Genocídio em Gaza: não há vida e nem sonhos. Destaques da Semana no IHU

De 04 a 13 de novembro de 2023

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

14 Novembro 2023

A guerra em Gaza tem se revelado cada dia mais brutal. O número de mortes sobe diariamente e o bloqueio de Israel já levou ao fechamento de 20 dos 36 hospitais da região, levando ao ápice da tragédia humanitária. Enquanto os conflitos pelo mundo se alastram, o Papa Francisco continua sendo a voz dissidente nos apelos a uma paz duradoura. Apesar do colapso climático dar sinais de Norte a Sul do Brasil, parece que os preparativos para a COP28 não estão empolgando ninguém. Nessa semana também nos despedimos de Enrique Dussel e José Maria Castillo. Confira os Destaques da Semana no IHU

Luta pela vida

A tragédia da guerra tem revelado outra batalha: pela vida. Enquanto Israel afirma que o Hamas se refugia em hospitais, para justificar seus ataques, médicos lutam em meio ao caos para salvar os pacientes.

As vítimas da guerra que buscam a última esperança de vida são de todas as idades, mas ver crianças tão pequenas é chocante. Segundo o Unicef, uma criança morre a cada 10 minutos em Gaza devido aos bombardeios israelenses. No caso das crianças palestinas, que nascem e crescem em meio ao conflito, é como ter a infância roubada.

Diários da guerra

Acompanhar os relatos diários da guerra é angustiante, mas também é muito fácil nos perder em meio ao noticiário e assumir posições imediatistas. Neste sentido, publicamos cinco artigos do jornalista italiano Riccardo Cristiano, que olha a guerra por dentro, mas sem perder a perspectiva da complexidade que envolve o conflito. Confira:

Divididos em fronteiras?

A fronteira é um conceito que nos remete a muitos enfoques, mas o mais produtivo é aquele que pensa nos contatos e nas trocas entre os povos. Mas não nos apegamos a esta noção, visto a terceira guerra mundial em pedaços. Como aponta Vito Mancuso, o desafio é superar o antigo conceito de fronteira: aquele que separa. Afinal, como observa Leonardo Boff, somos contatos. Por exemplo, em todo israelense reside um palestino.

Violações e respostas

Na semana que passou, também publicamos outra reflexão de Leonardo Boff, que nos questiona. O genocídio israelense: suprema expressão do paradigma moderno? Enzo Traverso também reflete neste sentido, lembrando que a guerra de Gaza não pode ser vista como uma resposta semelhante ao ocorrido no Holocausto, matando ou destruindo sonhos numa resposta na qual, em última instância, reside o racismo.

Uma papa atormentado

Francisco tem muitos motivos para perder o sono com assuntos de dentro e fora dos muros da Igreja. Ele, porém, parece realmente atormentado com o mundo em guerra. Embora haja quem ache Francisco ambíguo nas suas posições sobre o judaísmo, ele segue sua toada em articulações curiosas sobre a paz. Pois, como ele mesmo diz, sempre muito atento aos pequenos nesta guerra em Gaza: “Nenhuma guerra vale as lágrimas de uma mãe”.

Marcas do tempo, mas disposto a lutar

Francisco tem revelado as marcas do tempo e da idade e reconhecido que não tem boa saúde. Mas sua voz sobre os problemas do mundo atual ainda é a que ecoa mais forte. Enquanto isso, segue lidando com críticas, especialmente relacionadas aos Sínodo sobre Sinodalidade. Talvez, como apontam Leonardo Steiner, Geraldo Luiz De Mori e Luis Miguel Modino, oriundas daqueles que não aceitam um processo de transformação já iniciado. Coragem o atual Papa tem e ele está disposto a enfrentar importantes provações.

Outras guerras

E não custa lembrar: o que ocorre em Gaza é mais uma das tantas guerras que vivemos. E não estamos, também, apenas falando da Ucrânia, pois há a dura realidade da África. Em evento realizado na semana que passou, Alex Zanotelli, missionário comboniano que vive na Itália, mas esteve em missão pela África, lembrou que o continente vive um desastre começado pelos europeus.

Substratos perigosos e alternativas

Pensado no conturbado mundo de hoje, o convite de Raúl Zibechi para se construir o pensamento estratégico talvez seja pertinente. Claro, sem perder a perspectiva de Tonio Dell’Olio de desmamar e perdoar. Afinal, de um lado há guerra, de outro há disputas importantes que revolvem substratos perigosos, vide o caso da Argentina com sua extrema-direita, que parece encantar a direita tradicional.

Morte de Henrique Dussel

A semana que passou também foi marcada pela morte do filósofo Enrique Dussel. Nome importante e que praticava uma filosofia da libertação, ele também acabou influenciando a teologia latino-americana, tornando-se leitura importante para reflexões que embalam a Teologia da Libertação.

Morte de José María Castillo

Outra perda importante que tivemos nos últimos dias é o teólogo José María Castillo. Como bem lembra Pedro Miguel Lamet, com sua teologia e desafios que perpassou, Castillo foi capaz de ser uma força profética dos fracos. E, como um profeta, foi capaz de humanizar Deus, pensando um cristianismo para além e distopias religiosas. Recordemos seu pensamento em uma conferência aqui do IHU.

Olhar pelos pobres

Aliás, tanto a obra de Dussel quanto a de Castillo têm ao fundo algo em comum: o desafio de olhar para aqueles menores de nossa sociedade. Podemos materializar estes nos pobres. Neste sentido e provocados pelo Dia Mundial dos Pobres, que ocorre no próximo domingo, 19-11-2023, e pelo documento do Papa Francisco que trata desta data, o IHU promove uma mesa de debates na próxima quinta-feira.

 

Mais uma COP num mundo colapsado

Já está no horizonte mais uma COP, a conferência do clima. A edição deste ano terá a presença do Papa Francisco. Neste ano, o evento, que começa em 30 novembro, será em Dubai. É preciso ter esperanças, mas o encontro começa com o desafio de superar o Acordo de Paris, que nem saiu do papel e já está obsoleto.

Não é por menos, afinal, vivemos em um planeta colapsado. E não precisamos ir longe, nem sair do Brasil. A Amazônia segue torrando numa seca histórica, em que Manaus chega a ser engolida por uma tempestade de areia.

Já o centro do país sofre com onda de calor histórica.

Na região sul, são as chuvas e as enchentes que voltam a assustar.

Memória do desastre

Diante deste quadro climático, cientistas alertam que a janela para uma reação da humanidade é cada vez menor. Mas como chegamos até aqui? Por isso, é importante fazer memória de tragédias como a de Mariana, em que o ser humano é surpreendido pela reação de anos de degradação ambiental. Oito anos depois, o que aprendemos com esta triste experiência?

Uma ótima semana a todas e todos!