tem sido uma ferramenta de controle geopolítico, um meio de preservar, em vez de eliminar, a desigualdade global e a extração de recursos que a alimenta”.
Para o professor do Instituto de Pós-Graduação em Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra, Davide Rodogno, “toda ajuda ao desenvolvimento é política, nenhum Estado fornece ajuda de graça”. Países que oferecem ajuda internacional também fornecem aos países receptores contratos e influência, além de manter presença numa área geográfica.
Essas relações, lembra Rodogno em entrevista para Camille Andrés, do jornal Reformado, da Suíça, foram frequentemente estabelecidas de “um Estado colonizador para uma ex-colônia”, como, por exemplo, de Portugal para Moçambique, ou para as áreas colonizadas por franceses e ingleses.
“Toda noção de desenvolvimento está sendo questionada. A ideia de uma ilha onde as coisas vão bem e que pensa para o desenvolvimento para o resto do mundo não existe mais”, assinala Rodogno. Uma coisa é certa, aponta: “não será um modelo único de desenvolvimento” a persistir no futuro. Dentro de uma região, por setor, por polo, novas parcerias estão surgindo. Uma outra mudança que ele aponta é a mudança da palavra “desenvolvimento” por “sustentabilidade”. A evolução da cooperação internacional só poderá ocorrer num contexto de paz e de diálogo.
Autora do livro Fatal Aid, a economista zambiana Dambisa Moyo critica a ajuda ao desenvolvimento e denuncia sua ineficácia, pois constitui um freio ao crescimento e não raro está envolto em corrupção e instabilidade institucional. Ela propõe, segundo Khadija Froidevaux para o jornal Reformado, um modelo baseado no comércio e no investimento privado, sem dependência de empréstimos internacionais.
O diretor para Ruanda da organização Food for the Hungry, Jerry Kadazi, defende uma “revolução financeira” para acabar com a dependência: os governos devem desenvolver recursos internos por meio de uma gestão transparente de sua riqueza. “Na minha opinião – arrola – a ajuda internacional também deve evoluir para respeitar a dignidade dos beneficiários e não reforçar uma lógica de dependência em que aqueles que recebem ajuda são invisibilizados e desvalorizados”.
Ele tem claro que a dependência das ONGs em relação ao financiamento estrangeiro resulta de uma relação desigual entre o Ocidente e o Sul, o que levanta questões sobre a autonomia de Estados e o impacto da ajuda internacional na sua soberania econômica.