02 Junho 2025
Lideranças de trabalhadores rurais afrodescendentes de 16 países aumentaram a pressão por uma participação dos movimentos de quilombolas nas agendas de negociações da COP30. Em carta entregue à presidência da conferência na última 5ª feira (29/5), os representantes exigem uma participação ativa dos movimentos nas discussões sobre os temas climáticos e, além disso, 500 credenciais e um espaço físico para os dias do evento, em novembro, em Belém (PA), detalhou a Folha.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 02-06-2025.
Líderes quilombolas se dizem excluídos das discussões da COP30. Para ganhar volume na disputa por espaço, a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) se uniu a outros grupos de trabalhadores rurais negros da América Latina. Assim, foi criada a Citafro – Coalizão Internacional de Organizações para a Defesa, Conservação e Proteção dos Territórios, do Meio Ambiente, Uso da Terra e Mudança Climática dos Povos Afrodescendentes da América Latina e do Caribe.
Em outra frente, representantes de mais de 70 movimentos populares, organizações e Povos Tradicionais de 13 países se reuniram em ato político em Belém na 6ª feira (30/5), onde foi anunciado que a Universidade Federal do Pará (UFPA) será o palco central das discussões da Cúpula dos Povos, que acontecerá de 12 a 16 de novembro, durante a COP30. O ato reforçou a exigência de que os Povos da Amazônia sejam os verdadeiros protagonistas da luta climática, a partir da escuta, do diálogo e proposição de políticas públicas, considerando a vivência e os saberes tradicionais, destacou o Brasil de Fato.
Representando Povos Indígenas do Brasil, Auricélia Arapiun, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), cobrou o protagonismo das comunidades tradicionais e amazônicas na conferência: “A resposta somos nós, que estamos há muito tempo dizendo que temos a solução. Se eles tivessem a solução, não estaríamos a caminho do fim do mundo, como estamos. Muito pelo contrário, a cada COP a situação só piora porque não estamos lá dentro, não somos ouvidos e nem seremos”.
Para as organizações envolvidas na Cúpula dos Povos, as decisões das conferências do clima não geram soluções eficazes contra a crise climática, relatou a Folha. A carta política lançada pelo movimento declara que “países tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5oC do Acordo de Paris.”
Em um contexto geopolítico conturbado, as reivindicações dos Povos Originários e Quilombolas criam mais um desafio para o multilateralismo. Assim, a COP30 é uma oportunidade do Brasil mostrar para o mundo que o sistema multilateral pode funcionar, destaca a embaixadora do Reino Unido no Brasil, Stephanie Al-Qaq, em entrevista ao Valor.
A Comissão Internacional de Comunidades Tradicionais, Afrodescendentes e Agricultores Familiares foi instaurada na 5ª feira (29/5), em cerimônia no Ministério de Relações Exteriores. O grupo integra o Círculo dos Povos, criado pela presidência da COP30 para garantir a representatividade dessas populações nos debates sobre mudança do clima.
Treze capitais brasileiras – entre elas Belém, sede da COP30 – não têm plano municipal de mudanças climáticas, mostra o estudo "Crise climática e desastres socioambientais", do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), antecipado ao UOL. Outras 13 capitais e o Distrito Federal possuem planos, mostra a pesquisa. "As capitais deveriam dar exemplos a outros municípios", afirma Pablo Lira, diretor-geral do IJSN e coordenador do Núcleo Vitória, do Observatório das Metrópoles. "É um cenário preocupante que demonstra negligência com as causas climáticas. Capitais são cidades com maior receita, por isso deveriam estar mais bem preparadas", completou.