20 Janeiro 2015
"Francisco está procurando encontrar os setores mais marginalizados da sociedade filipina e as autoridades, de sua parte, procuram ‘ocultá-las’ durante uma visita que coloca o país sob os refletores do mundo", escreve Francesco Peloso, em artigo publicado pelo jornal Secolo XIX, 17-01-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o artigo.
Na megalópole de Manila, 11 milhões de pessoas, há pobres, sem teto, vagabundos, desesperados de todo tipo e favelados. Esta humanidade sem esperança inclui, talvez, a categoria mais pobre e indefesa, aquela das crianças de rua. E, precisamente para encontrá-los ontem de manhã, o Papa realizou algo fora de programa, dirigindo-se de surpresa – mas, a um certo ponto, como veremos, - à sede de uma comunidade, Anak Tnk, que acolhe as crianças de rua e procura restituir-lhes afeto, um futuro.
A estrutura é dirigida por um jovem religioso francês, o padre Matthieu Dauchez. Mas, o fato é que na imprensa britânica tinha sido denunciada nos dias passados a escolha realizada pelas autoridades filipinas de ‘limpar’ as ruas da capital por ocasião da visita do Papa. Os rapazes e as crianças de rua desapareceram de circulação, encerrados em centros de detenção e recolhimento, submetidos a tratamentos não humanos. O presidente Benigno Aquino Junior, filho de Corazon, queria uma cidade ascética, mas o estilo de Francisco é diferente. Assim, Bergoglio foi até o padre Dauchez e abraçou as aproximadamente 300 crianças da comunidade que se comprimiram em torno dele, o abraçaram e acolheram calorosamente. “Hoje me comovi muitíssimo, após a missa – disse depois o Papa – quando visitei aquela casa de crianças sozinhas, sem família. Quanta gente trabalha na Igreja para que esta casa seja uma família. Isto significa levar em frente, profeticamente, o significado de uma família”.
De outro lado, atrás dos bastidores, a visita de surpresa tinha sido preparada há tempo. Em setembro, de fato, da comunidade Anak Tnk partira um convite ao Pontífice em vista de sua viagem às Filipinas. Depois tinha sido o cardeal Luis Tagle, arcebispo de Manila, um dos mais jovens do sacro colégio cardinalício, a transmitir o convite registrado num vídeo e acompanhado de bem mil cartas. Tagle levou tudo a Roma em outubro passado, por ocasião do sínodo, e Francisco não se esqueceu. Ao invés, a emoção depois foi forte entre os voluntários e os próprios meninos apertados em torno de Francisco. O padre Dauchez disse ao Papa: “estes meninos, pobres entre os pobres, são talvez as vítimas mais vulneráveis de nossa sociedade. Mas, continuamos a viver a alegria, como podeis ver, imediata, nestes seus rostos sorridentes”.
E, com efeito, trata-se de meninos de rua que conheceram as piores formas de violência e exploração: a mendicidade, a violência, a droga, a prostituição. Entre outras coisas, dois dos meninos de Anak Tnk darão testemunho diante do Papa, amanhã, por ocasião da reunião do Papa com os jovens. Comentando a visita extra-programa do Pontífice aos meninos de rua, o padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, explicou: “houve também outro pequeno encontro significativo com os meninos de rua, numa casa onde estão hospedados. E isto tocou o coração do Papa, embora não fosse um evento com grandes discursos, porém extremamente indicativo do seu amor pelos pobres e do seu encontro com os mais pobres dos pobres, que são de fato as crianças indefesas”.
O governo filipino por certo não deu o pulo de alegria por este ‘desvio’ do programa oficial da visita; aliás, em geral, Francisco está procurando encontrar os setores mais marginalizados da sociedade filipina e as autoridades, de sua parte, procuram ‘ocultá-las’ durante uma visita que coloca o país sob os refletores do mundo. Mas, Bergoglio, sob este perfil, foi direto: vim aqui para os pobres, havia anunciado, e cumpriu sua palavra. Depois, ontem, nos discursos oficiais, também acrescentou: “a corrupção tira recursos aos pobres”, e no setor autoridades não houve sorrisos.