21 Março 2023
Durante uma recepção em uma embaixada há algumas noites, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle compartilhou sua experiência pessoal de trabalho na Cúria Romana.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 20-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em um recente encontro promovido pela Embaixada da França junto à Santa Sé, o cardeal Luis Antonio fez um relato refrescantemente sincero de seu trabalho dentro da Cúria Romana.
O filipino de 65 anos, que tem atuado como pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização pelos últimos três anos, foi convidado de honra na esplêndida sede da embaixada – Villa Bonaparte – para uma mesa redonda organizada pela Anak-Tnk, uma associação que tem ajudado crianças em Manila nos últimos 25 anos.
O cardeal, cujo dicastério vaticano é responsável pela Igreja Católica em terras missionárias, comparou seu tempo na capital filipina com seu cargo atual. Ele chegou a Roma no início de 2020, poucos dias antes da eclosão da pandemia da Covid-19.
“A experiência na Cúria Romana é... especial”, sorriu, ao comentar como são diferentes suas responsabilidades no Vaticano. “É um mundo único”.
O cardeal, que alguns citam como um potencial “papável” (candidato no próximo conclave), costuma ser bastante discreto sobre sua experiência pessoal. Mas quando perguntado sobre sua vida como padre e sobre sua experiência como pastor, ele respondeu: “Você se refere à dificuldade de sentir o cheiro das ovelhas? Sim, já pensei nisso”.
O “cheiro das ovelhas”, é claro, é uma das imagens favoritas do Papa Francisco para ilustrar como é vital que os padres estejam próximos de seu povo. “Só porque você vive no meio de seu povo não significa que você tem o cheiro das ovelhas. A proximidade física não é uma garantia disso”, apontou Tagle.
“Eu? Eu tento”, acrescentou. “Sou padre, bispo e cardeal... mas, na minha frente, está Jesus Cristo, e as pessoas me chamam de ‘eminência’. Mas, na verdade, sou uma das ovelhas.”
A revelação inesperada e sincera do cardeal reflete um desafio que muitas autoridades vaticanas enfrentam – como viver sua vocação como padres e estar mais conectados com os fiéis, enquanto seu papel se reduz a um trabalho de escritório.
Alguns optam por celebrar a missa aos domingos em uma paróquia romana, enquanto outros servem como capelães de associações de caridade. Isso é indispensável, dizem eles, para ajudá-los a manter o equilíbrio e não serem totalmente absorvidos pela máquina que é a Cúria.