20 Dezembro 2023
"Mais do que números, o que causa desconforto no mapa da fome é a imagem da despensa vazia em um país que, ano a ano, registra recordes na produção de grãos e fibras. E que ainda não conseguiu resolver a problemática do desperdício – 27 milhões de toneladas de alimentos vão para a lata do lixo no Brasil todos os anos, em razão de manuseio e transporte incorretos", escreve Rejane Rodrigues, colaboradora da Alter Conteúdo, em artigo publicado na newsletter da Alter Comunicação, 19-12-2023.
No próximo fim de semana, um em cada dez brasileiros não saberá o que é uma ceia de Natal. São 21 milhões de pessoas que, pelos critérios da ONU, estão em insegurança alimentar grave no país – ou seja, não têm o que comer todos os dias. Outros 49,2 milhões estão em insegurança alimentar moderada, com ingestão de nutrientes em quantidade insuficiente para uma vida saudável.
Mais do que números, o que causa desconforto no mapa da fome é a imagem da despensa vazia em um país que, ano a ano, registra recordes na produção de grãos e fibras. E que ainda não conseguiu resolver a problemática do desperdício – 27 milhões de toneladas de alimentos vão para a lata do lixo no Brasil todos os anos, em razão de manuseio e transporte incorretos.
Até aqui nada de novo, pois as desigualdades à mesa sempre existiram. Mas não podemos pensar que isso é normal, ou distante de nós. Porque não é.
Por isso, minha reflexão de hoje é sobre que tipo de cidadãos queremos ser na busca por maior justiça social. Nos relatórios de sustentabilidade e nas iniciativas ESG, é muito comum falarmos sobre responsabilidade social corporativa, sobre as ações desenvolvidas pelas empresas em benefício de pessoas em situação de vulnerabilidade e das comunidades do entorno. De fato, essas iniciativas são muito importantes para melhorar as condições de vida, em especial de populações mais carentes. Mas só isso não basta.
A mudança para o mundo que queremos passa, necessariamente, pelas pessoas. E em nossa história recente, uma das iniciativas mais importantes no combate à fome está completando 30 anos. Foi em 1993 que o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, iniciou a campanha Natal sem Fome, com impacto na vida de mais de 26 milhões de pessoas até hoje. Betinho é um exemplo de como apenas uma pessoa pode iniciar transformações sociais profundas.
Para quem duvidava da viabilidade do projeto, Betinho recorria à fábula do beija-flor. O conto dizia que, durante um incêndio numa floresta, enquanto todos os animais fugiam, um beija-flor pegava pequenas quantidades de água no rio para conter o incêndio. Questionada se achava que conseguiria apagar o fogo sozinho, a ave respondia que não, mas que estava fazendo a sua parte.
Você está fazendo a sua parte?