10 Abril 2025
Espalham-se na internet receios de que o presidente dos EUA possa tomar a medida drástica no dia em que aguarda o relatório sobre a situação dos migrantes na fronteira com o México.
A reportagem é de Massimo Basile, publicada por La Repubblica, 10-04-2025.
A psicose americana produziu um novo pesadelo: nas redes sociais, há quem tenha certeza de que Donald Trump imporá a lei marcial em 20 de abril. O alarme viralizou nas redes sociais, começando pelo TikTok, onde a hashtag #martiallaw registrou dezenas de milhares de interações em apenas algumas horas. E também chegou ao Facebook, relançado por contas progressistas. Não há sinal de que Trump queira impor lei marcial, uma medida que representaria uma mudança dramática e sem precedentes nos Estados Unidos, porque sinalizaria um desejo de reprimir a dissidência, transformando o que era considerado até alguns meses atrás a maior democracia do mundo na maior autocracia do Ocidente. Mas enquanto isso, nas redes sociais eles têm menos certezas e muito mais ansiedade.
A história decorre da ordem executiva que o presidente assinou no dia em que retornou à Casa Branca, em 20 de janeiro: nesse documento, Trump havia solicitado ao Departamento de Defesa e ao Departamento de Segurança Interna que preparassem um relatório até 20 de abril para delinear a situação dos migrantes na fronteira sul com o México e estabelecer se existem condições para invocar a Lei da Insurreição de 1807. A ordem dizia: "Dentro de noventa dias de sua proclamação, o Secretário de Defesa e o Secretário de Segurança Interna deverão apresentar um relatório conjunto ao Presidente, incluindo se devem invocar a Lei da Insurreição". Os noventa dias expiram em 20 de abril. Este ato faz parte da legislação federal de emergência que concede plenos poderes ao presidente e o uso do exército e da Guarda Nacional para lidar com emergências internas, como tumultos, confrontos ou tentativas de obstruir a ação do governo.
A Lei da Insurreição raramente foi usada. Foi invocado pelo presidente Abraham Lincoln durante a Guerra Civil em 1861, pelo presidente Ulysses Grant contra os ataques racistas da Ku Klux Klan na Carolina do Sul em 1871, e por George H. W. Bush após os tumultos que eclodiram após o espancamento brutal do taxista afro-americano Rodney King pela polícia de Los Angeles em 1991. De acordo com usuários de mídia social, a Lei da Insurreição serviria como uma “cobertura” para a introdução da lei marcial. Estamos falando de duas situações diferentes: a primeira envolve o uso do exército, a segunda a suspensão de direitos civis e a substituição de tribunais civis por militares.
As prisões de estudantes e professores, presos ou expulsos sob acusações de antissemitismo, parecem um sinal preocupante, mas a guinada autoritária, ainda que evocada pelo “Projeto 2025”, a agenda política implementada por representantes da extrema direita que depois acabaram no governo Trump, não se confirmou. A mídia americana fala sobre isso com distanciamento, mas então os usuários das redes sociais começam a criar ainda mais ansiedade, relembrando a sinistra coincidência de 20 de abril. O dia em que saberemos se o presidente invocará a Lei da Insurreição também é a data de nascimento de uma figura histórica a quem Trump fez referências controversas e lisonjeiras no passado, como elogiar a lealdade de seus generais: o Führer, Adolf Hitler.
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