30 Mai 2023
O CELAM fez um balanço do último quadriênio 2019-2023: Igreja latino-americana e caribenha em saída, pobre para os pobres e samaritana. Ao mesmo tempo traçou novos horizontes, olhando para frente em chave missionária para o próximo quadriênio 2023-2027.
A reportagem é de Antonio Dall’Osto, publicada por Settimana News, 26-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A 37ª Assembleia Geral Ordinária do CELAM, realizada em Tegucigalpa (Honduras) de 13 a 18 de maio de 2019, marcou o início de um itinerário de renovação e reestruturação dentro do Conselho Episcopal, em harmonia com a reforma da Igreja universal. O caminho percorrido no quadriênio foi descrito na abertura da 39ª Assembleia Geral Ordinária, realizada em Porto Rico de 16 a 19 de maio sobre o tema “Colegialidade, eclesialidade e sinodalidade para a missão”.
O que vivemos foi um tempo em que se quis responder com paixão aos desafios pastorais do continente, como nos pediu o Papa Francisco, que havia afirmado: “Se queremos servir à nossa América Latina com o CELAM, devemos fazê-lo com paixão. Hoje é preciso paixão. Vamos colocar o nosso coração em tudo o que fazemos".
A perspectiva eclesiológica foi a do Concílio Vaticano II, assumida nas cinco Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e na 1ª Assembleia Eclesial da América Latina. Um percurso caracterizado pela opção preferencial pelos pobres e pela preocupação com a ecologia e defesa da "casa comum", que configuraram o rosto de uma Igreja latino-americana e caribenha em saída, pobre para os pobres e samaritana.
Em Tegucigalpa, o CELAM assumiu a necessidade de discernir e responder aos sinais dos tempos com parrésìa, por meio de sete convicções, que definiram o CELAM como um organismo necessário e atual, de caráter subsidiário, em relação direta com as Conferências Episcopais, para ser uma escola de sinodalidade, com uma programação mais adequada, e com uma ampla oferta de formação pelo Cebitepal.
Daí derivam os nove princípios que nortearam o processo de renovação e reestruturação do CELAM, em chave sinodal, colegial, de conversão integral, com voz profética, visão integradora e impacto, como rede de redes, descentralizada e com um sentido de pertença, acolhendo e contribuindo para o magistério da Igreja.
O fulcro dessa renovação foi a criação de quatro Centros Pastorais:
Esses Centros Pastorais coordenam suas linhas de trabalho em torno de três eixos que reúnem os quatro sonhos expressos pelo Papa Francisco na Querida Amazônia.
Ganhou-se assim eficiência e qualidade, trabalho em rede, animação de processos, colegialidade e sinodalidade, ampliando a participação do povo de Deus, para a superação da autorreferencialidade e do clericalismo. Tudo isso é administrado pelo Comitê de coordenação em sintonia com várias organizações da Igreja no continente.
A respeito da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, esclareceu-se que se tratou de uma proposta do Papa Francisco, que almejava "uma iniciativa de viés sinodal que permitisse retomar e valorizar a riqueza da Conferência de Aparecida", da qual “ainda temos muito que aprender”.
No relatório do último quadriênio, foi relembrado o caminho daquela assembleia, realizada de 21 a 28 de novembro de 2021 no México, com a participação de 1.104 membros, em sua maioria leigos e leigas, na qual se destacou o amplo processo de escuta, promovido em um momento marcado pelas limitações dos encontros presenciais impostas pela pandemia do coronavírus.
O resultado foram 41 desafios pastorais, agrupados em sete núcleos temáticos, como ferramentas de trabalho para comissões de avaliação em diferentes níveis. Tudo isso foi incluído no texto “Por uma Igreja sinodal em saída rumo às periferias”, publicado em novembro de 2022.
No que diz respeito ao Sínodo 2021-2024, que tem como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”, a manifestação da Presidência do CELAM declarou “ter aberto itinerários insólitos de escuta, diálogo e discernimento à luz do Espírito e ao ritmo de cada uma das etapas previstas”, tentando pôr em prática o convite do Papa Francisco a abraçar com entusiasmo a aventura de "caminhar juntos".
Um processo no qual o CELAM ofereceu total apoio e colaboração a cada uma das solicitações da Secretaria Geral do Sínodo: apoio reafirmado na 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, que se concretizou em alguns empenhos assumidos pelo CELAM.
A que parece ser a principal contribuição do CELAM para o Sínodo é a organização e realização da Fase Continental do Sínodo nas quatro Assembleias Regionais nas quais foi privilegiado o discernimento comunitário através do método do diálogo espiritual. Mais de 400 pessoas participaram e foi preparado o Documento de síntese continental.
A nova sede do CELAM foi inaugurada a 12 de julho de 2022. “Insere-se no contexto do processo de renovação e reestruturação do CELAM, porque não pode haver novas estruturas se não houver uma renovação interna que as alimente e as nutra”, foi enfatizado no momento da inauguração.
É um espaço colocado "a serviço das 22 Conferências Episcopais do continente e da Igreja latino-americana e caribenha, que permite dar testemunho de uma Igreja em saída, mais sinodal, que assume os desafios deste tempo oferecendo serviços pastorais totalmente melhores".
Por fim, se quis mostrar que “a opção pelos pobres e pelos mais vulneráveis no continente latino-americano e caribenho levou o CELAM a assumir novos desafios na perspectiva da comunhão, colegialidade e sinodalidade durante o mandato 2019-2023”.
