17 Agosto 2023
Dos R$ 540 bilhões em investimentos previstos para o eixo de transição e segurança energética do Novo PAC, mais de 60% vão para combustíveis fósseis.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 15-08-2023.
“Transição e segurança energética” é um dos nove eixos do novo PAC lançado no fim da semana passada. Os investimentos previstos no segmento chegam a R$ 540,3 bilhões, ficando atrás apenas dos recursos que serão destinados ao eixo “Cidades sustentáveis e resilientes”. Contudo, ao destrinchar os números, vê-se que falta muito para que a transição se converta de fato no abandono dos combustíveis fósseis.
O Capital Reset destaca que o setor de petróleo e gás fóssil responde por R$ 335,1 bilhões dos investimentos previstos para o eixo da transição – 62% do total. Quase tudo ficará a cargo da Petrobras, cujos planos incluem a perfuração de três poços de exploração de petróleo na Margem Equatorial, no litoral do Rio Grande do Norte. A título de comparação, a produção de combustíveis de baixo carbono não vai receber nem 10% disso – são R$ 26,1 bilhões.
Dos 47 projetos sob comando da Petrobras no Novo PAC, informa o Poder 360, dezenove se destinam ao desenvolvimento da produção de petróleo e gás fóssil, com R$ 286 bilhões. O pré-sal é a região que mais vai receber plataformas de produção de combustíveis fósseis – 17 – mas a estatal também prevê a instalação de dois sistemas de produção de gás fóssil em águas profundas do litoral de Sergipe.
Os esperados investimentos da Petrobras em transição energética continuam uma incógnita. O Novo PAC prevê R$ 8,9 bilhões em descarbonização das operações da companhia. Na parte de combustíveis de baixo carbono, o maior investimento da estatal (R$ 2,3 bilhões) vai para o coprocessamento de diesel fóssil com óleos vegetais.
Nas redes sociais, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, ressaltou o “senso de responsabilidade, de dever, como empresa estatal, de ser parceira do Brasil”, relata o InfoMoney. O problema é que essa parceria continua resumida à estatal ser uma empresa de petróleo, focada em um desenvolvimentismo do século passado, e não numa companhia de energia, disposta a limpar os produtos que oferece ao mercado, substituindo os combustíveis fósseis – os grandes responsáveis pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa e, por consequência, pela crise climática que prejudica milhares de brasileiros.
Em tempo: As mulheres estão mais expostas às consequências das mudanças climáticas, mas estão sub-representadas no setor de energia, o grande vilão do aquecimento global. Mas a transição para fontes renováveis deve acelerar não somente o desenvolvimento de energias menos poluentes, mas também expandir as oportunidades profissionais para as mulheres no segmento. Como mostra o Um Só Planeta, globalmente elas representam 32% da força de trabalho em energia renovável, ante 22% de mulheres na indústria de petróleo e gás fóssil.
Leia mais
- Novo PAC: é preciso mais que trilhão
- Novo PAC: quais os horizontes para a Saúde?
- Novo PAC prevê transição, mas destina R$ 335 bilhões para petróleo e gás
- O PAC “ESG” e os recados da Cúpula da Amazônia
- A reforma tributária e os impactos nas finanças dos municípios brasileiros
- Lula e Marina lançam plano com caminhos para zerar desmatamento da Amazônia até 2030
- Petrobrás sob Lula: Nada de Novo Depois do 1º Trimestre de 2023
- Lula 3: É tempo de corrigir a trajetória
- Cúpula da Amazônia abre caminhos contra desmatamento, mas esbarra em divisões políticas
- Cúpula da Amazônia: Mais do mesmo. Artigo de Marc Dourojeanni
- Resultados da Cúpula da Amazônia decepcionam
- “O petróleo precisa sair de cena”, diz novo coordenador de fórum de mudança do clima
- Três em cada quatro brasileiros dizem se preocupar com as mudanças do clima, mostra pesquisa
- No último dia dos Diálogos Amazônicos, Marina Silva, Sônia Guajajara e Albina Ruiz recebem documento de lideranças religiosas pelo fim do desmatamento na Amazônia
- Declaração de Belém não cria meta para desmatamento zero na Amazônia
- Falta consenso sobre meta de desmatamento zero dos países pan-amazônicos
- Combate ao desmatamento no Cerrado exige plano específico, alerta WWF
- Sem clima para transição, América Latina insiste em combustíveis fósseis
- Países ignoram eliminação de combustíveis fósseis em NDCs
- Cúpula da Amazônia: acordo deve evitar ponto de não retorno da maior floresta tropical do mundo
- “Não é possível pintar a economia de verde, é preciso decrescer”. Entrevista com Alicia Valero
- Lítio: a corrida pelo ouro branco da transição energética
- Transição Energética e o Colapso Global. Limites e possibilidades
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
2/3 do investimento em transição energética do PAC vão para petróleo e gás - Instituto Humanitas Unisinos - IHU