08 Mai 2025
"Uma característica desse Colégio de Cardeais é que ele também é composto por vários cardeais jovens e muitos que vêm das “periferias do mundo”, o que também implica o encontro entre diferentes sensibilidades e expectativas, mas também um tecido comum de quem olha para a Igreja e para o mundo não necessariamente com um olhar ocidental", escreve Francesco Peloso, jornalista, em artigo publicado por Domani, 06-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um papa próximo da vida concreta das pessoas, capaz de construir pontes com a humanidade desta época e de ser um guia em um tempo dilacerado por muitos conflitos, um papa capaz de colocar os pobres no centro da ação pastoral da igreja. Essas são algumas das características do perfil do novo pontífice que os cardeais estão traçando durante as congregações gerais que precedem o conclave.
Em suma, está despontando um perfil pastoral, muito mais bergogliano do que havia sido previsto pelas mídias nos primeiros dias após a morte de Francisco. Em um primeiro momento, de fato, não eram poucas as vozes que previram um papa “mais tranquilo”, em comparação com Bergoglio, pelo menos na maneira de se comunicar, de se relacionar com os problemas da igreja e com as grandes questões internacionais, menos instintivo, mais moderado.
Essas preocupações não necessariamente desapareceram, mas a ideia de um papa que continue a ação pastoral de Francisco em suas características essenciais está tomando forma.
Na manhã de segunda-feira, foi realizada a décima congregação geral, durante a qual, segundo a sala de imprensa do Vaticano, foi enfatizada, acima de tudo, “a natureza missionária da Igreja: uma Igreja que não deve se fechar em si mesma, mas acompanhar cada homem e cada mulher em direção à experiência viva do mistério de Deus”. Além disso, “também foi discutido o perfil do futuro papa: uma figura que deve estar presente, próxima, capaz de ser ponte e guia, de favorecer o acesso à comunhão a uma humanidade desorientada e marcada pela crise da ordem mundial. Um pastor próximo da vida concreta das pessoas.
Muitos desafios foram citados: a transmissão da fé, o cuidado com a criação, a guerra e a fragmentação do mundo. Foi expressa uma forte preocupação com as divisões dentro da própria igreja. Não faltaram referências às vocações, à família e à responsabilidade educacional com relação aos filhos”.
Também “foi lembrado que, ao celebrar Cristo presente na Eucaristia, nunca se deve esquecer o sacramento de Cristo presente nos pobres”. Entre outras coisas, “foi também destacado o papel fundamental da Caritas, chamada não só a socorrer os pobres, mas a defendê-los, dando testemunho da justiça do Evangelho”.
Além disso, já no decorrer das congregações dos últimos dias, estavam surgindo alguns elementos semelhantes a partir da discussão atual. No sábado passado, por exemplo, entre os temas levantados, não “faltaram referências ao Jubileu e o desejo de que o próximo papa tenha um espírito profético, capaz de guiar uma igreja que não se feche em si mesma, mas saiba sair e levar luz a um mundo marcado pelo desespero”.
Afinal, uma característica desse Colégio de Cardeais é que ele também é composto por vários cardeais jovens e muitos que vêm das “periferias do mundo”, o que também implica o encontro entre diferentes sensibilidades e expectativas, mas também um tecido comum de quem olha para a Igreja e para o mundo não necessariamente com um olhar ocidental.
Portanto, embora os 133 eleitores já tenham chegado a Roma, os perfis dos candidatos estão cada vez mais delineados. Há dois subgrupos principais nos quais podemos dividir os candidatos: os curiais e aqueles provenientes das igrejas locais.
Entre os primeiros incluímos o Cardeal Pietro Parolin, ex-Secretário de Estado: uma das poucas figuras que acompanharam Francisco durante toda a duração de seu pontificado, mas que nas últimas semanas foi criticado tanto pela direita quanto pela esquerda. O outro nome “forte” expresso pela Cúria Romana é o filipino Luis Antonio Tagle, ex- pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização. O cardeal de 67 anos também tem em seu currículo uma longa experiência como pastor de uma diocese grande e animada como a capital filipina Manila. Outros nomes da cúria são os de Claudio Gugerotti, ex-prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, o estadunidense (em ascensão, de acordo com os rumores coletados nas últimas horas) Robert Prevost, ex-prefeito do Dicastério para os Bispos, o português José Tolentino de Mendonça, ex-chefe do Dicastério da Cultura. Mas também um dos candidatos mais apreciados pela ala “bergogliana”, o maltês Mario Grech, secretário-geral do Sínodo.
No entanto, embora no final do confronto entre os cardeais o que emerge é o perfil de um “pastor” em sentido próprio, outros candidatos também poderiam reunir votos na Capela Sistina. Perfis como o do arcebispo de Bolonha, Matteo Zuppi, para o qual se orientaria boa parte dos votos dos cardeais italianos, depois o patriarca de Jerusalém Pierbattista Pizzaballa, o estadunidense Blase Cupich, arcebispo de Chicago, Fridolin Ambongo Besungu, Arcebispo de Kinshasa, da República Democrática do Congo, o húngaro Peter Erdo, porta-estandarte da ala conservadora, o espanhol Juan José Omella, Arcebispo de Barcelona, em forte sintonia com Francisco, mas que tem 79 anos.
Entre os mais comentados nas últimas horas aparece o francês Jean Marc Aveline, arcebispo de Marselha. Recentemente eleito à frente da conferência episcopal do país, sobre ele pesa sua pouca proficiência em italiano, como demonstrou em uma recente coletiva de imprensa no Vaticano.
Mesmo assim, no domingo, em seu ofício no distrito de Monti, deu prova de poder se destrinchar lendo. O cardeal, nascido na Argélia de uma família de pieds-noirs, é muito sensível aos temas do diálogo inter-religioso (não é por acaso que cita como uma figura “muito importante para mim” o santo francês Charles de Foucauld, um religioso que dedicou sua missão ao diálogo com os tuaregues) e das migrações. Do púlpito de Santa Maria ai Monti, ele proferiu uma homilia na qual convidava a não ter “medo dos outros diferentes de nós”.