Holocausto: as raízes não devem ser esquecidas

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27 Janeiro 2023

"Se é verdade que a culpa não é hereditária, resta o fato de que o mal praticado deixou vestígios profundos e que os sofrimentos padecidos pelos judeus nos anos de planejamento de seu extermínio na Europa ainda estão presentes em seus filhos e netos, que jamais poderão apagar o que seus pais e mães como judeus tiveram que sofrer na indiferença geral dos povos entre os quais viveram durante séculos", escreve Enzo Bianchi, monge italiano, em artigo publicado por Repubblica, 23-01-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Quem não sabe o que diz costuma usar a expressão: "Precisamos virar a página!".

Operação certamente necessária, mas que nunca implica, para o leitor que a realiza, esquecer o que leu nas páginas anteriores refletindo e interpretando seu significado.

Portanto, virar a página a respeito dos acontecimentos sintetizados sob o nome de Holocausto, da "catástrofe", não pode significar remover o passado e parar de lembrá-lo, não pode significar esquecer.

Se é verdade que a culpa não é hereditária, resta o fato de que o mal praticado deixou vestígios profundos e que os sofrimentos padecidos pelos judeus nos anos de planejamento de seu extermínio na Europa ainda estão presentes em seus filhos e netos, que jamais poderão apagar o que seus pais e mães como judeus tiveram que sofrer na indiferença geral dos povos entre os quais viveram durante séculos.

Hoje, setenta anos depois, as iniciativas para um maior conhecimento dos judeus, de sua relação gêmea com os cristãos, e para renovar a memória do Holocausto estão bem atestadas na Itália. E, no entanto, essa "catástrofe" corre o risco de se tornar uma simples narrativa, um evento a recordar entre muitos, e perder a sua especificidade: o planeamento de um extermínio não de inimigos, mas simplesmente de homens, mulheres e crianças apenas por serem judeus, que também nós na Itália aprendemos a odiar ao escolher não ver e não se revoltar diante de tanta barbárie.

Como deixar de admitir que nem mesmo os vértices da Igreja Católica tiveram a parresìa de defender os primeiros irmãos dos cristãos? E vamos parar de atribuir esse genocídio apenas ao Terceiro Reich, porque nós, italianos - isso também vale para os poloneses, croatas e ucranianos - colaboramos para que os judeus fossem perseguidos, capturados, exterminados.

Um antijudaísmo doutrinário, presente no cristianismo desde os pais da Igreja, insinuou-se profundamente nos cristãos, paralisando-os e tornando-os incapazes de discernir o "deicídio" que eles mesmos estavam praticando, porque matando Israel estavam matando o Deus da aliança: os cristãos, ao contrário, imputavam esse crime aos judeus! E como é triste ainda hoje constatar que o antijudaísmo continua presente nas homilias e nos comentários às Sagradas Escrituras. As polêmicas internas ao judaísmo do tempo de Jesus são exploradas, difamando os judeus crentes e deixando de realizar a necessária interpretação histórico-crítica dos textos.

Continuo convencido de que os católicos, ainda acirrados na apologia de sua fé em polêmica com os outros, ainda mordidos pela necessidade de julgar e condenar, não sejam capazes de reconhecer plenamente os judeus como irmãos gêmeos: gêmeos porque, como nós, gerados no mesmo tempo das próprias escrituras que chamamos de Antigo Testamento.

Certamente irmãos diferentes, com os quais há divergências e rupturas, mas que a espera poderia tornar convergentes: a espera do Reino de Deus, um reino de justiça e paz para todos.

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