27 Março 2025
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 26-03-2025.
A Rede Um Grito pela Vida, criada em 2007, é uma iniciativa intercongregacional da Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil, composta por religiosos e religiosas de diversas congregações, além de leigos comprometidos com a erradicação do tráfico de pessoas.
Aos poucos, a rede se espalhou por todos os cantos do Brasil, chegando a várias regiões, como Manaus, onde será realizada uma missa de Ação de Graças no domingo, 30 de março. Aos poucos, essa rede se tornou “ um sinal de esperança para todos aqueles que foram vítimas do tráfico”, segundo a Irmã Rosana Marchetti, então superiora provincial das Missionárias da Imaculada Conceição e hoje coordenadora pastoral na Arquidiocese de Manaus.
Na Região Norte 1, abordar o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes é de grande importância. Desde 2016, esse trabalho está incluído nas Diretrizes Regionais para a Ação Evangelizadora e, em 2019, foi adotado como causa permanente nas diretrizes . Assumiu-se que a Regional fortaleceria os núcleos da Rede Um Grito pela Vida, para contribuir com a prevenção do tráfico de pessoas e do abuso e exploração sexual em todas as igrejas locais.
Irmã Rosana relembra o impulso dado pela coordenadora da Conferência Nacional dos Religiosos da Região Norte 1, Irmã Guaracema Tupinambá, que convocou algumas religiosas que tiveram a oportunidade de abraçar esta causa junto com a CRB. Formou-se um pequeno grupo de sete ou oito freiras, que passaram a estudar e se aprofundar nos documentos que falavam sobre o tráfico de pessoas, para entender essa realidade, entrando em contato com órgãos governamentais que lidavam com esse problema. “Um processo lento, mas muito bonito”, segundo a freira, para poder articular e iniciar essa atividade de proteção dessas pessoas.
O próximo passo foi visitar portos e algumas comunidades do interior, e então foi realizado o treinamento. Ele lembra que foi a Salvador, na Bahia, com esse propósito, se aprofundando na realidade do tráfico de pessoas, do trabalho escravo e de todas as situações que desrespeitam a dignidade humana. Tudo isso fez com que aos poucos as pessoas percebessem que o problema estava muito presente em Manaus , tanto na cidade quanto nas comunidades ribeirinhas, e começaram a conscientizar as pessoas nas escolas. O trabalho de cuidar da vida aumentou com a chegada de outras irmãs.
O aniversário de 18 anos da Rede Um Grito pela Vida é uma oportunidade de “relembrar todo o caminho percorrido, todos os processos realizados desde que a rede foi criada”, segundo a secretária executiva da Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1) e integrante da Rede desde sua fundação, Irmã Rose Bertoldo, que relembra como tantos outros fios foram tecidos ao longo dos anos, “tantas histórias de vida, tantos rostos que alcançamos e que também ajudamos essas pessoas a escapar dos processos de escravidão, dos processos de violência”.
Ele enfatiza que “isso é muito importante, porque aprendemos a trilhar esse caminho juntos”. Lembre-se de que "o trabalho da Rede Um Grito pela Vida é um esforço contínuo para prevenir e, acima de tudo, conscientizar e demonstrar que essa realidade, embora tão invisível e os dados tão subnotificados , é de fundamental importância para continuar falando e fazendo esse trabalho de prevenção. Acima de tudo, na formação, no empoderamento de novas lideranças e também na promoção do desenvolvimento de políticas públicas que também ajudem as pessoas a sair de suas situações de vulnerabilidade para que possam ter um trabalho decente e uma vida digna."
18 anos de caminhada nos ajudam a lembrar da fragilidade com que a rede foi tecida, que está sempre em construção, mas sobretudo da força de cada pessoa que faz parte da rede, algo que se manifesta na doação de sua vida e no seu compromisso com o cuidado da vida, enfatiza. Uma rede que “ deve ser sempre tecida pelas mãos de mulheres e homens que cuidam da vida e sonham com uma sociedade sem violência, sem tráfico de pessoas ”, segundo a Irmã Rose.
Lembremos que “a Vida Religiosa abraçou esta causa de enfrentamento ao tráfico de pessoas, que nestes tempos difíceis é um grande sinal de profecia , e continua a tecer esta rede de cuidado com fios que entrelaçam as múltiplas realidades dos mais diversos lugares”. Uma rede tecida por pessoas que “dão suas vidas e ajudam a construir um mundo sem violência, acreditando que é possível viver uma vida onde todos sejam livres e, acima de tudo, trabalhando nessa dimensão da consciência, denunciando as estruturas que acabam criando oportunidades para o tráfico de pessoas, especialmente de mulheres, jovens e pessoas que emigram em busca de uma vida melhor e acabam caindo nas redes dos traficantes”.
Essa realidade leva a freira a insistir na importância e necessidade da rede e sua interligação com outras redes da América Latina e do mundo, especialmente a Rede Talitha Kum, que articula todas as redes de combate ao tráfico de pessoas na vida religiosa consagrada ao redor do mundo. É, portanto, "um momento de gratidão, gratidão por todos aqueles que deram suas vidas nestes 18 anos , que não estão mais aqui, mas que deixaram sua marca. Gratidão por todos aqueles que agora nos abraçam, e por aqueles que virão depois de nós, que abraçarão e continuarão a fazer este trabalho de cuidar da vida em todos os espaços onde a vida religiosa consagrada, os leigos, dão suas vidas pelas causas em que acreditam", disse a secretária executivo da Região Norte 1.
O nascimento da Rede Um Grito pela Vida na Região Norte 1 foi “ uma pequena semente plantada e regada com muito carinho e paciência, que cresceu e deu frutos, e esses frutos permanecem”, lembra Irmã Guaracema Tupinambá. Nesse caminho, ela destaca a importância da chegada das Irmãs do Imaculado Coração de Maria: Irmã Santina Perin e Irmã Celina Loo, que em 2011 convocaram a Vida Religiosa da Região Norte 1 para abraçar essa causa, iniciando encontros de religiosas e leigas, que passaram a se capacitar, compartilhar informações e se comprometer com essa causa.
Irmã Guaracema relembra que em pouco tempo foram realizados seminários, visitas a escolas, bairros e algumas instituições, estreitando laços com instituições locais, serviços jurídicos e instituições responsáveis por essas questões, proporcionando assim soluções para casos de tráfico de pessoas, abusos e violência. Ele lembra que “no começo, muitas pessoas nos diziam, até pessoas das comunidades pastoris, que esse problema não existia na Amazônia. A situação era tão invisível que as pessoas queriam se convencer e a nós de que não existia . Pouco a pouco, fomos conhecendo pessoas que nos contavam suas histórias, e essas histórias reais nos motivaram a continuar com esse compromisso.”
A freira lembra que a Rede Um Grito pela Vida foi a impulsionadora da criação da Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas na Tríplice Fronteira Brasil-Colômbia-Peru, da qual participou durante seis anos, destacando sua importância nesta Tríplice Fronteira, mais um exemplo de como a Rede Um Grito pela Vida tem motivado diversas organizações a defender esta causa de combate à violência e ao tráfico de pessoas.