Entre eles, a colaboração com a Conferência Eclesial da Amazônia, a política do CELAM de prevenção e cuidado, com a criação de uma comissão apropriada, em comunhão com as orientações e ações adotadas pela Igreja universal, seguindo as orientações do Sumo Pontífice.
Entre os projetos, cabe destacar o Fundo Populorum Progressio, criado por Paulo VI "para ajudar os camponeses pobres e promover a reforma agrária, a justiça social e a paz na América Latina". A Fundação Populorum Progressio, nasceu em 1992 e foi definida por João Paulo II como “um gesto de amor da Igreja em solidariedade com os mais abandonados e necessitados de proteção, como as populações indígenas, mestiças e afro-americanas”.
Em setembro de 2022, o Papa Francisco decidiu criar esse fundo, confiando ao CELAM a tarefa de ajudar na análise dos projetos e sua implementação, continuando o trabalho conjunto com a Cúria Romana por meio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Dessa forma, tenta-se continuar a “tornar visível a opção preferencial pelos mais pobres que caracteriza a Igreja latino-americana e caribenha”.
Depois de ouvir os relatórios sobre o caminho realizado pela presidência e pelos centros pastorais nos últimos quatro anos, o CELAM agora olha para frente para traçar "horizontes de futuro" com um olhar de longo alcance.
Encontrar horizontes teológico-pastorais para a gestão 2023-2027 à luz da Assembleia eclesial e de uma Igreja sinodal em saída foi, de fato, o tema da palestra de Mauricio López e Carlos Galli na 39ª Assembleia Geral Ordinária do CELAM, realizada em Porto Rico de 16 a 19 de maio.
Mauricio López abordou o problema com uma reflexão sobre “O caminho sinodal do CELAM como processo de conversão: aprendizado, conexão regional com o universal, desafios e esperanças”.
Em sua palestra, López, diretor do Centro de redes e ação pastoral (CEPRAP), voltou a se conectar com a Assembleia Geral de 2019 em Tegucigalpa. Naquela oportunidade havia se procurado fazer uma séria análise e um discernimento sobre a missão pastoral do CELAM, para incentivá-lo a se tornar uma escola de sinodalidade e responder ao convite do Vaticano II a uma reforma permanente da Igreja, baseada numa nova eclesiologia e no povo de Deus como sujeito histórico da evangelização, segundo o pedido de Aparecida de ser discípulos missionários e assumir um caráter decididamente missionário.
Esse convite concretizou-se numa estrutura mais sinodal, através dos quatro centros pastorais, considerados como instâncias de serviço, tendo como eixo uma Igreja sinodal e em saída, o desenvolvimento humano integral e a ecologia integral, inspirados nos quatro sonhos do Papa Francisco na Querida Amazônia, com referência aos horizontes específicos da ação pastoral do CELAM.
Querendo mostrar os horizontes teológico-pastorais para o projeto global do CELAM 2024-2027, à luz da Assembleia eclesial, em uma Igreja sinodal missionária, os participantes discutiram, com base na realidade social e eclesial do continente, sobre a projeção e as orientações para o quadriênio 2023-2027.
Em um encontro por região, foram apresentados os principais desafios do CELAM para o próximo quatriênio, entre eles: a necessidade de se formar para espiritualidade da sinodalidade; o empenho com as pequenas comunidades; a esperança de que a nova presidência visite as Conferências Episcopais para escutar os bispos. Além disso, insistiram em confirmar sua esperança e, diante da crise do pensamento, continuar promovendo espaços de reflexão.
A assembleia também destacou a necessidade de difundir a Doutrina social da Igreja em todos os âmbitos e fortalecer a conversão missionária em todo o continente, procurando também oferecer a própria contribuição como Igreja no mundo da política; além disso, vivendo no CELAM o sentido da subsidiariedade, fortalecendo a regionalização como instrumento de encontro, reavaliando o batismo como sacramento fundamental e como base de uma Igreja sinodal.
São desafios que exigem projetos derivados das exigências das Conferências que buscam dar a conhecer o CELAM aos bispos recém-nomeados e fomentar o diálogo com o mundo sobre temas transversais, fortalecendo a piedade popular.
Outros elementos foram o estímulo da perspectiva sinodal eclesial do CELAM, a promoção de uma segunda Assembleia eclesial, o reforço da equipa de comunicação e a sua articulação com as Conferências episcopais.
A 39ª Assembleia Geral do CELAM em Porto Rico também escolheu seu novo presidente na pessoa de Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, recentemente eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Nascido em 6 de setembro de 1960 em Gaspar, no estado de Santa Catarina, Dom Spengler é membro da ordem dos frades franciscanos menores, como seu predecessor, Mons. Miguel Cabrejos.
Ao mesmo tempo, também foram eleitos os outros membros da presidência. Agora caberá a eles enfrentar os desafios assinalados na assembleia de Porto Rico. “O pouco que temos – afirmou Jaime Spengler em seu primeiro discurso como presidente do CELAM – o oferecemos ao nosso povo, à nossa gente, a Jesus e ao seu Evangelho”. E acrescentou: “Certamente há uma multidão lá fora que deseja uma palavra de fé, de esperança, uma multidão que não está conosco. Disso a necessidade sempre presente de ser uma Igreja em saída, uma Igreja missionária”.
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CELAM: balanço e novos horizontes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU